Rio de Janeiro, 14 de Outubro de 2024

Em um mundo povoado de crimes, cabe indagar para onde vamos

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Terça, 24 de Setembro de 2024 às 10:44, por: CdB

Israel ataca o Líbano sem que a comunidade internacional consiga se mover para impedir mais esse genocídio, que se soma ao de Gaza.

Por Milton Rondó – de Brasília

“O novo colonialismo assume variadas fisionomias. Às vezes, é o poder econômico do ídolo dinheiro: corporações, credores, alguns tratados denominados ‘de livre comércio’ e a imposição de medidas de ‘austeridade’ que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres”, papa Francisco.

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Líbano registra 492 mortos em ataques israelenses no sul e no leste, 35 deles crianças, em 23 de setembro de 2024

O colonialismo mudou sua face, atualmente ataca os países do Sul via capital financeiro, que se apropria das riquezas do Sul, por meio do controle das empresas locais de mineração, telecomunicações, infraestrutura etc.

O golpe de 2016 no Brasil é um exemplo claro disso: por meio dele, a Petrobras foi fatiada, perdendo refinarias, gasodutos e toda a distribuição do varejo, com a privatização da BR Distribuidora, crimes esses pelos quais Bolsonaro e Guedes deveriam, evidentemente, responder na Justiça.

Em um mundo povoado de crimes, cabe indagar para onde vamos.

O Estado terrorista de Israel ataca o Líbano, sem que a comunidade internacional consiga se mover para impedir mais esse genocídio, que se soma ao de Gaza.

A Otan tenta conter a política externa da Rússia, por meio da guerra, mas as buchas de canhão são os jovens ucranianos e russos.

Na verdade, o que o Ocidente quer disputar é a continuação de seu domínio sobre a África, principalmente, onde a presença russa é cada dia maior, deslocando as antigas potências coloniais, como aconteceu no Mali, no Níger e em Burkina Fasso, nos quais as bases francesas foram fechadas e seus militares gentilmente convidados a retornar à metrópole.

No Brasil, florestas são queimadas por um agro suicida, que se crê dono do meio ambiente.

São basicamente homens brancos extremamente violentos, a ponto de o Brasil ser o país mais autoritário do mundo: a maior concentração de renda; uma das maiores taxas de feminicídios e violência contra as mulheres (47% das mulheres nordestinas declararam ter sofrido algum tipo de violência); e o país que mais assassina a população LGBTQIA+.

Evidentemente, são capitalistas que não conhecem ética, moral ou direitos humanos.

Portanto, a única coisa que pode contê-los, como toda máfia, é fechar a torneira dos recursos.

Por isso, é essencial que os importadores façam o rastreio para saber se a carne, a soja ou o açúcar que importam não vêm de zonas desmatadas.

Idealmente, por meio de acordos comerciais que contenham essa cláusula de rastreabilidade.

Vale notar que o ódio daqueles senhores, supostamente machos héteros (com suas músicas de dor de corno), desencadeia-se sobretudo contra “a floresta das Amazonas”…

Explicamos para eles esse simbolismo ou será necessário desenhar? Talvez tenhamos de optar por esta última via, tendo em vista que Jung não leram, nem lerão…

Uma pena, pois o pai da psicologia analítica teria muito a lhes dizer sobre os recalques que nos fazem atacar o que inconscientemente identificamos como nossas fragilidades, inclusive sexuais.

Mas o psicanalista suíço também poderia nos lembrar que os sonhos são prospectivos, à sua maneira. Assim, devem ser encarados como um guia que nos ilumine os caminhos, para que possamos não nos perder na floresta e sem tentar destruí-la, por medo disso.

França e Alemanha

Nesse sentido, que triste países como França e Alemanha buscarem soluções no lamaçal (ou “lamarçal”, na tradução paulistana) da extrema-direita, que levara ambos os povos ao genocídio de sua melhor população, além da carnificina de 6 milhões de judeus e 30, de russos.

O governo recém-nomeado no Hexágono é mais de direita do que o anterior, embora as eleições tenham sido vencidas… pela esquerda…

Ou seja, um golpe de Estado em uma nação que se queria modelo de democracia e pátria dos direitos humanos…

O novo gabinete claramente contou com o “placet” da extrema-direita gaulesa, que, similarmente na Alemanha, já é a segunda força política no país.

Convém mencionar, por sua vez, que nas eleições realizadas no último fim de semana, na Alemanha, a extrema-direita chegou em segundo lugar, com diferença ínfima do primeiro colocado, o SPD. Na Turíngia, porém, havia chegado em primeiro lugar.

Gays, negros, muçulmanos, entre outros, aqueles, definitivamente, não devem ser destinos turísticos…

Vale recordar que a extrema-direita é desprovida de ética ou moral: só o bolso contando.

Na coletânea Cruzar fronteiras, uma urgência para a ética teológica (editora Santuário), Élio Gasda, no artigo Cruzar fronteiras conceituais para a superação do sistema do capita“, recorda o que por vezes se tenta escamotear:

“O capital não inventou o Estado. O Estado foi constituído no decurso de muitos séculos. Em sua configuração atual, ele é determinado pelo sistema do capital. Estados europeus financiaram a expansão dos mercados através da invasão e conquista de novos territórios. O tráfico de seres humanos para fins de comercialização e escravização foi legitimado pelo Estado. O Estado criou as leis, garantiu incentivos financeiros e apoio militar. A escravidão está na gênese dos Estados nacionais e da economia moderna”.

O autor complementa essa reflexão e cita o Sumo Pontífice:

“Capital não tem pátria. Sua expansão começa por controlar os Estados. Repressão interna e guerra internacional são estratégias políticas de conquista. Guerra é uma fonte de capital. ‘Estamos vivendo a terceira guerra mundial, mas em cotas. Há sistemas econômicos que, para sobreviver, devem fazer a guerra. Então fabricam e vendem armas e, com isso, os balanços da economia que sacrificam o homem aos pés do ídolo dinheiro, obviamente, ficam saneados (papa Francisco)”.

Entretanto, vemos a pequena e valente Martinica, nossa vizinha no Caribe, lutando contra a exploração colonial francesa; lembramos nossas raízes africanas comuns e, então, a esperança não falta, mesmo em meio ao caos do capitalismo internacional.

 

Milton Rondó, é diplomata aposentado.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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