No NYT, Greenwald denuncia Bolsonaro por prática violenta contra opositores

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Publicado Segunda, 25 de Novembro de 2019 às 12:06, por: CdB

"O movimento Bolsonaro, como a maioria das facções autoritárias, favorece a intimidação e a violência sobre o discurso cívico - contra seus adversários em geral, mas principalmente contra jornalistas que eles consideram obstáculos”, escreveu o jornalista Glenn Greenwald, no diário norte-americano The New York Times, nesta segunda-feira.

 
Por Redação - do Rio de Janeiro
  Algoz do ex-juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, o editor-chefe da agência norte-americana de notícias The Intercept, o jornalista Glenn Greenwald assestou suas baterias, desta vez, contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em artigo publicado no diário norte-americano The New York Times (NYT), um dos mais influentes do mundo. No texto, Greenwald denuncia ao mundo as práticas de Bolsonaro para intimidar jornalistas que denunciam as ações arbitrárias de seu governo.
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Glenn Greenwald, editor da agência norte-americana de notícias Intercept Brasil, sofre pressões e ameaças após denunciar o ex-juiz Sérgio Moro e Jair Bolsonaro
"O movimento Bolsonaro, como a maioria das facções autoritárias, favorece a intimidação e a violência sobre o discurso cívico - contra seus adversários em geral, mas principalmente contra jornalistas que eles consideram obstáculos. Previsivelmente, o clima para jornalistas desde as eleições presidenciais de 2018 se tornou muito mais perigoso do que antes", escreveu. Greenwald cita outros jornalistas que sofreram ataques semelhantes, entre eles Patrícia Campos Mello, jornalista do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo. A repórter divulgou “uma grande história durante a campanha de 2018 sobre financiamento ilegal  por meio de campanhas de mensagens pelo WhatsApp. Ela passou meses sendo alvo de ameaças, juntamente com uma rede de notícias falsas, altamente organizada e bem financiada, espalhando mentiras horríveis sobre ela", relata. Ameaças "Em julho, uma das jornalistas mais famosas e influentes do país, Miriam Leitão, da Globo, foi forçada a cancelar uma aparição pública depois de ter sido inundada de ameaças após os ataques do presidente contra ela". No mesmo mês, Greenwald relata que foi convidado a falar sobre nossas exposições jornalísticas em um famoso evento literário na cidade de Paraty que normalmente atrai autores e jornalistas internacionais. “Os organizadores do evento estavam tão preocupados com o número de ameaças de violência direcionadas a mim que exigiram que eu chegasse de barco pequeno e não por terra", diz ele. "Quando chegamos, tivemos fogos de artifício disparados contra nós, horizontalmente, pelos apoiadores de Bolsonaro. Ao longo do meu discurso, eles continuaram disparando fogos de artifício para nós, um dos quais pousou na multidão de 3 mil pessoas e acendeu uma bandeira em chamas. Os apoiadores de Bolsonaro, incluindo membros do Congresso de seu partido, comemoraram essa agressão".

Veículo blindado

O editor segue com as denúncias: "Depois que uma investigação da Globo no mês passado revelou os vínculos da família Bolsonaro com o assassinato de Marielle Franco em 2018, o presidente cumpriu sua promessa de cortar fundos públicos para a Globo. Há muito que ele ameaça fazer o mesmo com o jornal Folha, e até prometeu no último discurso que fez antes de ser eleito presidente que inauguraria um Brasil sem a Folha de São Paulo". "Quando fui chamado para testemunhar perante o Congresso em julho sobre as reportagens da The Intercept, vários membros do partido de Bolsonaro exigiram que eu fosse preso antes de deixar o prédio. Desde que começamos a reportar sobre o explosivo arquivo brasileiro da The Intercept, nem eu nem meu marido saímos de casa uma vez sem uma equipe de seguranças armados e um veículo blindado” "Antes de sua vitória em 2018, Bolsonaro passou quase três décadas como deputado à margem da vida política por causa de seu apoio manifesto à brutal ditadura militar que governou o país até 1985", relembra

Regime militar

"Recentemente, seu filho congressista, Eduardo Bolsonaro, e o Sr. Olavo de Carvalho ameaçaram explicitamente o retorno dos decretos da era da ditadura no caso de a desordem cívica exigir repressão“, acrescentou. "Felizmente, a Constituição do Brasil garante liberdades de imprensa ainda mais robustas e específicas do que as garantidas pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos. Enquanto houver uma imprensa livre, somos capazes de não apenas revelar a corrupção e os erros dos atores mais poderosos do país, mas também garantir que a história não seja reescrita, que os horrores das duas décadas de regime militar do Brasil não sejam esquecidos”, "É exatamente por isso que os membros do movimento Bolsonaro nos visam: eles sabem que transparência e discurso livre são os principais obstáculos para retornar o Brasil aos seus dias mais sombrios. Quanto mais eles mostram sua verdadeira face, mais resistência encontram. O trabalho dos jornalistas, o objetivo de uma imprensa livre, é garantir que essa verdade permaneça clara", conclui.
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