Rio de Janeiro, 13 de Setembro de 2024

Ventos de guerra voltam a soprar sobre o continente europeu

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Sábado, 24 de Agosto de 2024 às 13:45, por: CdB

Nesta manhã, a Rússia tornou públicos documentos da inteligência soviética que mostram que Paris e Londres contemplavam iniciativas sérias contra Moscou no início da Segunda Guerra Mundial.

Por Redação, com agências internacionais – de Londres e Moscou

“O mundo está mudando rápido e não para melhor. A Rússia está em transição de volta para uma economia de guerra ae estilo soviético, e seu poder militar aumentará enormemente. No momento, estamos sendo mantidos seguros a um custo muito baixo para nós mesmos, pelos sacrifícios heróicos dos ucranianos. Isso não pode continuar para sempre. De uma forma ou de outra, a luta na Ucrânia vai parar, muito possivelmente devido a um cessar-fogo imposto aos ucranianos pelo próximo presidente dos EUA. As forças armadas russas poderão então se reorganizar, rearmar, recrutar e construir.

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A mobilização de tropas britânicas se mantém efetiva há décadas, contra Moscou

“O cessar-fogo terminará em um momento e local escolhidos por Vladimir Putin. Note-se que ele acabou de visitar Kaliningrado, o enclave russo no Báltico, há muito visto como um potencial ponto crítico em uma futura guerra Rússia/OTAN. Os planejadores alemães construíram um cenário no qual Putin poderia provocar uma guerra ao se mudar para o Suwalki Gap, o território ao longo da fronteira entre a Polônia e a Lituânia, entre Kaliningrado e Bielorrússia. É importante não ser derrotista sobre isso. Se os ucranianos mal equipados e mal financiados não só conseguiram deter os russos, mas também empurrá-los de volta para quase todos os lugares – como fizeram – está claro que as nações da OTAN relativamente bem equipadas poderiam infligir maiores desastres”.

Tal interpretação da realidade ocupa um espaço consistente nas páginas do vetusto diário britânico The Telegrah, na edição deste sábado, com a assinatura do editor de Opinião, Lewis Page. Mesma data em que a agência russa de notícias Sputnik revela documentos até então secretos sobre a ação de britânicos e franceses, do início dos anos 40, sobre a invasão planejada ao território russo, em meio à expansão do Terceiro Reich. Os mesmos ventos de guerra que varreram o continente europeu voltam a soprar, embora com a intensidade ainda de uma brisa, em um cenário cada vez mais sombrio.

 

Inteligência

Nesta manhã, a Rússia tornou públicos documentos da inteligência soviética que mostram que Paris e Londres contemplavam iniciativas sérias contra Moscou no início da Segunda Guerra Mundial. O Reino Unido e a França tomaram no início de 1940 uma decisão fundamental para iniciar uma guerra contra a URSS, atacando a partir da Finlândia e do Cáucaso, e estabelecer um “governo nacional russo”, revelam dados da inteligência soviética obtidos do Arquivo Militar Estatal da Rússia e publicados pela Biblioteca

Assim, Lavrenty Beria, comissário do povo para Assuntos Internos da URSS, enviou uma mensagem datada de 13 de janeiro de 1940 a Kliment Voroshilov, comissário do povo para a Defesa, citando informações do Conselho Supremo da Guerra transmitidas a Moscou pela inteligência externa soviética em Paris, França. O conselho era o órgão oficial máximo de liderança militar do Reino Unido e da França e era presidido pelos primeiros-ministros Neville Chamberlain e Édouard Daladier, respectivamente.

“Na última reunião do Conselho Supremo da Guerra, foi tomada uma decisão de princípio para lançar uma ação militar contra a URSS. Com base nessa decisão, foi lançada uma forte campanha antissoviética em todos os jornais para preparar a opinião pública”, escreveu Beria.

