Stédile: governos do PT erraram feio ao flertar com as forças neofascistas

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Publicado Quarta, 21 de Novembro de 2018 às 13:35, por: CdB

Segundo o líder sem-terra João Pedro Stédile, “os governos Lula e Dilma cometeram muitos erros. Claro, tiveram muitos acertos. Mas cometeram erros em vários aspectos”.

 
Por Redação - do Rio de Janeiro
  Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o economista João Pedro Stédile aponta a nomeação, ainda no governo da presidenta deposta Dilma Rousseff (PT), do ultraconservador Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. O flerte com as forças neofascistas, que conseguiram eleger o presidente Jair Bolsonaro (PSL) custou caro aos movimentos progressistas brasileiros, como um todo.
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Líder do MST e um dos principais aliados dos governos petistas, João Pedro Stédile aponta erros graves na condução política do partido
Em entrevista ao site da revista Carta Capital, nesta quarta-feira, Stédile aponta, ainda, a falta de uma educação cidadã e a não democratização dos meios de comunicação como os erros mais graves cometidos pelas administrações do partido, ao longo de 15 anos. Escárnio No diálogo com os jornalistas da Carta Capital, o militante sem-terra também disse que a nomeação do ex-juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça e Segurança Pública é, antes de tudo, um escárnio. — É um tapa na cara, não do povo, mas do Poder Judiciário — afirmou. Ainda segundo Stédile, “os governos Lula e Dilma cometeram muitos erros. Claro, tiveram muitos acertos. Mas cometeram erros em vários aspectos”. — Primeiro, para mim determinante: Dilma não soube interpretar as consequências da crise econômica a partir de 2012. Desde então, a economia não cresce. Em vez de elaborar um plano econômico para salvar o povo, os trabalhadores, a Dilma convidou o Joaquim Levy, que sempre foi o homem de confiança do sistema financeiro, para ministro da Fazenda. A política econômica do governo Dilma foi um desastre.

Mídia conservadora

De acordo com o líder de um dos movimentos sociais mais atuantes no país, “o segundo erro foi o PT não ter estimulado uma educação cidadã para as classes mais pobres”. — (Foi) não ter apostado no debate para elevar o nível de conhecimento político e cultural — acrescentou. Na opinião de Stédile, o terceiro dos governos petistas “foi não ter democratizado os meios de comunicação”. — Imagine se distribuem todos os recursos aplicados na Rede Globo para milhares de rádios comerciais ou comunitárias e jornais do interior do Brasil? É o que chamo de democratização das fontes de informações, para justamente estimular o que acabei de falar, a educação cidadã — adiciona.

Classe trabalhadora

Ainda na entrevista, Stédile considera a nomeação de Moro, “antes de tudo, um escárnio”. — É um tapa na cara, não do povo, mas do Poder Judiciário. Havia uma série de denúncias, inclusive de juristas renomados, de que tudo não passava de uma perseguição a Lula. Na verdade, Moro só cumpriu um script, que foi evitar a candidatura do ex-presidente. Como cumpriu a missão, agora recebe um prêmio. Em qualquer país democrático, diante de um fato como esse, os integrantes do Poder Judiciário pediriam demissão coletiva ou a demissão do ministro. Ainda espero ver o STF criar vergonha e respeitar a Constituição. Não em relação ao Lula, pois ele serviu de instrumento. Quem está preso não é mais um indivíduo, mas uma ideia, a classe trabalhadora — protestou.
Leia, adiante, os principais trechos da entrevista à Carta Capital:
 Um dos pilares da campanha de Bolsonaro é a proposta de liberação das armas. O senhor teme um aumento da violência no campo?
— O discurso do ódio e em favor do armamento é uma retórica para dar coesão ao grupo do candidato. Nós, do MST, e acredito que também o MTST, deixamos claro à sociedade que somos movimentos pacíficos. O MST está há 34 anos na luta, a sociedade nos conhece. Nossa forma de defesa para evitar a violência é sempre atuarmos com muita gente. As massas se protegem. Por mais que o discurso seja raivoso, não acredito que a violência vai se propagar no campo. Ainda que seja preciso redobrar os cuidados, pois a repressão virá menos do aparato estatal e mais dos grupos que elegeram o Bolsonaro.
— Que grupos seriam estes? A UDR?
— Ou pistoleiros. Ou então algo parecido com o que tem acontecido no Sul de Minas Gerais. Um juizinho se arvora no direito de dar uma ordem de despejo para um grupo de 450 famílias que está há 20 anos em uma área em litígio. Essas famílias construíram suas vidas nesse local e certamente vão reagir. Isso pode gerar um conflito. Há forças na sociedade para reagir. Neste caso de Minas, o Ministério Público estadual, por meio de diversos procuradores, fez um abaixo-assinado entregue ao Tribunal de Justiça contra a medida.
— Com a escolha do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça, como o senhor avalia a situação do ex-presidente Lula?
— A nomeação do Moro é, antes de tudo, um escárnio. É um tapa na cara, não do povo, mas do Poder Judiciário. Havia uma série de denúncias, inclusive de juristas renomados, de que tudo não passava de uma perseguição a Lula. Na verdade, Moro só cumpriu um script, que foi evitar a candidatura do ex-presidente. Como cumpriu a missão, agora recebe um prêmio. Em qualquer país democrático, diante de um fato como esse, os integrantes do Poder Judiciário pediriam demissão coletiva ou a demissão do ministro. Ainda espero ver o STF criar vergonha e respeitar a Constituição. Não em relação ao Lula, pois ele serviu de instrumento. Quem está preso não é mais um indivíduo, mas uma ideia, a classe trabalhadora.
— O senhor teme a possibilidade de um novo golpe militar, caso Bolsonaro fracasse?
— Como disse várias vezes o general Eduardo Villas-Bôas, nos últimos dois anos corremos o risco de um golpe militar. Alguns estimulados pelo próprio Mourão, agora vice-presidente. O primeiro quando veio à tona os escândalos de Michel Temer. O segundo, quando Villas Bôas deu a atender que as Forças Armadas não aceitariam a candidatura de Lula. Não há, porém, mais espaços para golpes militares clássicos. Aliás, recomendo a leitura do livro Guerras Híbridas, no qual o autor demonstra que, em vez de mísseis, balas e tanques, a estratégia passou a ser a da ciberguerra, com notícias falsas, diplomacia e intervenção externa. Tal qual se deu aqui — conclui.
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