Temer e Bolsonaro serviram de ‘laranjas’ ao mercado financeiro

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Publicado Segunda, 17 de Abril de 2023 às 11:53, por: CdB

Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS, Paulo Peres define o período pós-Dilma como de “destruição lucrativa”. Mas de destruição para muitos e lucrativa para poucos.


Por Redação, com BdF - de Porto Alegre

Nesta segunda-feira, aniversaria aquela espalhafatosa sessão da Câmara dos Deputados que a imprensa estrangeira chegou a definir como “um carnaval”. Sete anos atrás, uma maioria conservadora aprovou a admissibilidade do processo de impedimento contra Dilma Rousseff sem que a presidenta deposta houvesse cometido um crime sequer, menos ainda de responsabilidade.

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O cientista político Paulo Peres faz uma análise do período pós-golpe de 2016


Para a oposição, o afastamento de Dilma promoveria a inauguração de uma nova era de prosperidade para o país, lançando os alicerces de “uma ponte para o futuro”. O site de notícias Brasil de Fato (BdF), então, pediu ao cientista político Paulo Sergio Peres sua avaliação sobre o estado atual daquele futuro prometido em 2016.

Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele define o período pós-Dilma como de “destruição lucrativa”. Mas de destruição para muitos e lucrativa para poucos. Repara que, numa reprise da História com outros atores, Temer e Bolsonaro foram os “laranjas” de uma aliança que já havia protagonizado o golpe de 1964.

— Sem dúvida, o Brasil piorou. Antes disso, já estávamos numa situação econômica difícil, que foi sensivelmente agravada com a conjunção de três fatores que compuseram um cenário desolador para o trabalho, o crescimento econômico e o custo de vida: governo Temer, governo Bolsonaro e a pandemia. Some-se a isto a perda de direitos sociais importantes imposta pelas reformas promovidas por Temer e as políticas de “terra arrasada” levadas a cabo por Bolsonaro em praticamente todas as esferas de atuação do Estado. Drásticos retrocessos na área ambiental, desmonte e, ao mesmo tempo, aparelhamento estatal; além disso, tivemos um desastre nas áreas da educação, da cultura e da ciência e tecnologia — disse Peres.

‘Laranjas’


Ainda segundo o professor, “também, privatizações atabalhoadas e contra os interesses estratégicos do país; omissões nas políticas de saúde, especialmente no enfrentamento da covid-19, que contribuíram para o elevado número de vítimas fatais e a disseminação de desinformação a respeito da doença, da vacinação e das medidas de tratamento. Ainda, o clima de polarização radicalizada que o grupo bolsonarista instalou no país, com incentivos à violência, ao culto das armas, à discriminação e à eliminação das oposições”.

— Temer e Bolsonaro foram os “laranjas” na retomada do poder de uma aliança que já havia protagonizado o golpe de 1964. De um lado, os mercadistas, interessados na rapinagem dos recursos públicos; de outro, os militares, interessados em se manterem como o “Quarto Poder” da República e, claro, como sócios minoritários que são, sempre ávidos pelos ganhos indiretos da rapinagem e do aparelhamento do Estado — acrescentou.

Peres pontua, ainda, que “esse projeto de ‘destruição lucrativa’ – também conhecido como ‘Ponte para o futuro’ – tinha de ser viabilizado mantendo-se intacta a fachada da democracia. Para isso, era indispensável a chancela eleitoral; aí surgiu a oportunidade para que outro grupo social aderisse à aliança: os moralistas. Em nome da família e dos valores tradicionais, conservadores e reacionários juntaram-se na “guerra santa” contra o comunismo, a esquerda, o PT, o identitarismo, a “ideologia de gênero” e diversos outros fantasmas. Igrejas e pastores colaboraram para que essa aliança fosse selada, como em 1964 — concluiu.

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