Guerra aberta entre Alcolumbre e Bolsonaro movimenta o Senado

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Publicado Sexta, 29 de Outubro de 2021 às 13:20, por: CdB

O parlamentar, a exemplo do presidente da República, disse nesta sexta-feira que desconhece os fatos. Em nota, o ex-presidente do Senado afirmou não ter envolvimento com os desvios.

Por Redação - de Brasília
Uma guerra de versões acerca de um esquema criminoso no Parlamento brasileiro movimentou, nesta sexta-feira, os gabinetes dos senadores. Após publicação na mídia conservadora que revela o golpe conhecido como ‘rachadinha’ - quando funcionários públicos devolvem parte dos vencimentos ao parlamentar que os contratou - realizado por servidores do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a ser citado no escândalo.
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David Alcolumbre teria embolsado dinheiro sujo, obtido com o esquema da 'rachadinha'
O parlamentar, a exemplo do presidente da República, disse nesta sexta-feira que desconhece os fatos. Em nota, o ex-presidente do Senado afirmou não ter envolvimento com os desvios. "Nunca, em hipótese alguma, em tempo algum, tratei, procurei, sugeri ou me envolvi nos fatos mencionados, que somente tomei conhecimento agora, por ocasião dessa reportagem. Tomarei as providências necessárias para que as autoridades competentes investiguem os fatos", diz a mensagem.

‘Fantasmas’

A revista semanal de ultradireita Veja revelou, em uma extensa reportagem, que Alcolumbre recebeu pelo menos R$ 2 milhões por meio da ‘rachadinha’. A publicação afirma que seis moradoras do Distrito Federal foram contratadas como assessoras do parlamentar, mas que nunca trabalharam para o Senado. Elas recebiam entre R$ 4 mil e R$ 14 mil, porém, não ficavam com os valores de forma integral. Após serem admitidas, diz a revista, as funcionárias ‘fantasmas’ abriam uma conta em um banco e passavam o cartão a uma pessoa de confiança do senador, que sacava os salários e benefícios a que teriam direito. Em troca, elas recebiam uma gratificação que, às vezes, não chegava a 10% do salário. Segundo a Veja, a prática começou em janeiro de 2016 e funcionou até março deste ano. O senador presidiu a Casa de 2019 a 2021.

Esquema

A revista ouviu as mulheres envolvidas no esquema. Marina Ramos Brito dos Santos, Lilian Alves Pereira Braga, Erica Almeida Castro, Larissa Alves Braga, Jessyca Priscylla de Vasconcelos Pires e Adriana Souza de Almeida disseram que proposta foi aceita porque estavam desempregadas e passavam por graves dificuldades financeiras. Marina, que diz ter sido exonerada sem aviso prévio quando estava grávida, contou que o convite para atuar no esquema foi feito pelo próprio Alcolumbre. — O senador me disse assim: ‘Eu te ajudo e você me ajuda’. Estava desempregada. Meu salário era mais de 14 mil, mas topei receber apenas 1 350 reais. A única orientação era para que eu não dissesse para ninguém que tinha sido contratada no Senado — disse aos repórteres. Além de Marina, Larissa e Lilian foram dispensadas do gabinete durante a gravidez. Elas entraram com uma ação na Justiça contra Alcolumbre, na qual anexaram documentos que mostram o vínculo que tiveram com o gabinete do parlamentar.

Indicação ao STF

Segundo a publicação, entre os documento há extratos bancários que comprovam que alguém realizava os saques das contas das ex-funcionárias assim que o pagamento era creditado. As retiradas eram feitas em um caixa eletrônico que fica a 200 metros do gabinete do senador. Alcolumbre preside a Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (CCJ) e, nos últimos meses, tem sido criticado por travar a votação da indicação do ex-ministro da Justiça André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda na nota, Alcolumbre afirmou que a reportagem se trata de uma "orquestração por uma questão política e institucional da CCJ e do Senado". O esquema da "rachadinha", no entanto, também já foi denunciada em outros gabinetes, como no caso do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), quando era deputado estadual no Rio, e no do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). O próprio presidente Bolsonaro é citado em processos em curso, no Judiciário, como beneficiado com o desvio de dinheiro público.  
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