Risco de apagão e gargalos na indústria são resultados da crise hídrica

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Publicado Quinta, 02 de Setembro de 2021 às 10:25, por: CdB

"Houve escassez de insumos e recentemente tivemos agravamento desse cenário por pressão da crise hídrica, que vem aumentando os custos e deixa o segmento mais pessimista. Além disso, temos um cenário de alto desemprego e inflação, que afeta a capacidade de consumo das famílias", afirmou a economista da FGV-Ibre.

Por Redação - de São Paulo
Dois relatórios divulgados nesta quinta-feira apontam para a crise hídrica como principal obstáculo para a retomada do crescimento industrial, fortemente atingido nos últimos meses. O setor tem sido assombrado, ainda, pela escassez de insumos e dificuldades logísticas.
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O fornecimento de energia elétrica está ameaçado, em todo o país, devido à crise hídrica em curso
— A crise hídrica e o alto nível de desemprego e a inflação vêm pesando para a recuperação do setor — afirmou a economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Claudia Perdigão.  Segundo a técnica, a recuperação da indústria “não veio livre de gargalos”. — Houve escassez de insumos e recentemente tivemos agravamento desse cenário por pressão da crise hídrica, que vem aumentando os custos e deixa o segmento mais pessimista. Além disso, temos um cenário de alto desemprego e inflação, que afeta a capacidade de consumo das famílias. Esses fatores acabam determinando a recuperação da indústria e da economia como um todo nos próximos meses — acrescentou.

Ambiente político

Perdigão afirmou, ainda, que o risco de racionamento e o ambiente político conturbado devem pesar na recuperação do setor nos próximos meses. — A crise hídrica somente será solucionada com entrada do período de chuvas e recomposição dos reservatórios, o que não acontecerá de imediato. O primeiro ponto é o aumento do custo, que leva as empresas a repensar a política de preços e como repassar o custo para o consumidor final. Além disso, havendo de fato racionamento ou possibilidade de apagão, uma paralisação ou redução forçada da produção pode levar a perdas e dificultar para empresas que ainda não conseguiram se recuperar do cenário de pandemia — pontuou. Ela argumenta que o ambiente político de instabilidade também afeta a expectativa do setor, que tende a ficar mais apreensivo, pessimista e cauteloso. — Isso acaba repercutindo em projetos de investimento e contratação — ressaltou.

Cenário hídrico

Em outro relatório, dessa vez produzido pela empresa financeira XP Investimentos, a piora na crise hídrica alerta para o cenário hídrico brasileiro. Os economistas Victor Burke e Maíra Maldonado, que assinam o relatório, afirmam que um 'apagão é possível' com os níveis dos reservatórios caindo abaixo do esperado. Segundo avaliam, a situação hídrica é pior do que a prevista com a quantidade de água que chega as hidrelétricas, em unidade de energia, ficar 27% abaixo do que a estimativa da XP; além da geração hídrica e térmica ficar 8% menor do que o previsto. "Atualizamos nossas estimativas e vemos a probabilidade de racionamento nospróximos 12 meses aumentar para 17,2% de 5,5% no relatório anterior. A crescente probabilidade de um cenário crítico fez com que o governo adotasse medidas preventivas para evitar o racionamento de energia", disseram no texto.

Vulnerável

Victor e Maíra também alertam que a geração hídrica mais baixa no Sudeste exige trazer mais energia das regiões Norte e Nordeste, o que coloca mais pressão no sistema de transmissão e exige uma operação com menos backups para atender a demanda de energia.  "Isso significa que o sistema ficará mais vulnerável a distúrbios como queimadas, tempestades e falhas humanas", explicaram. Sobre as medidas anunciadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME), como contratação de usinas ociosas, importação de energia de países vizinhos, entre outros, os analistas dizem que, caso haja efetividade e se economize até 2,5GWmed, a probabilidade de racionamento cai para 11%. Para os próximos 12 meses, a previsão é de não haver a necessidade de umracionamento de energia, mas a previsão do nível consolidado dos reservatórios ficou menor e a utilização de capacidade maior.
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