Teich, no entanto, não conseguiu poupar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao reforçar que integrantes do governo faziam um pesado lobby pelo uso da cloroquina contra a covid-19. O medicamento não tem comprovação científica para o tratamento contra a doença.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Durante seu depoimento à CPI da Covid no Senado, nesta quarta-feira, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich alegou falta de memória para não responder a algumas das indagações em relação à sua passagem pela pasta, o que irritou o relator da Comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
— Olha, eu fui ministro no século passado e lembro de tudo — disse Calheiros, ao ressaltar a importância de que Teich respondesse diretamente às perguntas formuladas.
Teich, no entanto, não conseguiu poupar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao reforçar que integrantes do governo faziam um pesado lobby pelo uso da cloroquina contra a covid-19. O medicamento não tem comprovação científica para o tratamento contra a doença.
Convocações
O ex-titular da pasta disse, ainda, que pediu demissão do cargo devido à "falta de autonomia" para fazer o gerenciamento da maior crise sanitária da história do país. Teich também sofreu críticas do vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), durante seus questionamentos.
Rodrigues, logo após o encerramento dos trabalhos, confirmou a convocação do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele foi classificado como “desonesto intelectual” pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ao sugerir ter garantido verbas para a compra de vacinas quando estas ainda nem existiam. Outro que foi chamado a prestar explicações foi o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Segundo Mandetta, Carlos participava de reuniões e influenciava na tomada de decisões sobre questões relativas a medidas de distanciamento social e o uso de medicamentos no combate à covid-19.
‘Familismo’
De acordo com o cientista político Cláudio Couto, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), a atuação do filho do presidente é exemplo do “familismo” e da falta de republicanismo que permeia o governo Bolsonaro.
Sobre o ministro da Economia, Couto afirma que Guedes “mais atrapalhou do que ajudou” nos esforços de combate à pandemia. Serviu como mais um “elemento desestabilizador” de um governo já bastante instável. Além disso, Mandetta chegou a suspeitar que Guedes influenciava Bolsonaro contra as medidas de distanciamento social necessárias para enfrentar a crise sanitária.
— Se depois de conversar com Guedes, o presidente ficava ainda menos propenso a tomar as medidas corretas, a coisa é muito grave. Além das questões da saúde, a CPI vai mostrando outras facetas podres e problemas graves do governo Bolsonaro — acrescentou Couto à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).
Longe da batalha
Já o ex-ministro Eduardo Pazuello, que deveria ter sido ouvido pela CPI em lugar de Teich, confirmou nesta tarde que o seu depoimento foi mesmo adiado. O general alegou que teve contato com dois oficiais que teriam sido contaminados pela covid-19, e que, portanto, deveria permanecer em quarentena. Dias antes, ele foi flagrado sem máscara num shopping de Manaus.
Para Couto, no entanto, a justificativa apresentada por Pazuello revela que ele está “morrendo de medo” de comparecer à CPI.
— (Pazuello) Deveria ter mostrado um atestado de desarranjo intestinal — ironizou o cientista político.
Couto também questionou se o ex-ministro não teria entrado em contato com os dois contaminados quando foi às compras em 26 de abril, quando foi flagrado andando sem máscara em um shopping de Manaus. O que colocaria em risco os demais frequentadores do centro comercial.
— Ou seja, Pazuello está mostrando que é um general covarde, medroso e que foge à luta — concluiu Couto.