‘Armação de Moro’, conforme Lula denuncia, ganha consistência

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Publicado Sábado, 25 de Março de 2023 às 11:26, por: CdB

Na véspera, após a repercussão das declarações de Lula, a Justiça Federal do Paraná informou que o pedido para a retirada do sigilo da operação contra as possíveis ameaças do Primeiro Comando da Capital (PCC) partiu do delegado da Polícia Federal (PF) responsável pelo caso.


Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro

Um novo desdobramento do inquérito da Polícia Federal (PF) referente ao suposto plano de sequestro e morte do ex-juiz incompetente e parcial Sérgio Moro, hoje senador da República pelo Paraná na sigla do União Brasil (UB), de extrema direita, coloca os fatos na direção apontada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de que tudo não passa de uma farsa. Lula teria recebido informações ainda imprecisas sobre a “armação” de Moro.

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O delegado federal Bottaro Purper também chefiou o rumoroso caso da suposta facada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PF)


— É visível que é uma armação do Moro, mas eu vou pesquisar e vou saber o porquê da sentença. Até fiquei sabendo que a juíza (Gabriela Hardt) não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele, mas isso a gente vai esperar. Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Eu acho que é mais uma armação e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Aí eu não sei o que ele vai fazer da vida, se ele continuar mentindo do jeito que está mentindo — afirmou Lula na quarta-feira, durante visita a instalações navais, no Rio de Janeiro.

Na véspera, após a repercussão das declarações de Lula, a Justiça Federal do Paraná informou que o pedido para a retirada do sigilo da operação contra as possíveis ameaças do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que pretensamente teria tramado a morte de servidores públicos e autoridades, partiu do delegado da Polícia Federal (PF) responsável pelo caso.

Sigilo


Ainda que, a pedido da juíza Hardt, titular da Nona Vara Federal de Curitiba em substituição a Moro, não se tenha revelado o nome da autoridade policial responsável pelo processo, coube ao delegado federal Martin Bottaro Purper os pedidos de prisão preventiva levados a termo, ao longo desta semana. Bottaro também foi responsável pelos dois inquéritos que apuraram o possível ataque a faca de Adélio Bispo de Oliveira contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2018.

Ainda na nota, a Justiça diz que a juíza Hardt não concordou com a quebra integral do sigilo da operação por suspeitar que a publicidade total traria riscos às vítimas e aos investigados. Ela determinou, então, apenas o sigilo parcial. Segundo a Justiça, o pedido do delegado foi feito às 14h da última quinta-feira, mas não disponibilizou o conteúdo do requerimento.

“A retirada do sigilo do processo foi um pedido do delegado que conduz as investigações, protocolado nos autos às 14h de ontem (23 de março). Contudo, por cautela, a juíza federal designada para atuar no caso, entendeu melhor manter o nível de sigilo 1, por segurança dos investigados e vítimas, autorizando a divulgação apenas das representações policiais e das decisões que autorizaram as prisões e as buscas, bem como o termo de audiência de custódia”, diz a íntegra da nota.

Paixão


Ato seguinte, já neste sábado, Gabriela Hardt autorizou a soltura de Aline de Lima Paixão, que teria participado do hipotético plano do PCC. Paixão foi presa na última quarta-feira, durante a operação da PF, e está monitorada com tornozeleira eletrônica. A magistrada justificou a soltura por Aline ter filhos menores de 12 anos, conforme orienta o Supremo Tribunal Federal (STF).

Na denúncia do delegado Bottaro Purper, a PF detalha em 83 páginas o possível plano do PCC de assassinar Moro. O documento sugere que a facção criminosa teria montado uma estrutura sofisticada para atingir o objetivo, com investimento maciço nos participantes da trama divulgada. Imóveis, carros e armamentos são listados entre benefícios concedidos aos bandidos.

A investigação teve início depois de uma testemunha procurar o Ministério Público Federal (MPF) e alegar que havia um plano de atentado contra Moro. Essas informações levaram à instauração de um inquérito policial, que teria o objetivo de aprofundar a investigação, mas em condições tão dúbias que o presidente Lula vocalizou a desconfiança de outras fontes quanto à veracidade dos fatos.

Tudo muito estranho


Para o jornalista Fred Santana, editor do site amazonense de análises e notícias vocativo.com no comentário publicado nesta manhã, em uma rede social, “essa história é muito estranha”.

“Para começar, não faz absolutamente nenhum sentido que um plano de atentado contra Sérgio Moro aconteça três anos depois dele deixar a pasta do Ministério da Justiça. Se alguma retaliação pudesse acontecer, ela viria imediatamente após alguma medida sua contra o PCC. Em cidades onde o crime organizado atua com mais força, como Manaus e Rio de Janeiro, por exemplo, as reações contra transferência de lideranças ou morte de membros é imediata, como nos ataques de junho de 2021 contra a Capital amazonense”, opina.

Santana observa, ainda, que segundo o ministro Flávio Dino, “as investigações começaram há 45 dias, ou seja, com os ataques de 08 de Janeiro ainda em plena efervescência, após ele ter sido avisado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que criminosos estariam planejando atentados violentos contra autoridades”.

Extrema direita


“Ora, se foi o presidente do Senado quem recebeu a denúncia, ela muito provavelmente partiu de uma fonte anônima. Até onde se sabe, Pacheco não conta com nenhum escritório de inteligência ou espionagem a seu serviço. Sendo assim, a fonte dessa informação é crucial para entender o caso, visto que ela poderia ser qualquer pessoa”, pontua o jornalista.

Ainda de acordo com o editor, “outro elemento a ser pensado é o momento no qual a denúncia partiu, ou seja, 10 de fevereiro, quando a configuração do novo governo ainda estava acontecendo, especialmente na Polícia Federal. Sim, é preciso levar em consideração a hipótese de que tudo isso seja armação interna de bolsonaristas (que possuem presença marcante nas forças policiais do país) para tumultuar a opinião pública”.

Conforme avalia Santana, “é preciso entender uma coisa: a extrema direita veio pra ficar. E atuará ativamente, usando todos os recursos que tiver, para derrubar o governo eleito”.

Tacla Duran


Também jornalista, Tulio Norte escreveu neste sábado em uma rede social, referendado pelo membro do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa Laurindo Lalo Leal Filho, que Moro nem tem o crédito que tenta transparecer, a ponto de criticar Lula pela desconfiança quanto aos seus objetivos, uma vez que será denunciado nesta segunda-feira pelo advogado Tacla Duran por corrupção ativa. Uma cortina de fumaça pesada como essa do PCC viria bem a calhar.

Norte lembra ainda que Moro somente poderia garantir a prisão de Lula, “se (o ministro do STF) Teori Zavascki saísse de cena”. Teori, continua o articulista, “era crítico da (Operação) Lava Jato. Ele poderia reconhecer a inocência de Lula, mas sofreu o único 'acidente' de avião em 2017”.

“O delegado da PF que investigava a morte de Teori foi assassinado por um frequentador do Clube de Tiro 38, o mesmo clube que os Bolsonaro frequentam. E Adélio (Bispo), autor da (suposta) facada (em Jair Bolsonaro), foi a esse mesmo Clube no mesmo dia em que Carlos Bolsonaro”.

Milicianos


O jornalista anotou também que “Adélio estava desempregado, mas teve dinheiro para pagar R$ 600 por uma hora no Clube, para ficar hospedado por vários dias em Florianópolis, viajar para Juiz de Fora e também pagar R$ 400 em dinheiro vivo para se hospedar numa pensão. Após estar no mesmo local em que Adélio, Carlos Bolsonaro também foi para Juiz de Fora (MG) acompanhar uma passeata do pai, coisa que ele nunca fazia. Uma semana depois, a dona da pensão morreu e também um outro antigo hóspede foi encontrado morto.

“O assassino da (ex-vereadora) Marielle (Franco - PSOL) é vizinho de Bolsonaro, na Barra. Os filhos de Bolsonaro já prestaram inúmeras homenagens a policiais milicianos, condenados pela Justiça, acusados de matarem a juíza Patricia Acioli, em São Gonçalo, que era rigorosa com a milícia. A família Bolsonaro contratou vários desses milicianos e seus familiares como assessores”, acrescenta.

Tulio Norte não deixa passar, ainda, que “Moro prende Lula com condenação em segunda instância (inconstitucional), em acordo com os desembargadores do TRF4, em tempo recorde, e sem provas, inviabilizando a sua candidatura. A prisão é ilegal, mas Moro atropela a Constituição e faz valer o interesse político”.

E a seis dias do segundo turno das eleições, “Moro divulga o conteúdo de parte da delação de Palocci, que foi desprezada pelo MP por falta de consistência e provas, com acusações contra Lula, interferindo no andamento da eleições”. Moro torna-se Ministro do governo Bolsonaro, com quem se desentende durante um curto período para voltar ao convívio na última campanha presidencial.

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