Resistir e se articular para enfrentar a política de extermínio de Bolsonaro

Arquivado em:
Publicado Quarta, 06 de Novembro de 2019 às 10:34, por: CdB

Bolsonaro, em suas falas, sempre agrediu de modo racista os povos indígenas. Durante sua campanha, ameaçou acabar com as reservas. Daí, ninguém pode, hoje, surpreender-se com a ação de seu governo!

 
Por Marilza de Melo Foucher, correspondente do CdB - de Paris
  Os povos indígenas do Brasil, mais do que nunca, precisam da solidariedade nacional e internacional para sobreviver, face à política destrutiva do meio ambiente e das culturas ancestrais, hoje ameaçadas de extermínio. O governo Bolsonaro, sistematicamente, agride os povos indígenas ao facilitar a invasão de suas terras e o assassinato de seus líderes. Diante da crescente ameaça e dos retrocessos impostos pelo Estado Brasileiro aos povos originários das Américas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) lançou a campanha Sangue Indígena: nenhuma gota a mais.
india-guajajara.jpg
Candidata a vice-presidente da República, a índia Guajajara integra a comitiva que tem levado a luta dos povos da Floresta ao conhecimento do mundo
O objetivo é o de mobilizar a sociedade em defesa dos direitos indígenas e pressionar o governo brasileiro e empresas do agronegócio a cumprirem os acordos internacionais sobre mudança do clima e direitos humanos dos quais o Brasil é signatário – como o Acordo de Paris; a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante consulta livre, prévia e informada; a Declaração da Organização das Nações Unidas sobre direitos dos povos indígenas e a Declaração de Nova York, entre outros. Bolsonaro, em suas falas, sempre agrediu de modo racista os povos indígenas. Durante sua campanha, ameaçou acabar com as reservas. Daí, ninguém pode, hoje, surpreender-se com a ação de seu governo! As organizações indígenas vêm resistindo ao longo de séculos a muitos massacres. Nas últimas décadas de democratização do Brasil, elas alcançaram várias conquistas à custa de muita resistência e articulação. Hoje, estes avanços estão ameaçados pela extrema direita de Bolsonaro. Este governo, que age de modo fascista, vem incitando criminosamente as invasões ilegais de terras indígenas por parte de madeireiros, garimpeiros, grileiros e fazendeiros. De modo escandaloso, vem esvaziando os órgãos ambientais como o IBAMA e o ICMBio, responsáveis pela fiscalização e execução das políticas ambientais. Desde o início de seu governo, tem promovido o desmonte de órgãos e fundos históricos como a FUNAI e o Fundo Amazônia.

Ecossistemas

A agenda de mobilização internacional pela Europa visa denunciar todas estas atrocidades e pedir ajuda dos organismos internacionais e de suas sociedades a se somar na luta para validar os direitos dos tratados internacionais e pressionar o governo brasileiro, afim de evitar o extermínio dos povos originários do Brasil. A destruição do meio ambiente, dos ecossistemas da Amazônia — onde se concentra a maioria dos povos indígenas — significa a morte anunciada. Cerca de 305 tribos vivem hoje no Brasil, o que representa cerca de 900 mil pessoas, ou 0,4% da população. Existem 690 territórios indígenas que cobrem cerca de 13% da área de terra do Brasil. 98,5%, quase todos esses territórios estão na Amazônia. A comitiva desta viagem internacional na Europa é composta por Sônia Guajajara, ex-candidata à Vice-Presidência da República, e os líderes indígenas Alberto Terena, Angela Kaxuyana, Célia Xakriabá, Dinaman Tuxá, Elizeu Guarani Kaiowá e Kretã Kaingang. Estes representantes esperam que a viagem seja um momento de fortalecer uma campanha de diálogo, pressão, denúncia, divulgação e conscientização da sociedade europeia sobre o atual contexto vivido hoje pelos povos indígenas no Brasil. Esta realidade ameaça a sobrevivência dos povos da floresta e a vida do planeta. Os embaixadores dos Povos da Floresta participaram do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, inaugurado no último dia 6 de outubro pelo papa Francisco, no Vaticano. Na ocasião, cobraram o respeito à cultura indígena e rejeitaram as “colonizações ideológicas” destrutivas ou redutoras. Na sequência, continuarão as visitas na Itália, Alemanha, Suécia, Noruega, Holanda, Bélgica, França, Portugal, Reino Unido e Espanha. Estão previstos, também, encontros com autoridades e líderes políticos: deputados do Parlamento Europeu e da Bancada Verde; o Alto Comissionado de instâncias de cooperação internacional, empresários, tribunais internacionais; ativistas, ambientalistas e artistas. Organizações sociais A delegação brasileira tem realizado, com êxito, sua excursão pela consciência da causa. Nesta segunda-feira, esteve no Parlamento Europeu para exigir que nenhum acordo de livre comércio com efeitos negativos sobre florestas, ecossistemas naturais e direitos humanos seja concluído pela União Européia. Para os indígenas brasileiros, o processo de adoção do acordo comercial UE-Mercosul deve ser suspenso até que a proteção da Amazônia seja garantida. Os sete líderes da Associação dos Povos Indígenas do Brasil pediram aos governos belgas que se oponham a qualquer tratado comercial que não leve em conta as consequências humanas e ambientais causadas pela importação de soja ou madeira exótica, segundo explicou Greenpeace a um jornal belga. Nesta ocasião também foi prestada uma homenagem a Paulo Paulino Guajajara, um nativo morto a tiros, na sexta-feira, por madeireiros ilegais que vieram cortar as árvores sem autorização. As representações das organizações indígenas do Brasil tem realizando um trabalho fantástico na Europa, que merece ser acompanhado por todos. Por favor, informem-se e divulguem nas redes; reproduzam em seus blogs e sites. Aqui na França, participam as organizações sociais Alerte France-Brésil, do FIBRA (Rebeca Lang é uma das articuladoras); além de outros ativistas de organizações francesas, que vêm acompanhado as atividades e promovendo alguns eventos neste sentido. Entre elas estão: Autres Brésils, Greenpeace France, Amnesty International France, Amazon Watch, Survival International, Weaving Ties, Nature Rights, Collectif Mario Pedrosa dentre outras. Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo