Dowbor: capitalismo usa dívida como arma política para controle social dos brasileiros

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Publicado Terça, 13 de Outubro de 2020 às 12:00, por: CdB

Autor de diversas obras que apresentam uma visão progressista e renovadora sobre o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental, Dowbor detalha que o povo passou a ser explorado com pagamento de juros.

Por Redação, com BdF - de São Paulo
O mecanismo de extração de riqueza atual e de submissão da população ao poder econômico no Brasil reúne pagamento de baixos salários, com redução das políticas sociais, cobrança de juros altos e o sistema de dividendos. É o que explica o economista e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ladislau Dowbor, em entrevista ao site de notícias Brasil de Fato (BdF).
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O professor Dowbor aponta o risco da concentração de riquezas em uma parcela cada vez menor da população
— Os 42 bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em R$ 180 bilhões em quatro meses na pandemia. Cento e oitenta bilhões de reais são seis anos de Bolsa Família, só que, em vez de ir para 50 milhões de pessoas, vai para 42 pessoas que não pagam impostos. Então está agravando a desigualdade e assim paralisa a economia — ressalta.

Endividamento

Autor de diversas obras que apresentam uma visão progressista e renovadora sobre o desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental, Dowbor detalha que o povo passou a ser explorado por meio do pagamento de juros nas transações comerciais que gera o endividamento das famílias. — A pessoa de capacidade mais modesta compra a prazo, então ela é explorada no crediário, no cartão, explorada na dívida que eventualmente pega como pessoa jurídica. O juro no endividamento permite você generalizar a exploração para todas as pessoas, inclusive para quem não tem vínculo formal de trabalho — explica.

Déficit

De acordo com o economista, o governo atual reduziu a capacidade de compra da população e de produção das empresas. Dessa forma, o déficit do estado aumentou. — Desde que eles assumiram nós temos uma explosão do déficit. Vieram consertar o déficit e, na realidade, aumentaram. Porque é evidente, as famílias compram menos e o imposto pelo consumo é a principal fonte de receita tributária no Brasil, é 50% da receita tributária. Você reduziu a entrada pelas atividades de consumo e reduziu a entrada pelo sistema de construção que é parte produtiva. Então o resultado é o aumento do déficit e o travamento do conjunto do sistema. As famílias consomem menos, as empresas produzem menos, o comércio comercializa menos e você tem o Estado que gera o déficit — acrescenta. Na conversa, o professor explica ainda a diferença entre a taxa de juros que é cobrada no Brasil e em outros países e afirma que aqui há um sistema de agiotagem que cobra juros ao mês e investe na desinformação da população. — Aqui o rotativo do cartão em julho tava 256%, no Canadá é 11% ao ano. Porque é um sistema de agiotagem, por isso se apresenta os juros ao mês, é uma relação de força. Na televisão apresentam o problema como sendo as pessoas que se endividam porque não têm educação financeira e não sabem tomar crédito — repara.

Instrumentos

Segundo Ladislau Dowbor, “o dinheiro é uma coisa imaterial, é simplesmente uma relação de poder, depende de quem está com o comando de uso desse sinal magnético imaterial que é o dinheiro para saber se a gente faz investimento ou se manda para paraíso fiscal”. — É uma relação social. Eu pego desde a situação das famílias que se endividam. Um milhão de famílias que estão negativadas e não estão conseguindo pagar suas dividas, é o que relata o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) — acrescenta. A divida, como forma de submeter a população ao poder, segundo o economista, “é um dos principais instrumentos” do sistema capitalista. — Não pode ter uma economia que funciona assim. Em geral, você tem esse mecanismo de extração de riqueza que soma sistema de salário baixo com sistema de redução das políticas sociais, o sistema de juros e o sistema de dividendos. Isso enche o bolso do pessoal — reafirma. E conclui: — Agora você tem, para justificar o conto de fadas de que tem déficit, porque não tem recurso, porque a Dilma quebrou a economia... Todas as narrativas que podem ter, chama de conta de fadas. O mecanismo de extração de excedente você tem o conto de fadas para o pessoal não entender a coisa e o porrete para quem não acredita no conto de fadas, é assim que funciona a sociedade hoje.
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