Reunião entre Lula e o alto comando militar é cercada de sigilo

Arquivado em:
Publicado Sexta, 20 de Janeiro de 2023 às 14:18, por: CdB

O presidente afirmou que "gente das Forças Armadas" foi conivente com os ataques, apontou falha nos órgãos de inteligência — amplamente comandado pelas Forças Armadas — e disse que o segmento foi afetado pelo bolsonarismo; além do que o militares não são o poder moderador "como pensam que são".

Por Redação - de Brasília
Em meio à crise militar mais grave no país, desde o golpe de Estado de 1964, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu-se, nesta sexta-feira, com o ministro da Defesa, José Múcio, e os comandantes militares, em um ambiente tenso, cercado de sigilos. Lula optou, na véspera, pela colocação do ponto de vista relativo às ameaças contra o Estado democrático e de direito, em entrevista à mídia conservador, na qual externou sua desconfiança com o setor militar e disse ter perdido a confiança em parte dos comandantes militares.
lula-militares.jpg
Lula reuniu os comandantes militares e conversaram sobre investimentos nas três Forças
O presidente afirmou que "gente das Forças Armadas" foi conivente com os ataques, apontou falha nos órgãos de inteligência — amplamente comandado pelas Forças Armadas — e disse que o segmento foi afetado pelo bolsonarismo; além do que o militares não são o poder moderador "como pensam que são". Desde 1989, quando da redemocratização do país, um presidente eleito civil brasileiro não questionava, abertamente, a lealdade das Forças Armadas, no contexto de uma também inédita tentativa de reverter pela força um resultado eleitoral no Brasil. Ato seguinte, Lula dispensou nos últimos dias dezenas de militares que atuavam no Palácio da Alvorada e na secretaria do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, responsável pela segurança presidencial. O governo estuda ainda, abertamente, modelos de segurança presidencial alternativos ao atual, predominantemente feito por membros das Forças Armadas.

Comandantes

Ao mesmo tempo, o presidente trabalha internamente para acalmar os ânimos e, se cobra punição de militares envolvidos com os ataques, conversa para garantir que as forças recebem recursos e um tratamento adequado. A escalada no discurso Lula contra a radicalização de setores do Exército, Marinha e Aeronáutica estrutura-se, basicamente, no amplo repúdio da opinião pública aos ataques de terroristas, apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro. Vários deles estiveram abrigados desde o segundo turno da eleição em acampamentos golpistas em frente a quartéis, com a conivência dos comandantes militares. — Me parece que esse momento, em que o Lula tem esse consenso político institucional em seu favor, permite a ele forçar o diálogo com as cúpulas militares. O consenso não é robusto o suficiente para que ele force uma enorme transformação do campo de jogo — disse à agência inglesa de notícias Reuters o analista político e CEO da Dharma Political Risk, Creomar de Souza.

Relação

Na esteira das críticas públicas de Lula, os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Defesa, José Múcio, almoçaram nesta semana com os comandantes das três Forças, num encontro descrito como "bom" por uma fonte com conhecimento do assunto. De acordo com esta fonte, o almoço serviu para "colocar ordem na casa", e também foi usado para sinalizar disposição do governo em atender pleitos dos militares na área de equipamentos e financiamento para projetos prioritários. A fonte disse, ainda, que os comandantes mostraram certo grau de constrangimento com os episódios de 8 de janeiro, que criou uma imagem de Forças Armadas coniventes com os ataques e sem preparo para controlar o caos que começou na frente dos QGs. O encontro mostrou comandantes receptivos a virar a página e construir uma relação institucional com o governo, contou a fonte. Além de Lula, do ministro da Defesa, José Múcio, e dos comandantes das Forças, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, participou da reunião. Josué foi chamado por Lula para apresentar aos comandantes um projeto de modernização da base industrial de defesa.

Resistência

O empresário permanece no comando da instituição, mesmo após ter sido destituído em assembleia. Na véspera, a federação divulgou nota confirmando Josué no cargo sem citar o impasse político na entidade, que ingressou com medidas cautelares junto aos tribunais de Justiça. A pedido de Lula, a Defesa levou um documento com o andamento e as necessidades orçamentárias do Exército, Marinha e Aeronáutica, com  foco nos projetos estratégicos. Todos tiveram impulsionamento inicial nos primeiros mandatos de Lula. José Múcio, no entanto, não disfarça sua resistência em desbolsonarizar a pasta. A jornalistas, Múcio tem dito que manterá os mesmos quadros do governo anterior. A pedido de Lula, a limpa no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança do presidente, foi iniciada após os ataques golpistas do dia 8. No entanto, até agora, a Defesa não seguiu a orientação.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo