Com apenas uma base mínima de votos, no Congresso e o declínio acelerado junto à opinião pública, o capitão excluído da caserna esticou ainda mais a corda.
Por Redação - de Brasília
As dificuldades que a tramitação da reforma previdenciária encontra no Parlamento tendem a aumentar, com a elevação no tom das agressões mútuas entre os presidentes da República, Jair Bolsonaro (PSL), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A “briga de rua” a que se referia o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, teve mais um round nesta quarta-feira.
Com apenas uma base mínima de votos, no Congresso e o declínio acelerado junto à opinião pública, o capitão excluído da caserna esticou ainda mais a corda, na noite passada, ao afirmar a um grupo de empresários que não pretende “jogar dominó com o Lula e Temer, no xadrez”. Ele se referia à necessidade de articulação do Planalto junto aos parlamentares.
No Chile
A simples prática da negociação política, para Bolsonaro, equivale ao conjunto das transações corruptas ocorridas ao longo da História republicana, inclusive durante o período ditatorial, o que ele imagina ser possível evitar indo ao cinema, com a mulher, em horário de expediente. Na véspera, enquanto a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ardia com a ausência do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente assistia ao filme Superação: o milagre da fé.
Cada vez mais distante de uma decisão sobre a questão da Previdência, ainda neste semestre, cresce junto a investidores a aposta quase unânime de que alguma reforma será aprovada, mas competirá ao governo definir quão efetivo será esse esforço para a retirada de direitos dos trabalhadores.
Em sua recente estada no Chile, onde ouviu do presidente Sebastián Piñera que algumas de suas declarações sobre a ditadura do general Augusto Pinochet foram absolutamente “infelizes”, Bolsonaro chegou a perguntar:
— O que é articulação? O que está faltando eu fazer? O que foi feito no passado? Eu não seguirei o mesmo destino de ex-presidentes, pode ter certeza disso.
Resposta
Com a redução do parlamento ao nível de reles batedores de carteira, o confronto com o presidente da Câmara estava selado. Após a repercussão destas declarações e a reação pesada de Maia, o mandatário tentou voltar atrás e disse estar "aberto ao diálogo”. Em tom de faz de conta, chegou a dizer que desconhecia o motivo pelo qual o deputado estaria tão aborrecido.
— Quero saber o motivo que ele está saindo (da articulação política). Estou sempre aberto ao diálogo. Estou fora do Brasil. Quero saber o motivo, só isso e mais nada. Eu não dei motivo para ele sair — disse Bolsonaro após deixar o Palácio de La Moneda, sede do governo chileno, bombardeado pela ditadura de Pinochet.
A resposta lhe chegou na noite passada, após a Câmara retaliar o governo com a aprovação, por 448 votos a 3, do texto-base da proposta de emenda à Constituição (PEC) que obriga o Executivo a realizar todos os investimentos previstos no Orçamento; o que restringe o poder do Planalto para manobrar os recursos conforme julgar necessário.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a afirmar, em entrevista durante o final de semana, que trabalhava para aprovar no Senado a chamada PEC do pacto federativo, que prevê exatamente o contrário do que aprovaram os deputados.