Proposta de Lula para a paz é considerada por Rússia e Ocidente

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Publicado Sexta, 24 de Fevereiro de 2023 às 11:45, por: CdB

O pedido reforça a proposta encaminhada por Lula em recente encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden. Em Washington, Lula sugeriu que países não envolvidos na guerra ajudem a encontrar uma solução para o problema.


Por Redação - de Brasília e São Paulo

No primeiro aniversário da operação militar russa na Ucrânia, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou o pedido para formação de um grupo de negociação de paz entre os dois países. A afirmação foi publicada nas redes sociais do líder popular, nesta sexta-feira.

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Lula e Biden conversaram sobre a guerra na Ucrânia e prometeram trabalhar pela paz


“É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz”, escreveu Lula.

O pedido reforça a proposta encaminhada por Lula em recente encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden. Em Washington, Lula sugeriu que países não envolvidos na guerra ajudem a encontrar uma solução para o problema.

Dias depois da declaração, Moscou concorda que analisa a proposta do presidente brasileiro. Na véspera, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, em entrevista à agência russa de notícias Tass disse ter anotado as indicações.

— Tomamos nota das declarações do presidente do Brasil sobre o tema de uma possível mediação, a fim de encontrar caminhos políticos para evitar a escalada na Ucrânia, corrigindo erros de cálculo no campo da segurança internacional com base no multilateralismo e considerando os interesses de todos os atores. Estamos examinando as iniciativas, principalmente do ponto de vista da política equilibrada do Brasil e, claro, levando em consideração a situação ‘no terreno’ — afirmou Galuzin.

Voto anti-Rússia


Ainda no final da tarde passada, a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma resolução a exigir a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia e uma paz “justa e duradoura”. O Brasil votou favoravelmente ao texto sob o argumento de que ele reforça os apelos de que a comunidade internacional deve redobrar os esforços na busca pela paz na região. A retirada do exército russo da Ucrânia sem pré-requisitos, argumentou o representante do Brasil na assembleia, é um chamado aos dois lados para interromper a violência.

Para o jornalista Breno Altman, editor da revista brasileira Opera Mundi, no entanto, “a decisão do Brasil de votar favoravelmente à resolução capitaneada pela União Europeia e endossada pelos Estados Unidos é muito grave e tem uma relevância que deve ser acompanhada”.

Segundo Altman, a resolução aprovada com o apoio do Brasil “é a mesma resolução de sempre, que atribui exclusivamente à Rússia todas as responsabilidades pela guerra da Ucrânia”. O texto não leva em consideração que a Rússia agiu em autodefesa diante da expansão da Otan rumo ao Leste Europeu, argumenta o jornalista:

— O que fez a União Europeia como uma manobra para atrair alguns países da América do Sul, e particularmente o Brasil? Fez um enxerto falando da necessidade de buscar uma paz ‘justa, duradoura e sustentável’, que é uma parte do discurso do presidente Lula. No entanto, esse enxerto não tem qualquer conexão com um esforço sério de buscar a paz, porque para esta resolução da ONU essa paz ‘justa, duradoura e sustentável’ seria resolvida a partir do momento em que a Rússia se retirasse de todos os territórios internacionalmente reconhecidos da Ucrânia, incluindo suas águas territoriais, incluindo a Crimeia.

E detalha: “Ou seja, a paz - na resolução - está associada à capitulação russa, à derrota militar da Rússia”.

— E o Brasil, surpreendentemente, resolveu votar a favor desta resolução, que é uma resolução anti-Rússia, não pela paz — observou ainda o editor.

Ocidente


Na assembleia da ONU, 141 países votaram a favor (incluindo o do Brasil), 7 contra (Rússia, Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Nicarágua, Mali e Síria), com 32 abstenções.

— O elemento mais importante da resolução é o apelo à comunidade internacional para redobrar seus esforços para alcançar uma paz justa e duradoura na Ucrânia — afirmou o embaixador Ronaldo Costa Filho, representante do Brasil na ONU.

Segundo ele, há um “importante elemento humanitário” na resolução, ilustrado pelo “apelo à integral adesão de todas as partes a suas obrigações sob o direito humanitário internacional”.

— Todas as medidas possíveis devem ser adotadas para minimizar o sofrimento da população civil. É hora de iniciar conversas pela paz em vez de estimular o conflito. O Brasil considera o apelo pela cessação de hostilidades como um chamado aos dois lados para interromper a violência, sem pré-requisitos — afirmou.

Bem e mal


Costa Filho declarou, ainda, que “nenhuma suposta dificuldade para implementar nosso apelo pela interrupção das hostilidades deve ser vista como um obstáculo para iniciar as negociações”. 

— O Brasil está pronto para participar dos esforços para uma solução duradoura para este conflito — emendou.

Na resolução, o fórum da ONU reiterou o “compromisso” com a “integridade territorial” da Ucrânia. A Assembleia-Geral exigiu que a Rússia “retirasse imediata, completa e incondicionalmente todas as suas forças militares do território da Ucrânia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”.

— É uma maioria esmagadora da comunidade internacional e isso confirma o alto nível do apoio à Ucrânia como vítima da agressão russa — afirmou o alto representante de Política Externa da União Europeia, Josep Borrell.

Desde quarta-feira, representantes de dezenas de países desfilaram na tribuna da ONU para apoiar a Ucrânia. Kuleba, por sua vez, exortou o mundo a escolher “entre o bem e o mal”. Devido ao veto da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, que impede qualquer decisão sobre a Ucrânia contrária a Moscou, a Assembleia-Geral assumiu as rédeas desse dossiê há um ano.

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