Delação de Cid expõe atos de Bolsonaro contra a democracia

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Publicado Segunda, 11 de Setembro de 2023 às 19:33, por: CdB

Indagado sobre o fato de o ex-auxiliar de Bolsonaro ter fechado um acordo de delação premiada, Lula disse estar claro que Bolsonaro está altamente comprometido.


Por Redação - de Brasília

Ao concordar com a proposta do Judiciário para que fale tudo o que sabe sobre a tentativa de golpe de Estado frustrada em 8 de Janeiro, o tenente-coronel Mauro Cid já teria exposto seu ex-chefe, Jair Bolsonaro (PL), em atos criminosos praticados durante todo o mandato encerrado após a derrota nas eleições de 2022, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em comentário, nesta manhã, o próprio Lula afirmou que Bolsonaro estaria "envolvido até os dentes" na intentona golpista.

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No Bharat, Lula comenta sobre a situação de Bolsonaro: 'até os dentes'


Indagado sobre o fato de o ex-auxiliar de Bolsonaro ter fechado um acordo de delação premiada, Lula disse estar claro que Bolsonaro está altamente comprometido.

— Cada dia vão aparecer mais coisas e vamos ter mais certeza de que havia perspectiva de golpe e o ex-presidente estava envolvido nisso até os dentes — afirmou o presidente brasileiro nesta manhã, em Nova Délhi, durante entrevista coletiva após sua participação na Cúpula do G20.

 

Decisão


Segundo Lula, o único momento em que Bolsonaro não estava pensando em uma tentativa de golpe "era quando estava preocupado em vender as joias", referindo-se aos itens presenteados pelos sauditas e desviados do Erário, sob investigação da Polícia Federal (PF). Sobre esse e outros ítens, Cid voltou à sede da PF nesta tarde, com o compromisso de fornecer mais informações relacionadas aos vários inquéritos em curso.

O advogado de Cid, Cezar Bittencourt, confirmou que este “é o compromisso dele (Cid) com a delação homologada”. Segundo Bittencourt, Cid possui uma extensa quantidade de informações prontas para serem compartilhadas e planeja detalhar todas as experiências que teve ao lado de Bolsonaro.

Durante as primeiras entrevistas no papel de defensor do tenente-coronel, Bittencourt optou por não confirmar se Cid iria ou não incriminar Bolsonaro, argumentando que não poderia antecipar estratégias de defesa. Mas agora, é diferente. Ele enfatizou que a Cid cabe relatar os fatos, sendo a Justiça a responsável por determinar as condutas criminosas.

— Não se trata de incriminar A ou B, ele vai detalhar o fatos que viveu com Bolsonaro. Quem vai decidir se é crime são as autoridades — observou o advogado, em entrevista à mídia conservadora.

 

Retaliações


Bittencourt voltou a destacar que Bolsonaro mandava Cid "resolver as coisas" e que o militar apenas cumpria ordens.

— Você lembra do ‘Sinhozinho Malta’? Então… Era assim: vai lá e resolve. Ele fazia o que mandavam — explica.

O advogado também negou que Cid tenha sido forçado a fechar um acordo de delação. Tratou-se de um ato de boa vontade do suspeito para com a Justiça.

— É um nível muito qualificado, a Polícia Federal merece todos os meus elogios. Não teve pressão em momento algum, a equipe técnica é muito preparada. Muito bom trabalhar assim — elogiou.

De acordo com o advogado, a prioridade neste momento é garantir a segurança de Cid e sua família, que está assustada com a repercussão do caso e com medo de possíveis retaliações violentas por parte de seguidores do ex-mandatário neofascista.

 

Nova fase


Uma vez acertados os termos da delação de Cid, hoje afastado de todas as duas funções no Exército, a investigação da PF inicia uma nova fase, na qual o tenente-coronel; além de se apresentar toda segunda-feira na Vara de Execuções Penais, prestará novos depoimentos aos investigadores. A PF começa, também, a colher novas informações e colaboração dele nos pontos-chave da investigação. Os agentes passaram a checar, ponto a ponto, o que foi passado pelo delator.

Nessa altura dos inquéritos, o ex-presidente começa a se mobilizar para uma defesa em relação ao que foi dito por seu mais próximo servidor, durante o período em que ocupou o Palácio do Planalto. Seus aliados, diga-se de passagem em um número cada vez menor, já esperneiam nas redes sociais. Muitos contestam o fato de a delação premiada do ex-ajudante de ordens ter sido fechada sem o aval do Ministério Público Federal (MPF).

O argumento, no entanto, caiu por terra no instante em que o acordo foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é hierarquicamente superior ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que afirmou nas redes sociais não aceitar delações conduzidas pela PF.

 

Michelle


Coube ao ministro da Justiça, Flávio Dino, responder logo em seguida, também pelas redes sociais. Ele parabenizou a PF pela celebração do acordo: ”A Polícia Federal atuou com seriedade, profissionalismo e pleno atendimento à Constituição, às leis e à jurisprudência do STF", resumiu Dino.

A decisão de homologação da delação por Moraes foi proferida no âmbito do inquérito das milícias digitais, que é a principal apuração no STF contra o ex-presidente e mira, entre outros pontos, os ataques às instituições, a tentativa de golpe e o caso das joias. O entorno do ex-presidente teme que a delação de Cid sirva também para incriminar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

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