Itamaraty em festa com a renúncia de Ernesto Araújo

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Publicado Segunda, 29 de Março de 2021 às 10:27, por: CdB

Nesta manhã, o agora embaixador sem posto definido reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro, para entregar sua carta de renúncia, após pouco mais de 800 dias à frente do Itamaraty. O chanceler cancelou compromissos marcados, após ser chamado de última hora por Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Por Redação - de Brasília

O Itamaraty recebeu com alegria a notícia da renúncia do chanceler Ernesto Araújo, nesta segunda-feira, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil junto a diplomatas de carreira, no Ministério das Relações Exteriores. A posição de Araújo ficou insustentável depois de se indispor com o Congresso.

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O futuro chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, acredita que nazismo é ideologia de esquerda. Caiu

Nesta manhã, o agora embaixador sem posto definido reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro para entregar sua carta de renúncia, após pouco mais de 800 dias à frente do Itamaraty. O chanceler cancelou compromissos marcados, após ser chamado de última hora por Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Araújo cancelou também a reunião geral com secretários, depois de ser convocado ao palácio. O encontro estava previsto para ocorrer ao meio-dia, até que o ministro recebeu o chamado presidencial. Na reunião, segundo fontes, Ernesto disse ao presidente estar disposto a deixar o cargo para não ser mais um problema para o governo na relação com o Congresso.

Chineses

A demissão estava na ordem do dia há algumas semanas, embora o presidente não tenha anunciado o substituto do chanceler. O nome mais forte no Palácio do Planalto, segundo ventilado pela mídia conservadora, é o do almirante Flávio Rocha, atual secretário de Comunicação Social e da Secretaria de Assuntos Estratégicas (SAE). Rocha tem o apoio do ministro das Comunicações, Fabio Faria.

Setores do Planalto, no entanto, sugerem um político para o cargo, de preferência um senador. Outro nome cogitado é o do embaixador do Brasil na França, Luiz Fernando Serra. O diplomata, porém, indicou a colegas que não gostaria de deixar Paris neste momento para voltar ao Brasil.

A gota d’água para a queda de Araújo caiu neste domingo, depois de o ministro acusar a senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO) de fazer lobby para os chineses, durante almoço no Itamaraty. Ao acusar a senadora, o ex-chanceler elevou o tom da cisão entre o governo Bolsonaro e o Congresso.

A senadora foi dura ao cobrar a demissão do ministro.

Apoio do clã

“O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal”, afirmou Kátia Abreu em nota neste domingo.

Presidente da Comissão de Relações Exteriores, a senadora disse que apenas argumentou para que não houvesse discriminação à China no leilão do 5G e chamou o ministro de “marginal”. Ela recebeu apoio expressivo de congressistas que já cobravam a demissão de Ernesto. A tese dos interesses chineses por trás da queda de Ernesto era um argumento alimentado, nos bastidores, por aliados do ministro no governo e por militantes conservadores nas redes sociais.

A declaração do ministro, no Twitter, foi interpretada como gesto “suicida” por diplomatas, e uma forma de construir uma versão para justificar sua saída do cargo. Parlamentares e diplomatas avaliam que o ministro teve apoio do clã Bolsonaro nessa contra ofensiva. Ele tem apoio público do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho do presidente que mais interfere na política externa.

Passou a hora

Vários senadores foram às redes, nas últimas horas, para defender a colega e pedir a demissão de Araújo. Entre eles o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), um dos principais partidos do Centrão.

“Lamento muito que justamente o responsável por nossa diplomacia venha a criar mais um contencioso político para as instituições. O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso”, escreveu Nogueira.

Weverton (PDT-MA) disse que “já passou da hora de Ernesto Araújo ser demitido do Itamaraty” e que ele, para se manter no cargo, abre uma guerra de fake news contra senadores.

— Se esse sujeito não sair, fica provado que este país não tem governo — resumiu o professor André Káysel, do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), minutos antes da renúncia de Araújo.

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