A morte de Lula jogaria a Presidência no colo de Ciro Gomes

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Publicado Domingo, 31 de Julho de 2022 às 14:27, por: CdB

A indicação de que o ex-militar neonazista pretende uma saída trágica, com a mobilização de milhares de seguidores municiados e dispostos a abrir fogo contra petistas, comunistas, esquerdistas ou o que valha, está presente na maioria de seus discursos.

Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro
Professor de História da Arte pela Universidade de Florença e um analista político com o olhar apurado pela linha milenar do tempo de uma civilização tão antiga, um italiano inteligente e astuto, com décadas vividas aqui nos trópicos, observou neste domingo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) corre mais perigo de perder a vida, nos próximos dias, do que Julio Cesar pouco antes de se decidir pela visita ao Senado romano. Os sinais emanados do campo bolsonarista, somados ao fato de que a população armada, no país, já supera os aparatos militares, indicam que o presidente Jair Bolsonaro (PL) não será apeado do poder apenas pela força dos votos.
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Se um comício na Cinelândia foi alvo de um atentado a bomba, uma tentativa de assassinato do ex-presidente Lula permanece no horizonte
A indicação de que o ex-militar neonazista pretende uma saída trágica, com a mobilização de milhares de seguidores municiados e dispostos a abrir fogo contra petistas, comunistas, esquerdistas ou o que valha, está presente na maioria de seus discursos. Cinicamente, chega ao grau de pedir que o irmão de um militante do PT, covardemente assassinado por um dos seus asseclas, deponha politicamente em seu favor. E o faz imediatamente após aplaudir a disseminação dos portes de armas, em uma mensagem estrita aos seguidores mais violentos nos tais 'apitos de cachorro' (mensagens subliminares contidas em pronunciamentos públicos). “Diante da derrota que se anuncia e da recusa de desvios no roteiro legal e moral dos processos, o que os medos de Bolsonaro têm a oferecer é a covardia travestida, que apela ao mais estúpido, ao mais violento — no caso, o golpismo, sua cloroquina política”, escreveu o jornalista Jânio de Freitas, neste domingo, na sua coluna no diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, em linha com o que afirmou o observador nascido na Campanha italiana e educado na antiga e senciente Toscana.

Carimbados

Ainda segundo o observador europeu, com o olhar mais distante para um horizonte absolutamente caótico, “se o Lula for morto, o Ciro Gomes será o próximo presidente brasileiro. E é isso que ele deve estar vendo adiante, para manter a candidatura apesar de todos os embaraços, apostando que Bolsonaro parta para o improvável ao apostar no despautério de que um dos cães da matilha neofascista assassine o próximo presidente brasileiro”. — Nas atuais condições de temperatura e pressão, Lula perderá essas eleições apenas se deixar de existir sobre a terra. Caso isso aconteça, o Brasil entrará em uma espiral violenta tão grande que, primeiro, duvido que Bolsonaro permaneça vivo por muito tempo. Depois, Lula não deixou um herdeiro político viável, uma vez que o ex-prefeito Fernando Haddad e a presidente deposta Dilma Rousseff já foram carimbados pela maioria dos eleitores como inviáveis na direção do Palácio do Planalto. Assim, com a morte de Lula, a Presidência da República poderia cair no colo de Ciro Gomes, terceira opção na lista dos eleitores brasileiros — acrescentou.

Pandemônio

Embora a tese seja dramática e com todos os elementos que Nicolau Maquiavel, em 1513, reuniu em 'O Príncipe', naquela mesma Florença onde habitou o arguto professor agora, na contemporaneidade, a hipótese de um possível atentado à vida de Lula está presente em qualquer planejamento estratégico de segurança para os próximos dias do candidato. Se, apesar de todos os cuidados possíveis, não faltam ameaças à vida do líder popular que tem a estatura de um Getúlio Vargas, bolsonaristas já atingiram o público de um comício no Centro do Rio de Janeiro, com bombas recheadas de fezes humanas, qualquer possibilidade precisa ser considerada. Mais agravante, ainda, é a resistência do ex-presidente em usar sequer um colete à prova de balas ou, ainda, evitar a proximidade excessiva e o contato próximo com o público. Muitos o adoram, mas basta um celerado para tornar em realidade o pandemônio desejado pelas hostes da ultradireita. Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.
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