Discurso de ódio do presidente ajuda eleitor a se definir pela direita

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Publicado Sexta, 03 de Janeiro de 2020 às 11:15, por: CdB

Pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público da FGV, Pimentel é coautor de um estudo sobre a relação entre o governo bolsonarista e a polarização política. Em junho, o grupo fez um experimento sobre a privatização da Petrobras.

 
Por Redação - de São Paulo
  O discurso contudente do Jair Bolsonaro, carregado de ódio, é definitivo para que o eleitor se identifique com a direita – e não o contrário. As opiniões do presidente influenciam como pensam seus eleitores, analisa o cientista político Jairo Pimentel, em entrevista à revista semanal de centro-esquerda CartaCapital.
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Veículo de grupos neofascistas passava em frente ao local do encerramento da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; no Centro de Curitiba
Pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público da FGV, Pimentel é coautor de um estudo sobre a relação entre o governo bolsonarista e a polarização política. Em junho, o grupo fez um experimento sobre a privatização da Petrobras. Dividiram os participantes em dois grupos: um soube que o ex-capitão apoia a venda da empresa; o outro, não. Entre aqueles que aprovam o governo e não souberam da opinião de Bolsonaro, 45% disseram “sim” à privatização. Na turma informada sobre o posicionamento do presidente, subiu para 57%. Os impactos desse fenômeno na atualidade na política brasileira dominaram a entrevista de Jairo.

Referência

A revista quis saber se o estudo revela o atual momento da democracia brasileira, ao que Jairo Pimentel respondeu que, “basicamente, (há) um quadro de polarização afetivo-ideológica”. — Identificar-se como “de esquerda” ou “de direita” varia conforme a opinião do eleitor sobre lideranças políticas, sobretudo Bolsonaro. Mostra também que a posição de esquerda ou direita está mais correlacionado com o voto em candidatos desses espectros do que no passado, indicando que direita/esquerda voltou a ser uma variável importante. Entretanto, essa auto-declaração não é uma afinidade ideológica — avalia. Ainda segundo Pimentel, “ele (eleitor) possui uma simpatia a essas figuras. Não é porque o eleitor se diz “de direita” que ele vota em um candidato de direita, mas, sim, porque, se gosta de um candidato que se diz de direita, ele assume para si essa referência política”. — Esse fenômeno é coordenado pelas lideranças políticas, o que leva a esse quadro de polarização. E o principal pivô de tudo isso é o fato de Bolsonaro se dizer “de direita” e, como liderança carismática, conseguir cativar seus eleitores a assumir também essa posição. O Estudo Eleitoral Brasileiro mais recente mostrou que 43% dos eleitores se declaravam de direita em 2018. Em 2014, eram apenas 27% — enumera. Punição Sobre a questão do antipetismo, se este fator definirá as disputas eleitorais de 2020 e 2022, Pimental afirma que “não foi apenas o antipetismo” o responsável pela eleição de Bolsonaro. — Vimos emergir também um movimento antiestablishment, e ambos foram amplificados pela Lava Jato. Os danos ao PT em face do impeachment de Dilma e os noticiário diuturno da Lava Jato em 2016 foram severos. Mas, depois do impeachment, o PSDB também acabou penalizado pelas investigações, sobretudo aquelas que envolviam a Aécio Neves — lembrou. De acordo com o cientista político, “em 2018, os eleitores puniram mais ao PSDB do que ao PT”. — E isso deslocou o antipetismo para o bolsonarismo. O antipetismo é um movimento de negação. O bolsonarismo é um passo adiante, um movimento de afirmação em torno de valores que se aglutinam em torno da figura do Bolsonaro. Obviamente, existem antipetistas que não são bolsonaristas, mas hoje o núcleo duro do antipetismo é o bolsonarismo. Mais do que o antipetismo, a polarização entre bolsonarismo e o petismo continuará sendo importante para definir as escolhas nas próximas eleições — avaliou.

Moderação

Pimental considera difícil prever se atmosfera de polarização no país tende a se arrefecer até as eleições. Para ele, “fatores externos – como a economia, denúncias de corrupção, etc. – podem afetar essa dinâmica e arrefecer os ânimos”. — Mas, olhando a dinâmica interna, não creio que haja essa tendência no curto prazo. Ao contrário, os discursos indicam uma tendência de aumento da polarização. Hoje, a lógica eleitoral, muito alimentada pelas bolhas nas redes sociais, cria uma lógica centrífuga de disputa, com pouca convergência para o centro — previu. Uma proposta mais moderada de governo, no entanto, teria chances mínimas “em um cenário como esse, sobretudo se a disputa se fragmentar em várias candidaturas centristas”, acrescenta o professor. — A fragmentação do centro favorece os extremos, que contam hoje parcelas significativas de adeptos mais fidelizados para levá-los ao segundo turno — concluiu.
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