Rio de Janeiro, 20 de Setembro de 2024

Bolsonaro recebia informes da 'Abin paralela', segundo a PF

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Sexta, 02 de Fevereiro de 2024 às 18:46, por: CdB

As provas conseguidas até agora indicam que documentos e dossiês produzidos pela chamada ‘Abin paralela’ eram impressos e entregues diretamente ao Palácio do Planalto durante o período da presidência de Bolsonaro.


Por Redação - de Brasília

A Polícia Federal (PF) teria encontrado indícios que sugerem a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no uso de informações provenientes de um esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) conhecido como ‘Abin paralela’, durante a gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem, hoje deputado federal. Os elementos foram apresentados à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), marcando um novo capítulo nas investigações em andamento.

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O delegado Ramagem seria o chefe da 'Abin paralela' criada no governo Bolsonaro


As provas conseguidas até agora indicam que documentos e dossiês produzidos pela chamada ‘Abin paralela’ eram impressos e entregues diretamente ao Palácio do Planalto durante o período da presidência de Bolsonaro. A descoberta lança luz sobre a possível utilização política e ilegal dos serviços de inteligência do país.

A investigação da PF aponta que, em fevereiro de 2020, Alexandre Ramagem teria impresso duas listas de inquéritos eleitorais em tramitação na PF do Rio de Janeiro. Essas listas, consideradas sigilosas, reforçam as suspeitas de interferência indevida por parte de Bolsonaro na Superintendência da PF do Rio durante o mesmo período. Os investigadores agora se concentram em identificar a origem dessas informações, analisando os acessos ao sistema da Polícia Federal.

 

Interesses


O episódio coincide, ainda, com a intensificação do uso do sistema de monitoramento First Mile pela Abin durante as eleições de 2020. Com metade das 60 mil consultas ao sistema ocorrendo nesse período, a investigação sugere uma instrumentalização da Abin para fins eleitorais, alinhados aos interesses do núcleo político.

A descoberta de dossiês impressos em buscas e apreensões, abordando temas como o assassinato de Marielle Franco, levanta a possibilidade de que tais materiais eram produzidos para serem destinados a receptores externos à Abin, possivelmente no Palácio do Planalto.

A PF também investiga se o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, tinha conhecimento e autorizou as operações de espionagem ilegal conduzidas por Ramagem. Nesse contexto, o general foi intimado para prestar depoimento, ampliando a rede de investigações sobre as possíveis conexões de altos escalões do governo na trama golpista.

 

A Abin


A Abin é a instância principal do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e tem como função conceder informações estratégicas e confiáveis ao Palácio do Planalto. Os informes são enviados ao Poder Executivo através de relatórios, com a finalidade de evitar possíveis ameaças ao Estado Democrático de Direito e à soberania nacional.

As atribuições da agência são produzir relatórios sobre ameaças como defesa das fronteiras nacionais, proliferação de armas de destruição em massa, políticas externas, segurança das comunicações governamentais, combate ao terrorismo e antiespionagem.

A Abin tem controle direto do governo federal e, até março deste ano, estava no escopo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Em uma estratégia do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de desmilitarizar a agência, após o fracasso na antecipação e monitoramento das invasões do dia 8 de janeiro, ela foi transferida para a Casa Civil da Presidência da República, que é liderada pelo ministro Rui Costa.

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