Liz Truss renuncia ao cargo de premiê do Reino Unido

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Publicado Quinta, 20 de Outubro de 2022 às 07:26, por: CdB

Após lutar por sua sobrevivência política, com parlamentares conservadores ameaçando derrubá-la, Liz Truss não resiste e deixa o cargo de primeira-ministra do Reino Unido. De acordo com a ex-premiê britânica, a escolha do novo líder do partido será realizada no Reino Unido, na próxima semana.

Por Redação, com DW - de Londres

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, anunciou nesta quinta-feira sua renúncia ao cargo, apenas seis semanas após assumi-lo e na esteira de um programa econômico que abalou o mercado e dividiu o Partido Conservador.

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Liz Truss não resiste e deixa o cargo de primeira-ministra do Reino Unido
Com Truss, três premiês britânicos já renunciaram ao cargo desde que o Reino Unido votou por sair da União Europeia. Antes dela desistiram os também conservadores Theresa May (2016-2019) e Boris Johnson (2019-2022). Em pronunciamento diante do Número 10 da Downing Street, Truss reconheceu não poder cumprir as promessas que fez quando estava concorrendo à liderança conservadora. A eleição de um novo líder do partido para substituir Truss, a pessoa a ocupar o cargo de premiê por menos tempo na história do Reino Unido, deverá ser concluída dentro da próxima semana. A primeira-ministra enfrentou duras críticas principalmente por anunciar um pacote econômico focado na redução de impostos, que afundou a libra e fez os índices de aprovação dela e os do Partido Conservador despencarem. – Assumi o cargo em um momento de grande instabilidade econômica e internacional. Famílias e empresas estavam preocupadas em como pagar suas contas, a guerra ilegal de Putin na Ucrânia ameaça a segurança de todo o nosso continente, e nosso país tem sido prejudicado há muito tempo pelo baixo crescimento econômico – disse. – Definimos uma meta para uma economia de baixo imposto e alto crescimento que tiraria proveito das liberdades do Brexit – declarou. "Reconheço que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador." A renúncia de Truss abre a disputa pela liderança do Partido Conservador e pelo cargo de premiê. Entre os cotados estão Rishi Sunak (segundo colocado na disputa anterior, que elegeu Truss), Penny Mordaunt (um ex-ministro da Defesa) e também o ex-premiê Boris Johnson, antecessor de Truss que continua sendo muito popular dentro do partido. O novo chanceler, Jeremy Hunt, descartou participar da disputa. Sunak é popular entre parlamentares conservadores, mas os membros do partido preferem Johnson. Lideranças do Partido Conservador disseram que a escolha de um novo líder deverá estar concluída em no máximo uma semana. A próxima eleição no Reino Unido está marcada para daqui a dois anos.

A trajetória política

Liz Truss assumiu o cargo de primeira-ministra do Reino Unido no dia 6 de setembro, quase dois meses após a renúncia de Boris Johnson, em 7 de julho. Em uma eleição entre os conservadores, ela foi declarada a nova líder do partido com 57,4% dos votos. Em um país governado pelo Partido Conservador nos últimos 12 anos, a parlamentar sobreviveu às crises internas e trilhou um rápido crescimento na carreira política, ocupando a chefia de diferentes ministérios: Justiça, Finanças, Comércio Internacional e, mais recentemente, do Exterior. Enquanto vários de seus colegas sofreram desavenças e intrigas dentro do partido, ela sobreviveu até mesmo à onda de demissões após a queda de Theresa May, que deixou a chefia do governo britânico em maio de 2019. Considerada leal e trabalhadora, Truss também saiu vitoriosa na última grande reforma ministerial de Boris Johnson, a quem apoiou até o final do mandato. Principalmente quando era ministra do Exterior, trabalhou sua imagem em redes sociais como Twitter e Instagram. Postou fotos na Praça Vermelha, em Moscou, e em visita a tropas britânicas na Estônia. Quando adversários questionaram sua competência – a exemplo da confusão que ela fez entre Mar Báltico e Mar Negro –, respondeu com fotos de sua visita à Ucrânia e jurou que faria frente a Vladimir Putin, algo que, para o Partido Conservador, é mais importante do que deslizes ocasionais de retórica.

Passado "ignorado"

Filha de uma enfermeira e de um professor de matemática, Truss teve uma criação mais voltada até mesmo para o lado esquerdo do espectro político. Levada a protestos antinucleares, por exemplo, resolveu dar um basta nesse passado, o que também se aplicou em relação ao seu início na política, no Partido Liberal, quando era estudante, um fato que ela tachou de "pecado juvenil". Truss agiu com igual indiferença em relação à sua transição de uma postura pró-União Europeia antes do referendo que levou ao Brexit, em 2016, para uma fervorosa defesa da saída do Reino Unido do bloco europeu. Nos últimos anos, a parlamentar moveu-se consistentemente mais à direita, apresentando-se como uma firme defensora da doutrina conservadora. Ao assumir o posto de premiê britânica, via-se como uma sucessora de Margaret Thatcher, que colocou a economia britânica no caminho do crescimento na década de 1980 por meio de medidas drásticas e polêmicas que incluíram privatizações e desregulamentações. Thatcher, no entanto, permaneceu durante 11 anos no poder.
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