Mourão debocha da tortura praticada nos porões da ditadura militar

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Publicado Segunda, 18 de Abril de 2022 às 14:34, por: CdB

Esta, no entanto, não é a primeira vez que o vice-presidente defendeu o golpe de Estado de 1964 e a ditadura militar dos 21 anos seguintes. Nesta segunda, ele afirmou que a História "tem dois lados" e que nesse caso houve uma "luta" contra o governo por parte de "organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado".

Por Redação - de Brasília
Vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão ironizou nesta segunda-feira a possibilidade de uma investigação sobre os áudios de sessões do Superior Tribunal Militar (STM) em que ministros da Corte admitem a prática de tortura. Mourão disse que "os caras já morreram tudo" e questionou se iriam "trazer os caras do túmulo de volta".
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Mourão saiu em defesa dos militares que praticaram a tortura, durante o regime militar
— Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras do túmulo de volta? — disse Mourão, debochado, na chegada ao Palácio do Planalto. Gravações foram divulgadas pela colunista do diário conservador carioca O Globo Miriam Leitão, que teve acesso ao conteúdo que vem sendo estudado pelo historiador da UFRJ Carlos Fico. Nas sessões, abertas e secretas, os ministros militares e civis tecem comentários sobre casos de tortura que ocorreram durante a ditadura. O historiador teve acesso aos áudios de sessões do STM entre 1975 e 1985.

Excessos

General da reserva do Exército, Mourão afirmou que esse assunto é "passado". — Isso já passou. É a mesma coisa que a gente voltar para a ditadura do Getúlio. São assuntos já escritos em livros, debatidos. É passado, faz parte da História do país — acrescentou. Esta, no entanto, não é a primeira vez que o vice-presidente defendeu o golpe de Estado de 1964 e a ditadura militar dos 21 anos seguintes. Nesta segunda, ele afirmou que a História "tem dois lados" e que nesse caso houve uma "luta" contra o governo por parte de "organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado", e disse que "houve excesso de parte a parte". — É lógico, você tem que conhecer a História. A História, ela sempre tem dois lados ao ser contada. Então vamos lembrar: aqui houve uma luta, dentro do país, contra o Estado brasileiro, por organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado. Era um regime que na época atraía, vamos dizer assim, uma quantidade grande da juventude brasileira e também parcela aí da sociedade, mas que perderam essa luta. Ah, houve excessos? Houve excesso de parte a parte — diz ele.

Vítimas

Após revelar em artigo n’O Globo a existência de uma série de áudios que comprovam a prática de tortura contra presos políticos durante a ditadura militar, Miriam Leitão disse, nesta segunda-feira, ser importante divulgar o material para que os crimes cometidos durante o regime militar não voltem a acontecer. Miriam Leitão foi uma das vítimas da ditadura e foi torturada. Recentemente, a jornalista foi atacada, publicamente, pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), conhecido pelo apelido de ’02’, que debochou da tortura sofrida pela prisioneira política, em sessão que contou até mesmo com a utilização de uma cobra. A jornalista disse ser "difícil" ouvir os áudios que mostram as vítimas da ditadura denunciando ao próprio Superior Tribunal Militar (STM) a prática de tortura. — É difícil sim. Por outro lado, meu caso é até leve perto de tudo que aconteceu. Você viu a história da Nádia, que foi torturada de uma forma tão violenta que perdeu o filho. Foram inúmeros casos de aborto de mulheres grávidas. Tudo isso é importante ser contado para ficar registrado para a história, e para que não aconteça mais — relatou.

Atrocidades

A divulgação de áudios inéditos que comprovam que o Superior Tribunal Militar (STM) sabia da tortura a mulheres grávidas durante a ditadura foi motivada pelo ataque do deputado Eduardo Bolsonaro a Miriam Leitão. O material está sendo compilado pelo historiador e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico, que explicou ao jornal popular carioca Extra, o motivo de tornar público os áudios. — É importante que o estado e que as autoridades se manifestem sempre em defesa dos direitos humanos, e é o que a gente não tem desde a eleição do atual presidente. É preciso sempre, permanentemente, defender os direitos humanos, coisa que o governo Bolsonaro não faz. Em todos os governos, mesmo os mais conservadores, como Collor e Sarney, mais ao centro como o FHC e à esquerda com Lula, todos defenderam os direitos humanos. Tem o ineditismo do governo Bolsonaro, que é péssimo para sociedade porque afloram esses sentimentos de negacionismo — resumiu o pesquisador.
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