Entrevista de Moro à TV Cultura mostra um ministro escorregadio e cauteloso

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Publicado Terça, 21 de Janeiro de 2020 às 13:13, por: CdB

A Vaza Jato revelou que Moro atuou com parcialidade enquanto juiz federal de primeira instância, formando um conluio com membros do Ministério Público Federal para atingir objetivos políticos a partir da Operação Lava Jato. Na prática, Moro atuou como chefe da operação e não juiz imparcial.

 
Por Redação - de São Paulo
  Ministro da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-juiz Sergio Moro falou, na noite passada, ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Evasivo e com pontas soltas eu seu discurso, o juiz que sentenciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a mais de 12 anos de prisão foi questionado sobre temas como escândalos no alto escalão do governo, assassinato da vereadora Marielle Franco e, especialmente, sobre a #VazaJato.
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O ministro Sérgio Moro se esquivou das perguntas mais polêmicas, com um discurso pré-ensaiado, que repetiu à exaustão
Nenhum jornalista que trabalhou nas publicações de mensagens vazadas – e que mostraram que a Lava Jato foi uma operação coordenada por Moro para tirar Lula da disputa eleitoral de 2018 – foi convidado para fazer parte da bancada de entrevistadores. O caso repercutiu negativamente nas redes sociais que, de forma espontânea, começaram uma campanha para pedir a presença de alguém da agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil, no programa. Não funcionou. De acordo com editorial do veículo que iniciou as investigações que incriminam Moro, os jornalistas presentes teriam passado por aprovação do ministro; o que foi negado pela âncora do programa, a jornalista Vera Magalhães, que estreava na função.

Imparcial

A Vaza Jato revelou que Moro atuou com parcialidade enquanto juiz federal de primeira instância, formando um conluio com membros do Ministério Público Federal para atingir objetivos políticos a partir da Operação Lava Jato. Na prática, Moro atuou como chefe da operação e não juiz imparcial. Mesmo sem jornalistas responsáveis diretamente pela Vaza Jato, o tema esteve presente em boa parte das perguntas. Como o discurso decorado, Moro desdenhou do escândalo. — A Vaza Jato é um episódio menor, nunca dei muita importância. Nunca entendi muito bem a importância daquilo. Foi utilizado politicamente para soltar pessoas condenadas por corrupção e enfraquecer o ministro — disse. Em outro momento, foi questionado sobre a parcialidade em seu trabalho como juiz. Moro repetiu que os vazamentos que deram origem à Vaza Jato são ilegais e devem ser desconsiderados. Na outra ponta, vazou ilegalmente conversas entre a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Palocci

Em outro caso de evidente parcialidade, Moro adiou um depoimento de Lula que estava previsto para acontecer pouco antes das eleições de 2018, alegando que tal evento poderia ter influência no processo (influência positiva para o PT). Contraditoriamente, o então juiz quebrou o sigilo de uma delação antiga do ex-ministro petista Antônio Palocci, que acabou publicada na imprensa seis dias antes do primeiro turno. Em outras palavras, adiou algo que poderia favorecer o PT e divulgou o que poderia prejudicar. Nas duas questões, Moro esquivou-se. — Quando fizemos o primeiro depoimento do Lula houve manifestações (…) No caso do Palocci, ele já tinha dado o depoimento. Não vi nenhuma importância — disse, ao defender que o caso do Palocci foi “super dimensionado”.

Imprensa

Moro driblou, um por um, os temas mais polêmicos, como o escândalo de corrupção envolvendo o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro e o caso Queiroz; a manifestação aberta de nazismo do ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim; o caso de corrupção envolvendo o secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten; os ataques de Bolsonaro contra a liberdade de imprensa e jornalistas. — Não cabe ao ministro da Justiça ser comentarista sobre tudo — foi a resposta padrão de Moro. Outras frases feitas foram: “Não vim aqui falar sobre o presidente (…) Cabe ao presidente fazer avaliações (…) Não preciso ficar externando conselhos que dou ao presidente”. Embora não tenham sido convidados para o Roda Viva, jornalistas da The Intercept Brasil estiveram ao vivo, em suas redes sociais, acompanhando todo o programa e publicando comentários. Com audiência que beirava as 14 mil visualizações simultâneas, rebateram as esquivas de Moro e ainda deixaram uma série de perguntas que eles fariam se estivessem lá.

Tacla Duran

Algumas boas perguntas foram feitas pela “bancada oficial”, como afirmou o editor executivo do veículo, Leandro Demori. A grande exceção foi Felipe Moura Brasil, da Jovem Pan, que pouco participou e, quando falou, mais pareceu um assessor do ministro, segundo os analistas. Quem também assistiu à entrevista de Moro e resolveu questioná-lo foi o advogado Tacla Duran, que afirma ter pago propina para um escritório de advocacia ligado ao então juiz Sérgio Moro. Duran se propôs a depor, na Câmara dos Deputados, mas foi impedido, segundo afirma, em uma articulação no cerne político do governo Bolsonaro. "Por que você não explica que negociou com Onix Lorenzoni para retirar o requerimento que ele havia feito para eu ser ouvido na comissão de segurança publica da Câmara?" - questionou pelo Twitter o advogado Rodrigo Tacla Duran. A pergunta ficou no ar, sem resposta alguma por parte do ministro.
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