 

Decisão

Segundo o chefe do Comissariado do Povo para Assuntos Internos (NKVD, na sigla em russo) da URSS, essa decisão do conselho militar implicou a renúncia de Leslie Hore-Belisha, secretário de Estado para Assuntos da Guerra do Reino Unido, “que, nesse estágio, se opunha categoricamente à guerra com a URSS”.
Beria referiu que a decisão foi tomada para, aproveitando a então guerra em curso da União Soviética com a Finlândia, apanhar a URSS desprevenida, principalmente através de Leningrado, atualmente São Petersburgo, Rússia.

Foi sugerida a mobilização dos emigrantes brancos russos (monarquistas que deixaram o país durante a Guerra Civil Russa em 1917-1922), e “todos os jornais estão cheios de artigos sobre as supostas grandes derrotas do Exército Vermelho na Finlândia”, notou Lavrenty Beria, mas também era necessário preparar um pretexto.

Para isso o Reino Unido e a França preparariam materiais falsificados que responsabilizassem a URSS pela eclosão da Segunda Guerra Mundial, e ao mesmo tempo retratassem a atuação de Londres e Paris como inocente, segundo um documento do Serviço de Inteligência Externa da Rússia. No entanto, o fim da guerra soviético-finlandesa já em março de 1940 e os sucessos militares da Alemanha na Europa Ocidental poucos meses depois, incluindo contra a França, tornaram inviável a realização desses planos.

 

Agressão

Como notado por historiadores, o Reino Unido e a França empurraram durante a década de 1930 o Terceiro Reich para a guerra contra a União Soviética de forma calculada e proposital com a chamada “política de apaziguamento”, incluindo com o Pacto de Munique de 1938, quando a Tchecoslováquia, ocupada pela Alemanha, tornou-se vítima dessa política. Em resposta, o líder alemão Adolf Hitler prometeu não atacar o Reino Unido e a França e concluiu pactos de não agressão com eles.

Além disso, o Reino Unido, para se proteger de um ataque da Alemanha, declarou que estava disposto a fazer concessões consideráveis, como, por exemplo, abandonar seus compromissos com a Polônia.

Em negociações com a URSS em Moscou, no verão de 1939, a França e o Reino Unido não assumiram compromissos claros, e as negociações foram interrompidas definitivamente pela Polônia, que declarou estar pronta para aceitar assistência militar somente de Paris e Londres, mas não de Moscou.

 

Pacto

A liderança soviética, por sua vez, já tinha planos para um ataque alemão à Polônia ou os Estados Bálticos, que, em caso de vitória, permitiria à Wehrmacht marchar diretamente para a fronteira com a União Soviética. Além disso, a URSS enfrentava uma ameaça de invasão do Japão na área do rio Khalkhin Gol, pertencente à Mongólia, com o qual o Exército Vermelho já estava combatendo. Tudo isso levou o líder soviético Joseph Stalin a tomar uma decisão difícil, um pacto de não agressão com a Alemanha nazista.

Assinado em 23 de agosto de 1939 em Moscou, por Vyacheslav Molotov e Joachim von Ribbentrop, ministros das Relações Exteriores da URSS e da Alemanha, respectivamente, o conteúdo do tratado não divergiu das normas do direito internacional e da prática de tratados dos países adotada para tais acordos, notam os historiadores. Além disso, a URSS foi o último de uma sucessão de países a assinar um tratado de não agressão com a Alemanha.

O tratado também incluiu um protocolo adicional secreto sobre a delimitação das esferas de interesse da Alemanha e da União Soviética. A zona de influência soviética incluía os Estados Bálticos, o leste da Polônia (incluindo Belarus e a Ucrânia ocidentais) e a Bessarábia, territórios que anteriormente faziam parte do Império Russo. Isso permitiu retardar os avanços alemães após a invasão da URSS em 22 de junho de 1941. Além disso, apontam os historiadores, o pacto frustrou os próprios planos do Reino Unido e da França para atacar a União Soviética.

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