Denunciado na CPI da Covid, Bolsonaro toma medidas desesperadas

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Publicado Terça, 01 de Junho de 2021 às 15:07, por: CdB

Omar Aziz acrescentou ser “impossível não responsabilizar Bolsonaro”, uma vez que o mandatário aposta na chamada ‘imunidade de rebanho’ e no ‘tratamento precoce’ com medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina.

Por Redação - de Brasília

Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou nesta terça-feira que já dispõe de subsídios suficientes para indiciar o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), por crimes de responsabilidade por pregar o uso da cloroquina, remédio ineficaz e perigoso para os brasileiros; além de sabotar a compra de vacinas.

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O general Pazuello participou do ato público, ao lado de Bolsonaro, ambos sem máscaras higiênicas

— Já temos provas suficientes de que o Brasil não quis comprar vacina. Isso não tem mais o que provar. Tenha a certeza de que a CPI não vai dar em pizza — disse o senador, a jornalistas.

Omar Aziz acrescentou ser “impossível não responsabilizar Bolsonaro”, uma vez que o mandatário aposta na chamada ‘imunidade de rebanho’ e no ‘tratamento precoce’ com medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina.

— Essas duas coisas estão diretamente ligadas a ele. Não tem jeito. Ele (Bolsonaro) foi quem falou diretamente sobre cloroquina. (O presidente) se reunia muito mais com o ‘gabinete paralelo’ do que com o ministro da Saúde. Comportamento atípico em relação a qualquer líder mundial. Nem em uma republiqueta, que não tem absolutamente nada, o líder fica sem máscara, fica falando esse tipo de coisa — acrescentou.

Nomeado

Em uma tentativa desesperada, na tentativa de blindar o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde que responde a um processo na Justiça Militar por comparecer a um ato político, o presidente resolveu nomeá-lo, nesta tarde, para um cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à presidência da República. Pazuello é, agora, secretário de Estudos Estratégicos no órgão, segundo edição extra do Diário Oficial da União.

O ex-ministro está entre os principais alvos da CPI da Covid, investigado por agravar a pandemia no país. O general falou à Comissão e tentou blindou o presidente Bolsonaro, mas foi reconvocado após constatadas mentiras ao longo do depoimento.

Há duas semanas, o militar da ativa participou de um ato político no Rio de Janeiro ao lado de Bolsonaro, o que constrangeu o comando do Exército e Pazuello precisou apresentar explicações em um processo disciplinar e deverá ser punido, se for aplicado o Código de Conduta das Forças Armadas, caso não peça o desligamento da tropa e passe à reserva da Força. Esta opção, no entanto, não estava no plano do general, que ainda precisará depor, uma outra vez, à CPI.

Cloroquina

Ainda na Comissão, nesta terça-feira, a médica Nise Yamaguchi prestou depoimento e revelou ter participado de reuniões com o empresário Carlos Wizard e o seguidor do astrólogo Olavo de Carvalho Arthur Weintraub, para discutir tratamentos da covid-19. Segundo a médica, Wizard integrou um "conselho científico independente". Ela disse que participou de duas reuniões presenciais com o bilionário sobre o uso da hidroxicloroquina no "tratamento precoce" da covid-19.

Sobre Weintraub, Yamaguchi informou que ele discutiu com ela em diversas ocasiões "a possibilidade de médicos prescreverem esses medicamentos". Ela revelou que o olavista esteve em reuniões dos Médicos Pela Vida.

Ao todo, o governo Bolsonaro gastou mais de R$ 11,2 mil em passagens e diárias de viagens para um grupo de médicos ir à Brasília participar de um evento de estímulo ao tratamento precoce que acabou sendo cancelado. Entre eles estava a médica Yamaguchi, que confirmou ter utilizado a passagem paga pelo governo para ir a Brasília durante depoimento à CPI da Covid. 

— Eu pagava minhas passagens. Só uma vez que o governo quem pagou — admitiu.

Cancelado

Além de Yamaguchi, os médicos Paulo Olzon Monteiro da Silva, Anthony Wong e Paulo Mácio Porto de Melo também usufruíram dos trechos aéreos e da ajuda de custo mesmo após o evento ao qual eles seriam convidados ter sido revogado dias antes de sua realização.

Outras duas integrantes do grupo de profissionais da saúde, Rute Alves Pereira e Costa e Luciana de Nazaré Lima da Cruz, também tiveram as passagens emitidas pelo governo federal, mas não utilizaram. As informações constam no Portal da Transparência.

De acordo com a justificativa oficial, as passagens foram compradas para que os médicos participassem das atividades do Dia Nacional da Conscientização para o Cuidado Precoce, que estaria agendado para 2 de outubro. O evento, no entanto, foi cancelado após repercussão negativa na mídia.

Reuniões

Oncologista e imunologista, além de diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, é uma figura chave para mostrar como funcionou o gabinete paralelo do governo Bolsonaro na gestão da pandemia, composto de negacionistas que se recusaram a seguir as diretrizes científicas no combate à covid-19.

Esse grupo paralelo que contou com a participação da médica também cogitou mudar a bula da cloroquina, para incluir a covid-19 entre as doenças que poderiam ser tratadas pelo remédio.

Reportagem da agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil, publicada na véspera, com dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, mostra os registros da ida da médica à sede do Ministério da Saúde no ano passado.

De acordo com a lista, Nise Yamaguchi esteve no prédio em pelo menos quatro datas em junho, julho e dezembro de 2020. Em duas delas, a médica passou pela recepção mais de uma vez, nos períodos da manhã e da tarde – o que indica que teve reuniões que ocuparam todo o dia.

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