Ultradireita polonesa usa campo de extermínio em propaganda política

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Publicado Domingo, 04 de Junho de 2023 às 15:42, por: CdB

Para desencorajar as pessoas a participar da manifestação, o partido do político Jaroslaw Kaczynski e do premiê Mateusz Morawiecki divulgou um vídeo na última quarta-feira. A tática causou indignação na Polônia e no exterior.


Por Redação, com DW - de Varsóvia

A menos de cinco meses antes das eleições parlamentares na Polônia, o nervosismo aumenta no campo do governo ultraconservador do país. O Partido Lei e Justiça (PiS), que comanda o governo do país, teme que uma manifestação em grande escala possa marcar uma virada na campanha eleitoral.

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O campo de extermínio de Auschwitz serviu de fundo para vídeo da extrema direita polonesa


Para desencorajar as pessoas a participar da manifestação, o partido do político Jaroslaw Kaczynski e do premiê Mateusz Morawiecki divulgou um vídeo na última quarta-feira. A tática causou indignação na Polônia e no exterior.

O vídeo mostra a entrada do campo de extermínio de Birkenau e o portão do campo principal de Auschwitz. A inscrição cínica escrita em alemão "O trabalho liberta" é claramente visível acima do portão. Em seguida, o vídeo veicula a informação de que mais de um milhão de pessoas foram assassinadas no campo e que seis milhões de poloneses morreram na Segunda Guerra Mundial. Na sequência, uma mensagem do jornalista Tomasz Lis, um figura crítica ao PiS, é exibido.

‘Câmara’


Dois dias antes, ele havia escrito no Twitter que haveria uma "câmara" para os ultraconservadores presidente Andrzej Duda e Jaroslaw Kaczynski. Na Polônia, "câmara" é geralmente entendida como câmara de gás. Lis pediu desculpas e excluiu o tuite. Ele se justificou afirmando que quando se referiu à "câmara", queria dizer uma cela de prisão. No entanto, o PiS aproveitou a oportunidade para atacar a oposição e a convocação da manifestação. Enquanto o logotipo da manifestação de protesto é mostrado no vídeo da eleição, um narrador pergunta: "Você realmente quer seguir esse lema?".

Com o vídeo, o ultraconservador e nacionalista PiS tenta repetir controversas e bem-sucedidas propagandas de outras campanhas eleitorais. Em 2005, uma propaganda do PiS que acusava o avô de Tusk de ser voluntário na Wehrmacht ajudou Lech Kaczynski (irmão de Jaroslaw Kaczynski) a vencer a eleição presidencial. Outras propagandas acusando políticas dos liberais de supostamente empobrecerem a população também desempenharam papel decisivo no sucesso do PiS nas últimas eleições parlamentares. No entanto, o mais recente vídeo de campanha vem sendo considerado contraproducente.

Indignação


O Memorial de Auschwitz protestou publicamente contra o vídeo. "A instrumentalização da tragédia das pessoas que sofreram e morreram em Auschwitz, independentemente de qual lado do debate político, ofende a memória das vítimas", afirmou a direção do museu. O vídeo é "uma triste expressão da decadência moral e intelectual do debate público".

O presidente da Polônia, Andrzej Duda, também se mostrou crítico. "A memória das vítimas dos crimes alemães em Auschwitz é sagrada e inviolável. A tragédia das milhões de vítimas não pode ser mal utilizada em lutas políticas. Tais ações são indignas e indesculpáveis", escreveu Duda, que normalmente se mostra alinhado com as políticas do PiS, embora não seja mais filiado ao partido desde 2015.

"É quebrar um tabu", afirmou o prefeito liberal de Varsóvia, Rafal Trzaskowski. Organizações judaicas ativas na Polônia também protestaram contra o "abuso do Holocausto na atual disputa política".

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