Os áudios obtidos pela revista semanal de ultradireita Veja revelam uma conversa entre Mauro Cid e um amigo, na qual Cid afirma estar sendo pressionado a fazer certas alegações durante seu depoimento. Cid, no mesmo diálogo, teria feito acusações diretas à PF e ao ministro do STF Alexandre de Moraes.
Por Redação - de Brasília
Ex-ajudante de ordens do então mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid voltou a ser preso, nesta sexta-feira, após interrogatório promovido pela Polícia Federal (PF). Mais cedo, o diretor-geral da PF, delegado Andrei Passos Rodrigues, adiantou Cid será alvo de nova representação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). A ação ocorre em decorrência dos áudios em que o militar sugere ter sido coagido a dizer o que consta em sua delação premiada.
— Vimos com gravidade o que as falas acusam. Representamos ao STF para que ele esclareça, já que somos levianamente acusados. Ninguém acusará a PF e o STF dessa forma e ficará incólume — afirmou Andrei Passos, a jornalistas.
Os áudios obtidos pela revista semanal de ultradireita Veja revelam uma conversa entre Mauro Cid e um amigo, na qual Cid afirma estar sendo pressionado a fazer certas alegações durante seu depoimento. Cid, no mesmo diálogo, teria feito acusações diretas à PF e ao ministro do STF Alexandre de Moraes. O militar foi chamado, às pressas nesta manhã, para prestar esclarecimentos sobre as declarações.
Áudios
Cid começou a ser ouvido às 13h desta sexta-feira pelo juiz instrutor do caso para esclarecer o conteúdo dos áudios vazados em que diz haver uma “narrativa pronta” nas investigações em curso, no âmbito dos processos sobre o golpe de Estado fracassado no 8 de Janeiro.
A PF quer que Cid explique o “jogo duplo” apontado nos áudios vazados pela revista, na véspera. Segundo a reportagem, os áudios de Cid são de “uma conversa com um amigo”, em que o militar “desabafou por quase uma hora”. Para investigadores da PF ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil, em condição de anonimato, os áudios vazados seriam um recado de Cid a Bolsonaro.
Em uma feliz coincidência, os áudios recém-vazados coincidem com a estratégia de Bolsonaro, que desde que o acordo de delação foi firmado tem dito a interlocutores que o ex-ajudante sofreu uma pressão emocional para falar sobre as investigações.
Estratégia
— Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: ‘Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só essa brincadeira são 30 anos para você’ — afirma Cid, em uma das gravações.
E reitera:
— Eu vou dizer o que eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem.
Seguindo à risca a estratégia bolsonarista, o ex-ajudante de ordens do mandatário neofascista passa a atacar o ministro Alexandre de Moraes.
— Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação — continuou.
Carreira
Aparentemente inconformado com seu destino, Cid também reclama que sua carreira foi completamente destruída por Jair Bolsonaro, embora o tenha servido fielmente, ao longo do mandato presidencial.
— Quem mais se f… fui eu, quem mais perdeu coisa fui eu. Pega todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve PIX de milhões, ficou milionário. Está todo mundo aí. Pra quem é político é até bom essas p… porque depois ele consegue se eleger fácil. O único que teve pai, filha e esposa envolvidos; o único que perdeu a carreira; o único que perdeu a vida financeira, toda f…, fui eu — resumiu.