Semana agitada na CPI ouve negacionistas da pandemia e defensores da cloroquina

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Publicado Segunda, 17 de Maio de 2021 às 13:25, por: CdB

O senador baiano Otto Alencar (PSB) diz ser preciso explorar também a famosa viagem a Israel, em março, quando Bolsonaro enviou Araújo ao Oriente Médio com dinheiro público, com uma comitiva, para se informar sobre um spray que o próprio presidente na ocasião afirmou desconhecer, mas que “parece um produto milagroso”.

Por Redação - de Brasília

A CPI da Covid começará a ouvir, a partir desta terça-feira, o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Jair Bolsonaro Ernesto Araújo, entre outros seguidores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O depoimento guarda certa expectativa, não apenas pela passagem catastrófica do ex-chanceler pelo Itamaraty, no que diz respeito a sua atuação na diplomacia durante a pandemia de coronavírus, como pelo fato de ter feito críticas ao presidente pouco mais de um mês após sua saída da pasta, no dia 29 de março.

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O ex-chanceler brasileiro Ernesto Araújo acredita que nazismo é ideologia de esquerda

Um dos principais “expoentes” da ala ideológica do governo, Araújo afirmou em seu Twitter em Primeiro de maio: “Um governo popular, audaz e visionário foi-se transformando numa administração tecnocrática sem alma nem ideal. Penhoraram o coração do povo ao sistema. O projeto de construir uma grande nação minguou no projeto de construir uma base parlamentar”, declarou.

Senadores ouvidos pela reportagem acreditam que a oitiva do ex-ministro tem potencial de esclarecer muitos fatos.

— Ele vai ter que falar sobre a politica externa que adotou, as dificuldades que criou com o governo chinês, a postura de afastar o Brasil da OMS, o que impediu que o país comprasse vacinas pelo Covax Facility (programa lançado em abril de 2020 pela Organização Mundial de Saúde). Esperamos que explique também a posição do Brasil sobre a quebra de patentes e vacinas — diz Humberto Costa (PT-PE).

Chineses

O senador Otto Alencar (PSD-BA) espera que Araújo “fale a verdade” e tenha a mesma dignidade de Antônio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

— O ex-ministro publicou criticas em seu Twitter ao governo Bolsonaro, dizendo inclusive que não tinha projeto, não tinha metas. Vamos perguntar sobre as relações diplomáticas que ele estabeleceu de forma excludente com a China e outros países aliados, apenas por conotação  ideológica e política — prevê. Alencar, assim como Costa, é médico.

“Spray milagroso“

O senador baiano diz ser preciso explorar também a famosa viagem a Israel, em março, quando Bolsonaro enviou Araújo ao Oriente Médio, com uma comitiva, para se informar sobre um spray que o próprio presidente na ocasião afirmou desconhecer, mas que “parece um produto milagroso”.

— Queremos sobretudo procurar entender por que ele viajou com deputados federais e o ex-secretario de comunicação (Fabio Wajgarten) para Israel, atrás de um spray nasal para combater a covid-19. Voltaram de mãos vazias, sem nenhuma coisa que acrescentasse ao tratamento e prevenção da doença — acrescentou Otto Alencar.

O parlamentar observa que, se o ex-ministro era da confiança do presidente da República e deixou o governo fazendo críticas, espera-se que aponte os equívocos e omissões nas relações institucionais com outros países.

— Precisamos entender como e por que, em tanto tempo que ele ficou à frente do Ministério, não conseguiu ajudar o Brasil para a aquisição de insumos, medicamentos e sobretudo vacinas — pontua.

“Comunavírus”

A posição de Araújo envergonhou a diplomacia brasileira. Durante sua gestão, fez declarações absurdas sobre a pandemia. Por exemplo, afirmou que a OMS, no trabalho contra a pandemia, era “um projeto globalista” que seria “o primeiro passo em direção ao comunismo”. “Não bastasse o coronavírus, precisamos enfrentar também o comunavírus”, acrescentou. Sob seu comando nas Relações Exteriores, o Brasil se posicionou contra a quebra de patentes das vacinas, o que era apoiado por Índia e África do Sul sob o argumento de que a medida democratizaria o acesso aos imunizantes.

O ex-ministro das Relações Exteriores também foi ativo no lobby para que o Brasil conseguisse o fornecimento de cloroquina para o tratamento da covid-19, mesmo depois de inúmeras entidades científicas e especialistas negarem a eficácia do medicamento e apontarem, inclusive, os graves riscos que a droga poderia acarretar a pacientes, até mesmo a morte.

Nesta sexta-feira, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello o direito de ficar em silêncio em seu depoimento na quarta-feira. Mas ele terá de comparecer à CPI como testemunha e deverá revelar “tudo o que souber ou tiver ciência” sobre “fatos e condutas relativas a terceiros”.

Sigilo

Ainda durante a semana, a CPI da Covid tende a aprovar a quebra de sigilo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), de Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência: além de Filipe Martins, assessor internacional da Presidência, do coronel Élcio Franco, número dois do Ministério da Saúde na gestão do general Eduardo Pazuello, e de Marcos Eraldo Arnoud, o Markinhos Show, marqueteiro que atuava como assessor especial do ministério.

Os senadores, segundo o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, pretendem quebrar os sigilos telefônico e telemático, que inclui a troca de mensagens por aplicativo e e-mails, de Carlos Bolsonaro. Os demais também poderão ter abertos os sigilos bancário e fiscal.

A expectativa é que os requerimentos sejam votados até esta terça-feira (18), data em que o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo irá depor na CPI. Na quarta será a vez do general e ex-ministro da Saúde Henrique Pazuello e na quinta de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho, conhecida como a Capitã Cloroquina.

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