Roberto Amaral não descarta uma tentativa de golpe até outubro

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Publicado Quarta, 25 de Maio de 2022 às 13:40, por: CdB

Ainda na avaliação do ex-ministro, um golpe militar não está descartado. "Não descarto nada" disse Amaral. Para ele, um golpe no sentido clássico (militares colocando tanques nas ruas) é inviável, “para tomar ou manter o poder, com ou sem Bolsonaro”. Mas, ainda segundo o ex-ministro, "vejo uma continuidade do golpe".

Por Redação, com RBA - do Rio de Janeiro
Considerando um cenário em que a democracia e a normalidade do processo eleitoral prevaleçam, no qual as ameaças do bolsonarismo se reduzam a bravatas, dificilmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará de ser eleito para um terceiro mandato. A eleição presidencial em seu primeiro turno, contudo, está a quase cinco meses e as forças políticas empenhadas em pôr fim à trágica era Bolsonaro precisam manter a concentração, uma vez que o golpe de Estado se aprofunda, no país, desde 2016.
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O ex-ministro Roberto Amaral destaca o risco que ainda corre a democracia brasileira
— Não sou, por assim dizer, crente em pesquisas. Leio as pesquisas como tendências de momento, que podem ser alteradas por um fenômeno, um fato novo, medidas do governo — pondera o ex-presidente do PSB e cientista político Roberto Amaral, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), nesta quarta-feira. Amaral menciona uma série de fatores da atual conjuntura que podem pesar no processo meses até a eleição. A importância do Brasil no cenário internacional; a crise mundial, considerando a guerra entre Rússia e Ucrânia e também os fatores econômicos; eventuais medidas (eleitoreiras) do governo; os mais de 16 bilhões do Orçamento referentes a emendas de relator, que Bolsonaro disse que ajudam “a acalmar o Parlamento”, e que servirão para aliados despejarem em suas bases na campanha. — São muitas variantes. Se as eleições fossem hoje, dificilmente Lula perderia. Mas está cedo para cantar vitória — alerta Amaral.

Judiciário

É preciso lembrar, segue Amaral, que a esquerda e o campo progressista “estão totalmente fora do aparelho estatal e das instituições, e têm uma presença diminuta no Congresso”. Atualmente, os agentes dominantes na política nacional são a direita militar e o Supremo Tribunal Federal (STF), “uma instituição conservadora”, sublinha. Ou seja: “A sustentação democrática está nas mãos de um poder conservador, o Judiciário”. Para ele, “é um quadro preocupante”. PT, PSB, PCdoB, PV, Rede, Psol e Solidariedade avançam em diálogo por ampliação de frente Por isso, “estamos depositando tudo na eleição do Lula, e todas as preocupações positivas são em função da eventualidade da eleição de Lula”, diz o ex-ministro de Ciência e Tecnologia do primeiro governo petista.  — Não estou dizendo se está certo ou errado. É uma contingência histórica — ressalta.

Ciro Gomes

A “falecida terceira via”, como classifica Amaral, de fato não parece fadada a dar frutos. — Hoje vemos o fim do PSDB, um partido que se autodissolve de forma patética. O trabalhismo se acaba, seja como for que se queira examiná-lo: pela vertente varguista, pela herança de Brizola (fundador do PDT) ou pelo excremento em que se transformou o PTB do Roberto Jefferson. E o MDB também se acaba nessas eleições — adianta. Sobre Ciro Gomes, que já foi um dos mais importantes quadros da centro-esquerda do país, ex-ministro da Integração Nacional e colega do próprio Amaral no governo Lula, o cientista político afirma que “hoje é um quadro doente. Tem traços paranoides. Essa fixação dele com Lula é doentia. Um camarada com a projeção que já teve, e que reduziu a sua vida, o seu projeto, a uma mágoa. Isso é uma paranoia — avalia.

Sem tanques

O ex-presidente do PSB lembra que o Ciro Gomes com quem ele conviveu “um pouco antes do governo, durante e um pouco depois do governo, que foi do PSB, era um quadro totalmente diferente desse que está aí”. Ainda na avaliação do ex-ministro, um golpe militar não está descartado. — Não descarto nada — responde Amaral. Para ele, um golpe no sentido clássico (militares colocando tanques nas ruas) é inviável, “para tomar ou manter o poder, com ou sem Bolsonaro”. — Mas vejo uma continuidade do golpe. Estou pensando em golpe híbrido. Que começa a se instalar em 2016 e vem avançando, mudando a estrutura institucional brasileira, com privatizações, restrições dos direitos trabalhistas e previdenciários, controle do orçamento pelo Congresso, orçamento secreto de R$ 16,5 bilhões, pronunciamentos permanentes dos militares. Tudo isso é aprofundamento do que chamo de golpe híbrido — resumiu.
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