Dividido, eleitorado evangélico quebra paradigmas caros à direita

Arquivado em:
Publicado Segunda, 20 de Junho de 2022 às 12:30, por: CdB

"Por exemplo, existem valores caros ligados à ideia de prosperidade que vão além do dinheiro, mas englobam, por exemplo, uma família em segurança, o filho longe do tráfico de drogas, um emprego para o marido e um bom destino para a filha", argumenta a pastora Viviane Costa.

Por Redação, com BdF - de São Paulo
Há uma falsa ideia de que apenas defender valores cristãos evangélicos é o suficiente para garantir o voto desse eleitorado, segundo pesquisadoras ouvidas pelo site de notícias Brasil de Fato (BdF), nesta segunda-feira. Porque o "eleitor evangélico" é um grupo bem variado, outros valores entram na conta, como a situação econômica, segurança pública, políticas de acesso à educação e pautas de financiamento e de fomento social também são questões levadas em consideração.
vestido-evangelico.jpeg
Os evangélicos estão longe de ser um grupo coeso e uníssono em relação à direita
Viviane Costa, pastora pentecostal e pesquisadora das relações entre religião e poder nas periferias cariocas, explica que o voto evangélico é determinado por outros fatores, além da religião, como raça, classe, gênero e região. — Esse é um primeiro ponto para conseguir entender qual é essa identidade múltipla que os evangélicos têm e suas diferentes demandas — disse. 

Voto evangélico

Em outras palavras, os cristãos evangélicos são uma população heterogênea. Isso significa que o que para determinada parcela é prioridade na hora de escolher um candidato; para outra, o mesmo assunto nem sempre é relevante. Trata-se de “um voto evangélico, mas também do voto de um pobre ou uma pobre, de um negro ou uma de uma negra, de um homem ou de uma mulher. Partindo disso, a gente precisa olhar quais pauta unem parte desses evangélicos”, afirma Costa. Segundo Magali Cunha, pesquisadora de mídias, religiões e política do Instituto de Estudos da Religião (Iser) e colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas, os temas que envolvem as esferas familiares geralmente são comuns a todos os evangélicos, porque a família representa “segurança, estabilidade, afeto e unidade”. Por exemplo, existem valores caros ligados à ideia de prosperidade que vão além do dinheiro, mas englobam, por exemplo, uma família em segurança, o filho longe do tráfico de drogas, um emprego para o marido e um bom destino para a filha. — Em 2013, quando Marco Feliciano foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, a pauta de ameaça à família já estava colocada, passando pela questão da sexualidade, das drogas, da ideológica – e aí entra feminismo, o empoderamento de mulheres, a juventude com a autonomia para pensar — afirma Cunha.

Armas de fogo

Com esses valores na mesa, as questões foram “deturpadas a partir de um pânico moral, de criar medo nas pessoas de que a educação sexual vai perverter e erotizar, de que a descriminalização do aborto vai fazer com que as mulheres ‘saiam matando as crianças que geram’, de qualquer discussão sobre drogas significar que os filhos serão drogados. Isso tem um apelo muito grande por conta do medo, e o medo afeta muito”, diz Cunha. É nesse sentido que questões como educação sexual e descriminalização e regulamentação do uso de drogas e flexibilização da posse de armas de fogo giram em torno da proteção da família.  —Quando a gente pensa em família, está falando no sentido mais abrangente da palavra. Não é só a sexual, mas também quando se fala de educação sexual nos ambientes de educação. Então quando falo de educação sexual, há uma associação à ameaça da ‘ideologia de gênero’, que pode desvirtuar as crianças — acrescenta Viviane Costa.

Família

Seguindo por este raciocínio, Costa afirma que “a família é tudo o que essas pessoas têm”, bem como a igreja. Da mesma maneira, a perseguição contra a igreja “aparece como uma pauta que mobiliza afetos, que são muito importantes para essas pessoas que vivem nesses lugares de pobreza, porque não se tem riqueza nesses lugares. — A única riqueza é a família, é a igreja, que é onde se constituem as redes de afeto e de apoio nesses lugares de pobreza, onde o Estado não chega. É muito mais no sentido de instrumentalização do que manipulação — concluiu.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo