Em delação, Cid aponta interesse de Bolsonaro no golpe de Estado

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Publicado Quinta, 21 de Setembro de 2023 às 19:02, por: CdB

As informações, levantadas pela mídia conservadora, têm como base o acesso a um dos depoimentos, divulgado nesta quinta-feira. Os relatos de Cid fazem parte da delação premiada à PF, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).


Por Redação - de Brasília

Em uma nova etapa da delação à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) consultou militares sobre uma minuta golpista, que previa convocação de novas eleições e prisão de adversários. Segundo o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, essa reunião ocorreu logo após o recebimento do plano, entregue pelo seu então assessor para assuntos internacionais, Filipe Martins.

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Comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen não se alinhou aos golpistas mobilizados por Jair Bolsonaro (PL) e substituiu Garnier


As informações, levantadas pela mídia conservadora, têm como base o acesso a um dos depoimentos, divulgado nesta quinta-feira. Os relatos de Cid fazem parte da delação premiada à PF, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O roteiro do golpe, segundo os documentos vazados, chegou às mãos de Bolsonaro após sua derrota no segundo turno. Na delação, Cid afirmou que testemunhou a entrega do documento por Filipe Martins. Um advogado constitucionalista e um padre, cujos nomes o ex-ajudantes de ordens disse não se lembrar, também teriam participado do encontro.

 

Protocolo


À PF, Cid também detalhou que, posteriormente, Bolsonaro se reuniu com militares de alta patente e mostrou a eles parte do plano. O objetivo era verificar a receptividade à ideia golpista. O único apoiador, de acordo com a delação, foi o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier.

O militar já havia demonstrado sua insatisfação com o resultado democrático do pleito quando se negou a participar da cerimônia de troca de posse do comando da Marinha para Marcos Sampaio Olsen, escolhido por Lula. A recusa de Garnier foi considerada uma quebra de protocolo.

Apesar dos sinais favoráveis a planos golpistas, segundo a delação, o almirante não chegou a autorizar expressamente seus auxiliares a colocá-los em prática. E que os diálogos não resultaram na execução das intenções golpistas. Também não houve adesão do Alto Comando das Forças Armadas, segundo o delator.

 

Convocação


Os investigadores suspeitam, contudo, que essas articulações de Bolsonaro com os militares resultaram na tentativa de golpe do 8 de janeiro, em Brasília. A PF também apura se o plano recebido por Bolsonaro é o mesmo encontrado na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. A minuta golpista apreendida também autorizava a prisão de adversários. E ainda determinava a decretação de um “estado de defesa” na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar supostas irregularidades. Isso poderia resultar na convocação de um novo pleito.

A delação sobre as tratativas golpistas foi o que levou a Polícia Federal a assinar o acordo de colaboração com Mauro Cid. O processo foi conduzido pelo advogado do tenente-coronel, Cezar Bitencourt, e homologado no dia 9 de setembro pelo ministro do Supremo Tribunal (STF) Alexandre de Moraes. Cid estava preso desde maio por suspeita de fraude em cartões de vacinação, e deixou a prisão após a homologação da delação premiada.

Além de contar aos investigadores sobre os planos golpistas do ex-presidente, o ex-faz-tudo também confessou que Bolsonaro recebeu “nas mãos” o dinheiro da venda de relógios de luxo recebidos como presentes de Estado. Outro trecho desse depoimento foi divulgado pela revista semanal de ultradireita Veja. De acordo com os investigadores, embora pertencesse ao Estado Brasileiro, uma das joias vendidas sequer chegou a ser registrada no setor responsável pelo recebimento de presentes da União. Para a PF, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar os bens públicos de alto valor para enriquecimento ilícito.

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