Chile vai assumir busca por vítimas desaparecidas da ditadura

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Publicado Quinta, 31 de Agosto de 2023 às 14:43, por: CdB

Durante o anúncio, o ministro da Justiça, Luis Cordero, disse que o Estado chileno mostrou “alto grau de indolência” e não fez tudo que deveria para descobrir onde estão as vítimas. “Há pessoas que têm informação sobre o que ocorreu e não divulgam”, afirmou o ministro.


Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília


Pouco após um homem roubado na maternidade ter encontrado a mãe biológica pela primeira vez, aos 42 anos, e a Justiça condenar sete militares aposentados pelo sequestro e assassinato do cantor Victor Jara, em 1973, o governo chileno anunciou que vai assumir a busca pelos 1.162 presos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) que seguem desaparecidos até hoje.




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Emilia Vasquez Riquelme, 87 anos, ao lado de um mural que retrata seu filho Miguel Heredia Vasquez, preso e desaparecido desde dezembro de 1973

Durante o anúncio, o ministro da Justiça, Luis Cordero, disse que o Estado chileno mostrou “alto grau de indolência” e não fez tudo que deveria para descobrir onde estão as vítimas. “Há pessoas que têm informação sobre o que ocorreu e não divulgam”, afirmou o ministro. “Está na hora de darem esse passo e contribuírem para sanar as feridas que seguem abertas”.


No dia 11 de setembro, o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende e instalou a ditadura completa 50 anos. Desde então, a busca pelos desaparecidos ficou basicamente a cargo das famílias e foram encontrados os restos mortais de apenas 307 pessoas, de um total de 1.469 vítimas de desaparição forçada.


– Este número deve doer e fazer nosso sangue queimar, porque dá conta da magnitude da dívida que temos, como Estado e como sociedade – disse o presidente Gabriel Boric ao lançar na quarta-feira o Plano Nacional de Busca da Verdade e da Justiça. “A Justiça demorou muito”, disse, emocionado.


Com financiamento estatal, o objetivo é reconstituir a trajetória das vítimas após a sua prisão, garantir acesso à informação dos familiares, que participarão da elaboração do plano, e implementar medidas de reparação.


– Nenhum outro governo teve essa vontade política, que era necessária para que este calvário não seja apenas dos familiares, mas de toda a sociedade e do Estado – afirmou Gaby Rivera, presidente do Grupo de Familiares de Presos Desaparecidos.


A maioria dos desaparecidos eram operários e camponeses, com idade média de 29 anos. O principal obstáculo para encontrá-los tem sido a pouca colaboração das Forças Armadas. No fim dos anos 1990, militares forneceram dados de cerca de 200 presos cujos corpos, supostamente, haviam sido jogados no mar, prática comum na época. Mas os restos mortais de algumas dessas vítimas foram encontrados em valas comuns.


Em 1990, com o retorno da democracia, foi criada a Comissão Nacional da Verdade e Reconciliação, que apontou haver mais de 3.200 vítimas, incluindo mortos e desaparecidos, deixadas pela ditadura. Em 2003, foi aberta outra comissão oficial sobre prisão política e tortura, que reconheceu cerca de 38 mil torturados.



Abraço tardio


Há 42 anos, funcionários de um hospital tomaram o filho de María Angélica González de seus braços logo após o nascimento e depois disseram que havia morrido e já haviam se desfeito do corpo. O menino foi adotado por uma família estadunidense e batizado de Jimmy Lippert Thyden.


– Os trâmites da minha adoção dizem que não tenho familiares vivos. Mas nos últimos meses descobri que tenho mãe, quatro irmãos e uma irmã – diz ele, que é advogado e define seu caso como uma “adoção falsificada”. Recentemente, ele viajou para a cidade chilena de Valdivia, onde finalmente conheceu a mãe e o restante da família.


O encontro contou com a colaboração da organização Nos Buscamos, que coordenou mais de 450 encontros entre adotados e suas famílias biológicas. O trabalho de busca é feito em associação com a plataforma de genealogia MyHeritage, que proporciona kits gratuitos de amostras caseiras de DNA.



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