Fim da hegemonia do dólar é a pedra no sapato dos EUA

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Publicado Quarta, 19 de Abril de 2023 às 14:25, por: CdB

Quanto às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o interesse bélico dos EUA e da União Europeia (UE) na questão ucraniana, os principais conselheiros dos presidentes brasileiro e norte-americano já entraram em campo por telefone, na noite passada, com o objetivo de acalmar os ânimos.


Por Redação - de Brasília

Embora o conflito na Ucrânia seja o abre-alas nas discussões sobre o relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos, nas últimas semanas, a hegemonia da moeda norte-americana nas operações globais do comércio externo é a pedra no sapato do governo de Joe Biden (Democrata). Chama a atenção dos analistas econômicos de Wall Street o volume de operações realizadas sem a necessidade do dólar como moeda internacional.

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Amorim foi o chanceler brasileiro durante todos os mandatos anteriores do presidente Lula


Quanto às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o interesse bélico dos EUA e da União Europeia (UE) na questão ucraniana, os principais conselheiros dos presidentes brasileiro e norte-americano já entraram em campo por telefone, na noite passada, com o objetivo de acalmar os ânimos.

Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan conversou longamente com o assessor especial da Presidência brasileira, Celso Amorim, sobre "a guerra da Rússia contra a Ucrânia", segundo o governo norte-americano; além de "uma série de questões bilaterais e globais". De acordo com a Casa Branca, eles discutiram também o combate às mudanças climáticas, os esforços dos dois países para salvaguardarem instituições democráticas e o G20, grupo do qual o Brasil assume o comando em dezembro.

Comércio


No campo do comércio internacional, no entanto, não passou despercebido dos conselheiros de Joe Biden o movimento do presidente Lula em sua recente viagem à China. Lula fechou, em menos de quatro meses de governo, dois acordos internacionais visando reduzir a dependência brasileira do dólar para importações e exportações. Os acordos foram assinados com Argentina, em janeiro, e China, neste mês – dois grandes parceiros comerciais do país.

Eles indicam um posicionamento econômico e geopolítico do novo governo sobre comércio exterior. Contam, inclusive, com apoio da presidenta deposta Dilma Rousseff (PT), que assumiu na semana passada a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco dos Brics, grupo de países que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul.

Os termos preveem que o Brasil possa usar sua moeda local para importar produtos argentinos e chineses. Empresários dos dois países também poderiam importar produtos brasileiros pagando com suas moedas locais – peso e yuan, respectivamente.

Novo câmbio


Atualmente, praticamente toda transação fechada por importadores ou exportadores brasileiros é feita em dólar, mesmo quando operacionalizada por empresários de fora dos Estados Unidos. Na prática, o real brasileiro é convertido na moeda norte-americana para pagamento de produtos enviados por empresas de outros países, assim como um empresário brasileiro recebe quase sempre em dólar mesmo quando exporta para países da América do Sul, Ásia ou África, por exemplo.

De acordo com o economista Bruno De Conti, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o uso do dólar nas transações implica em custo extra para os negócios brasileiros com outros países. Isso ocorre porque, a cada transação, são embutidas taxas para compra e venda de dólar via bancos ou corretoras.

— Quando a gente vai numa casa de câmbio e tem que comprar dólar e depois vender, sempre perde. A casa de câmbio fica com um pouco. Isso desfavorece todos nós, pessoas físicas ou jurídicas, que fazemos operação via dólar — explicou De Conti.

Transações


O especialista acrescenta, ainda, que essa preferência pelo dólar concede aos Estados Unidos um certo poder sobre todo comércio mundial, afinal só o país emite a moeda usada para essas transações. Além disso, impõe a países periféricos restrições econômicas.

A Argentina, por exemplo, reduziu suas importações do Brasil porque não tinha dólar para pagar produtos brasileiros. O país também enfrenta dificuldades para pagar suas dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), já que o órgão recebe pagamentos em moeda norte-americana.

— Os EUA têm muito mais liberdade de política econômica, não precisam se preocupar tanto com taxa de câmbio, tudo é denominado em dólar… Nós, os países periféricos, temos uma série de problemas por isso — concluiu.

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