Presidente afunda à medida que avançam investigações da CPI

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Publicado Quarta, 07 de Julho de 2021 às 13:50, por: CdB

Bolsonaro é mencionado nas mensagens trocadas pelo representante da Davati Medical Supplies e outras pessoas que participaram de uma negociação para a venda de 400 milhões de doses de imunizante ao Ministério da Saúde.

Por Redação - de Brasília

Quanto mais avançam os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, pior fica a situação política do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). O escândalo da negociação de vacina com propina à medida em que o conteúdo extraído do celular do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, confiscado pela CPI da Covid, é a mais nova peça acusatória contra o mandatário neofascista.

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Bolsonaro parece derreter frente à ineficiência de seu governo e sua reeleição

Bolsonaro é mencionado nas mensagens trocadas pelo representante da Davati Medical Supplies e outras pessoas que participaram de uma negociação para a venda de 400 milhões de doses de imunizante ao Ministério da Saúde.

Divulgada pela mídia conservadora, uma mensagem na qual Dominguetti disse a um interlocutor que Bolsonaro “foi informado sobre as vacinas”, novas mensagens publicadas voltam a implicar o atual presidente. Em 9 de março, Dominguetti, que atuava como representante de vendas da Davati Medical Supplies, trocou mensagens com Cristiano Carvalho, CEO da empresa no Brasil.

‘Comprar tudo’

Quatro dias depois, em 13 de março, Dominguetti diz que uma reunião entre Cristiano Carvalho e Bolsonaro está sendo providenciada: “Estão viabilizando sua agenda com o presidente”, escreve o PM ao CEO.

O nome de Bolsonaro volta a aparecer nas mensagens em 16 de março, quando, ainda segundo revela uma revista semanal de ultradireita, uma pessoa de nome Renato escreve para Dominguetti: “Ontem, o Amilton falou com Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo”.

Amilton, conforme citado, é o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que, apesar de ter esse nome, é uma entidade privada que foi autorizada pelo Ministério da Saúde para negociar as vacinas com a Davati.

Também é do dia 16 a mensagem que já havia sido revelada pelo Jornal Nacional, na qual Dominguetti afirma a um interlocutor: “Segundo informações, o próprio presidente Bolsonaro já foi informado das vacinas”.

Sabia do assunto

As novas mensagens são um forte indício de que Jair Bolsonaro foi informado sobre a suspeitíssima negociação desde o começo.

Em 9 de março, data da conversa entre Dominguetti e Cristiano Carvalho, o diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Laurício Monteiro Cruz, enviou um e-mail para o dono da Davati, Herman Cardenas, nos Estados Unidos, autorizando o reverendo Amilton a negociar as vacinas em nome do ministério.

No dia seguinte, em 10 de março, o processo de compra já estava no sistema do ministério e, no dia 12, o então secretário executivo da Saúde, coronel Elcio Franco, se reuniu com Cristiano Carvalho.

Em seu depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias negou que tenha pedido propina nas negociações de compra da vacina AstraZeneca com o representante da empresa Davati Medical Suply, Luiz Paulo Dominguetti. Aos senadores, Dias explicou que a reunião foi “incidental” e ocorreu quando “saiu para tomar um chope”.

‘Chope casual’

Roberto Dias foi exonerado do cargo em junho, depois da denúncia de que teria pedido propina para autorizar a compra do imunizante. Segundo Dominguetti, Dias teria cobrado US$ 1 por dose na compra de 400 milhões de doses da vacina.

Roberto diz foi ao restaurante com José Ricardo Santanna, que trabalhou na Anvisa. O depoente relata que, durante um “chope casual”, apareceu o coronel Marcelo Blanco da Costa com Dominguetti, que fez menção às 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Como não era um evento marcado, combinado, ele afirmou não se recordar de detalhes.

— No restaurante chegou o coronel Blanco com esse senhor Dominguetti. Coronel Blanco foi meu substituto, foi indicação do general Pazuello — disse Dias, que não explicou como Blanco sabia que eles estavam naquele restaurante.

Em sua oitiva, no último dia 1º, o representante da Davati disse que “nunca se buscou uma facilidade por parte de Roberto Dias”.

— Essa facilidade não ocorreu porque ele sempre colocou o entrave no sentido de que, se não se majorasse a vacina, não teria aquisição por parte do ministério — disse Dominguetti. A proposta de propina teria sido feita exclusivamente por Dias.

Requerimentos

Antes da oitiva ao longo do dia, os senadores da CPI da Covid aprovaram requerimento de convocação do servidor do Ministério da Saúde William Amorim Santana. Seu nome surgiu durante depoimento da também servidora Regina Célia Silva Oliveira, fiscal do contrato da Covaxin, na última terça-feira.

Regina apontou que William Amorim teria encaminhado e-mails com o pedido de autorização da vacina Covaxin, negociação envolta em suspeitas de irregularidades. Os senadores também aprovaram a convocação de Andreia Lima, presidenta da VTC Operadora Logística, que mantém contratos com o Ministério da Saúde.

A CPI da Covid ainda aprovou requerimento para ouvir o reverendo Amilton Gomes de Paula. Ele é fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), organização social que apresentou Luiz Paulo Dominguetti Pereira a representantes do governo federal.

Reverendo

Os senadores também aprovaram, nesta quarta-feira, a convocação do reverendo Amilton Gomes de Paula a negociação de 400 milhões de doses da AstraZeneca em nome do governo brasileiro. Ele foi autorizado pelo diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz.

O requerimento de convocação é de autoria do senador e vice-presidente do colegiado Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Amilton é também presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) e deveria negociar as doses com a empresa Davati Medical Supply, intermediaria da compra no país.

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