A autorização final, no entanto, coube à Marinha do Brasil, responsável por analisar as solicitações de navios de guerra estrangeiros que necessitem atracar em portos brasileiros ou navegar em nossas águas territoriais. O governo deu sinal verde para os navios iranianos e o almirantado concedeu o trânsito e a atracagem do vaso de guerra, no Porto do Rio.
Por Redação - do Rio de Janeiro
Embora o Brasil tenha negado, formalmente, o pedido dos EUA para impedir que a flotilha iraniana aportasse no Rio de Janeiro, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, o fato está longe de se tornar uma preocupação para o relacionamento entre os dois países. O Ministério da Defesa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), autorizou a presença no país de navios de guerra da Marinha do Irã.
A autorização final, no entanto, coube à Marinha do Brasil, responsável por analisar as solicitações de navios de guerra estrangeiros que necessitem atracar em portos brasileiros ou navegar em nossas águas territoriais. O governo deu sinal verde para os navios iranianos e o almirantado concedeu o trânsito e a atracagem do vaso de guerra, no Porto do Rio.
Embaixadora norte-americana no Brasil, a diplomata Elizabeth Bagley relatou ao Itamaraty que seu país está preocupado com a presença das embarcações do Irã na América do Sul, em especial, no Brasil, ao citar suspeitas de terrorismo e comércio ilícito.
Recomendações
“Esses navios, no passado, facilitaram o comércio ilícito e atividades terroristas e já tiveram sanções da Organização das Nações Unidas. O Brasil é um país soberano, mas acreditamos fortemente que esses navios não deveriam atracar em qualquer lugar”, declarou Bagley, em nota ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro.
O tom no Congresso norte-americano também reflete a posição do governo de Joe Biden. Até para a deputada republicana Maia Salazar disse que o Irã procura abrir espaço em sua diplomacia com o restante do mundo ao fortalecer “agressivamente, seus laços com o Hemisfério Ocidental por meio de regimes socialistas de mentalidade semelhante na Venezuela, Nicarágua e Cuba”.
— Eles também estão procurando oportunidades em outros lugares e não é por acaso que navios iranianos estão atracando no Brasil apenas um mês depois que um socialista retomou o poder no país — acrescentou a deputada norte-americana.
Silêncio
Apesar da reclamação estadunidense, a Marinha do Brasil autorizou a visita e as exigências foram as de praxe, com a observação das normas sanitárias e epidemiológicas vigentes. Os marinheiros iranianos já estão no Rio, onde puderam desembarcar e conhecer a Cidade, ao longo desta semana. Pouco tempo atrás uma aeronave militar norte-americana sobrevoou o território brasileiro, sem qualquer pedido de autorização e o caso foi arquivado.
Esta, no entanto, não é a primeira vez que o governo brasileiro ignora pedidos de nações aliadas. Ainda no fim do ano passado, o país recusou-se a atender a pedido de Berlim para o envio de munições à Ucrânia, o que agradou a diplomacia russa. O presidente Lula disse que não valia a pena aborrecer Moscou e sublinhou que o objetivo do Brasil é não entrar na guerra, mas buscar uma solução para o conflito.
Flotilha
E quem se irritou foram os alemães, que vetou a exportação de 28 blindados Guarani para as Filipinas, conforme informação do escritório governamental de controle de exportação em Berlim repercutida na mídia conservadora. Os tanques brasileiros têm peças e sistemas de origem alemã, embora sejam fabricados em Minas Gerais. No contrato de transferência de tecnologia, o governo alemão assegura o poder sobre a exportação dos artefatos bélicos.
Mesmo este entrave, com o passar do tempo, tende a ser resolvido. As relações entre o Brasil e a Alemanha se mantém sólida há décadas e, no dia 30 de janeiro, Lula recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente do país europeu, Frank-Walter Steinmeier, em Brasília. Na ocasião, o petista disse não ter interesse em enviar munição à Ucrânia para uso na guerra e justificou a decisão afirmando que o Brasil “é um país de paz.”
A 86ª flotilha iraniana é composta por navios de guerra Dena e Makran e partiu do sul do Irã no início do outono com o objetivo de circunavegar o globo terrestre.
Apoio logístico
O Dena é um navio de guerra da classe ‘Mowj’ que ingressou na Marinha Iraniana em junho de 2021. O navio militar está equipado com mísseis de cruzeiro antinavio, torpedos e canhões navais.
A outra embarcação da flotilha é o Makran, um petroleiro transformado em vaso de guerra que pode transportar cinco helicópteros e é empregado para fornecer apoio logístico aos navios de combate.
A 86ª flotilha espera, segundo fontes oficiais do Irã, quebrar o recorde de distância percorrida por uma flotilha iraniana em águas internacionais. No ano passado recente, a 75ª flotilha, incluindo os navios de guerra Sahand e Makran, estabeleceu um novo recorde de navegação de 250 mil quilômetros após uma viagem a São Petersburgo, em território russo.