Rio de Janeiro, 18 de Outubro de 2024

Dirigente do Hamas diz que o movimento não pode ser eliminado

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Sexta, 18 de Outubro de 2024 às 10:56, por: CdB

Basem Naim, membro sênior do escritório político do Hamas, citou diversos líderes mortos no passado e afirmou que seus falecimentos impulsionaram a popularidade do grupo entre os palestinos.

Por Redação, com ANSA – de Gaza

Um dirigente de alto escalão do Hamas afirmou nesta sexta-feira que o grupo palestino “não pode ser eliminado” com a morte de seus líderes, na esteira da operação militar de Israel que tirou a vida do comandante da organização, Yahya Sinwar, mentor dos atentados de 7 de outubro de 2023.

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Yahya Sinwar (em primeiro plano) foi morto em ataque israelense em Rafah

Em declaração publicada pela agência agência francesa de notícias AFP, Basem Naim, membro sênior do escritório político do Hamas, citou diversos líderes mortos no passado e afirmou que seus falecimentos impulsionaram a popularidade do grupo entre os palestinos.

– O Hamas é um movimento de libertação guiado por pessoas que buscam liberdade e dignidade e não pode ser eliminado – destacou o dirigente.

– Parece que Israel acredita que a morte de nossos líderes significa o fim do nosso movimento, mas o Hamas fica cada vez mais forte e popular, e esses líderes se tornam ícones para futuras gerações continuarem a jornada por uma Palestina livre – acrescentou.

Faixa de Gaza

Sinwar, 61, foi morto por acaso por uma patrulha das Forças de Defesa de Israel (IDF) em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, na última quarta-feira. No entanto, o falecimento foi confirmado apenas no dia seguinte, quando soldados voltaram ao local do combate e encontraram o corpo do líder em meio a escombros.

Ele era um dos principais alvos do Exército israelense desde os atentados de 7 de outubro, que fizeram 1,2 mil vítimas e desencadearam uma guerra com mais de 40 mil mortos em Gaza, porém o premiê Benjamin Netanyahu assegurou que o falecimento de Sinwar não significa o fim do conflito.

Saiba quem era Yahya Sinwar, o ‘açougueiro’ de Gaza

O líder do Hamas Yahya Sinwar, morto na quinta-feira pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) em uma ofensiva em Rafah, era considerado uma espécie de “açougueiro” da Faixa de Gaza.

– Vocês, europeus, não entendem o Islã, então não podem entender um homem como Yahya Sinwar. Mas desta vez nem mesmo para nós está claro o que ele realmente tinha em mente – explicou um analista israelense à ANSA, que preferiu permanecer anônimo.

Já o Exército lembrou de uma frase dele: “Vamos derrubar a fronteira com Israel e arrancar o coração de seus corpos”.

No final, o grupo fundamentalista islâmico atingiu sua meta, mas a decisão de entrar em ação no dia 7 de outubro continua a ser um enigma, apesar de os principais especialistas geopolíticos terem identificado que era do interesse do presidente da Rússia, Vladimir Putin, desviar o foco da guerra na Ucrânia para o Oriente Médio, com a ajuda substancial do Irã.

Sinwar, arquiteto e principal responsável por aquele “sábado trágico”, em que mais de 1,2 mil israelenses foram massacrados, foi classificado com vários adjetivos: cruel, carismático, manipulador e influente.

Este é um conjunto de características explosivas misturadas na mente de um homem que permaneceu em uma prisão israelense durante 22 anos após ter sido condenado a várias penas de perpétua pelo assassinato de três soldados das FDI e de 12 palestinos suspeitos de colaborar com o Estado Judeu.

O líder do Hama também é bem lembrado pelos agentes do Serviço de Segurança Interna de Israel, o Shin Bet, que o interrogaram no final da década de 1980.

– Com bravata, ele assumiu a responsabilidade pela punição infligida a um suposto informante. Ele convocou o irmão do homem, um membro do Hamas, e forçou-o a enterrá-lo vivo, jogando terra sobre ele até que ele sufocasse. Este é Yahya Sinwar – contou.

Em 2006, ele saiu da prisão com outros mil prisioneiros palestinos em troca da libertação do soldado israelense Gilad Shalit, prisioneiro do Hamas em Gaza há mais de cinco anos.

Sinwar havia usado todos os anos na cela para estudar o inimigo, aprendendo hebraico e lendo todos os livros disponíveis sobre os pais de Israel, de Vladimir Jabotinsky a Menachem Begin, a Yitzhak Rabin.

Israel

Uma vez libertado, declarou na televisão: “Sabemos que Israel tem 200 ogivas nucleares e a força aérea mais avançada da região. Não temos capacidade para desmantelar Israel”. Foi um engano.

Sua meta era “mostrar fraqueza para desviar a atenção de você mesmo e atacar na hora certa. Uma missão que muitos, infelizmente, lhe atribuem ter cumprido”.

Crescendo na área mais abandonada de Gaza, em Khan Younis, Sinwar apareceu no cenário político com seus conselhos locais ao fundador do Hamas, o xeque Ahmed Yassin, que também acabou sendo eliminado por Israel.

Em 2017, foi eleito líder do grupo para toda Gaza, substituindo Ismail Haniyeh, que, segundo alguns, foi “promovido’ a chefe do Hamas no estrangeiro, especificamente no Catar. Depois, Sinwar, conhecido como Abu Ibrahim, foi reeleito em 2021.

Os seus métodos violentos contra opositores e espiões palestinos contribuíram para torná-lo um líder proeminente, amado e temido pelo seu povo. A inteligência israelense recordou repetidamente a sua alcunha popular em Gaza: “o carniceiro de Khan Yunis”, que os próprios membros do Hamas tinham medo.

A sua ascensão dentro do grupo governante de Gaza baseou-se precisamente em uma reputação de crueldade e violência, que se enraizou entre os mais altos escalões da facção.

Depois de 7 de outubro, o chefe do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi, avisou: “Este ataque hediondo foi orquestrado por Yahya Sinwar. Ele e os seus homens já estão mortos”.

Até o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, o chamou de “um morto-vivo”, comparando-o a “um pequeno Hitler”. Depois de mais de um ano escondido como um fantasma nos túneis de Gaza, essas profecias finalmente se tornaram realidade em Rafah.

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