Depoimento de Campêlo irrita os senadores, diante informações falsas sobre oxigênio em Manaus

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Publicado Terça, 15 de Junho de 2021 às 12:56, por: CdB

O ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo explicou que 85% da rede é dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado e 82% dos custos são bancados com recursos estaduais e outros 18%, federais.

Por Redação - de Brasília

Em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta terça-feira, o ex-secretário de Saúde do governo do Amazonas, Marcellus Campêlo, começou afirmando que os repasses do governo federal ao Estado chegaram tarde. De acordo com o ex-secretário em Manaus, foram solicitados ao Ministério da Saúde respiradores, monitores e bombas de infusão para a ampliação de leitos.

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Campêlo disse que não sabia responder às perguntas ou respondia com dados imprecisos

— Os repasses de recursos do Governo Federal, quando chegam, chegam num momento de diminuição de taxas de internação. O investimento foi feito em sua maior parte pelo governo do Amazonas — explicou, ao relatar que as verbas chegaram após a primeira onda da covid-19.

Campêlo explicou que 85% da rede é dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado e 82% dos custos são bancados com recursos estaduais e outros 18%, federais. Logo após a afirmação, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) interrompeu o ex-secretário em Manaus e perguntou porque foi contratado um hospital de campanha privado, enquanto tinha três andares de hospital público sem operação.

— Pegaram áreas de depósito e transformaram em área de UTI. Não aumentaram em um metro quadrado a área de UTI. Quando vossa senhoria fala, parece que o Amazonas não viveu o subsolo do inferno. É preciso começar a falar a verdade — disse o senador.

TrateCov

Ainda durante a oitiva, Marcellus Campêlo afirmou que enviou ofício no dia 31 de dezembro de 2020, solicitando apoio do governo federal, desmentindo as informações fornecidas pelo ex-ministro Eduardo Pazuello e a secretária do Ministério da Saúde, a doutora Mayra Pinheiro, que disseram, na CPI, que a solicitação chegou apenas em janeiro.

Segundo o ex-secretário de Saúde, no dia 4 de janeiro, Mayra Pinheiro foi ao estado e fez uma primeira reunião com a presença do conselho de medicina, de enfermagem e especialistas .

— O governador participou dessa reunião. Está tudo registrado pela imprensa. Vimos ênfase da doutora Mayra no tratamento precoce e sobre a disponibilização do TrateCov — diz ele.

Juiz criminal

Ainda nesta manhã, na abertura dos trabalhos, o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que não permitirá um depoimento virtual do empresário Carlos Wizard aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito. O senador disse que, se for necessário, vai determinar medidas restritivas como a apreensão de passaportes ou a condução coercitiva dele.

O empresário tenta prestar depoimento por videoconferência, mas, de acordo com o parlamentar, a postura dele é “incompatível com a dinâmica da CPI”. "Esclareço que aqueles que forem formalmente intimados e se recusarem a depor perante esta CPI terão sua solicitação intimada ao juiz criminal da localidade em que residem", disse Aziz.

O empresário apresentou requerimento para que sua oitiva ocorresse por videoconferência. Ele disse que está nos Estados Unidos. Desde a semana passada, a CPI da Covid tenta notificá-lo, mas sem sucesso.

Visita secreta

Chegou também ao conhecimento da CPI que o "gabinete das sombras", grupo de médicos pró-cloroquina acusado de aconselhar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, fez uma reunião secreta na sede do Ministério da Saúde, em Brasília, em 9 de setembro de 2020, dia seguinte a uma reunião no Palácio do Planalto.

O documento com a comprovação das visitas ao ministério foi obtido pela reportagem por meio de pedido com base na Lei de Acesso à Informação, em janeiro de 2021. Nele, são listados os mais de 41 mil registros de acesso às dependências no prédio principal do Ministério da Saúde, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, durante o ano passado.

As presenças dos médicos que defendem um suposto "tratamento precoce" contra a covid não foram registradas nas agendas oficiais do então ministro da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello, atual secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, e do então secretário-executivo Elcio Franco. A agenda do então secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos, Hélio Angotti Neto, não está mais disponível.

Autorização

Os registros de visitas à sede da pasta mostram que o médico virologista e professor da USP, Paolo Zanotto, que ficou conhecido por mencionar a expressão "shadow cabinet" (em português, “gabinete das sombras”) na reunião com Bolsonaro, foi um dos integrantes do grupo que visitou o ministério.

Em 9 de setembro de 2020, ele passou pela portaria da pasta às 13h56. Foi direcionado para o 8º andar, onde fica localizada a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, comandada à época por Hélio Angotti Neto, médico e discípulo do escritor Olavo de Carvalho. A área é responsável pela indicação de medicamentos ao Sistema Único de Saúde (SUS).

No documento, para cada visita, há o registro de data/hora, órgão e andar de destino, além do servidor responsável pela autorização. No caso de Zanotto, no entanto, algumas informações não constam. Nenhum servidor é apontado como autorizante. Ele tampouco foi direcionado a algum órgão específico, como é de praxe.

‘Valda’

O oftalmologista Antonio Jordão Neto também ingressou nas dependências da pasta na mesma data, às 15h40 – pouco menos de duas horas depois de Zanotto. Ele também esteve na reunião no Palácio do Planalto no dia anterior como presidente da Associação Médicos Pela Vida, grupo de médicos que promoveu o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para combater a covid-19.

No dia anterior, durante reunião com Bolsonaro e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) no Palácio do Planalto, transmitida ao vivo nas redes sociais do presidente, Jordão sentou ao lado do mandatário. Na ocasião, disse que Paolo Zanotto e a médica Nise Yamaguchi seriam "membros beneméritos" dos Médicos Pela Vida. Os dois ficaram conhecidos pela defesa enfática do "tratamento precoce".

O oncologista Eduardo Miranda Brandão, a ortopedista Tilma Belfort de Moura e a economista Maria Dulce de Souza Leão Sampaio também entraram no Ministério da Saúde em 9 de setembro, poucos minutos depois que Jordão, por volta das 15h40. Os três se identificaram na portaria como integrantes dos Médicos Pela Vida. Foram autorizados por uma servidora identificada apenas como "Valda".

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