Demissão de Garcia: é hora da Fenaj, ABI e sindicatos punirem

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Publicado Quinta, 30 de Setembro de 2021 às 12:49, por: CdB

Diversidade de opinião inclui distorção da realidade? A demissão do jornalista Alexandre Garcia tornou pública e chamou ao debate uma realidade existente no setor da informação no Brasil. Um número importante de órgãos e profissionais da imprensa decidiu ignorar os princípios básicos do código de ética da profissão para se dedicar à desinformação. São jornais, rádios e canais de televisão especializados em deformar e distorcer a realidade, evitando qualquer compromisso com a verdade.

Por Rui Martins
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Alexandre Garcia tem como vocação seguir sempre o governo
Foi montada uma rede paralela de informações motivada principalmente por objetivos econômicos, para criar uma outra realidade política, social e religiosa, baseada na inverdade e nas teorias da conspiração, especializada na fabricação de fake news, notícias falsas ou contra-verdades.
Seria fácil demais estabelecer uma relação com o mundo descrito por George Orwell, com o premonitório livro 1984 e as teletelas espalhadas por todos os lugares.
Felizmente, não chegamos ainda aí com nossos celulares. Contudo, a proliferação das fake news, refazendo constantemente a realidade para uma parcela mais crédula da população, transformando a verdade em mentira, lembram o Ministério da Verdade.

OS JORNALISTAS QUE INFRINGEM A ÉTICA DO JORNALISMO DEVERIAM ESTAR SENDO JULGADOS POR SEUS SINDICATOS E PELA FENAJ

Antigo porta-voz de Figueiredo, o último ditador do ciclo militar de 1964/1985, Alexandre
 Garcia foi demitido da Globo em 1995 por ser "excessivamente governista"...
O Grande Irmão que todos respeitam e temem, mas ninguém vê, até poderia ser o deus usado para amedrontar com imaginários castigos eternos os dóceis, pobres e desprotegidos evangélicos.
Foram as redes de fake news, todo mundo sabe, que elegeram o presidente Bolsonaro e transformaram em poucos meses a maneira de se pensar no Brasil, a ponto de se criar a expressão gado, rebanho ou boiada para designar o coletivo enganado pelas falsas notícias.
...e agora da CNN por seu negacionismo contumaz.
Mas não se trata de um mundo orwelliano, porque a mistificação se opera sem a presença de uma ditadura opressiva. Inexiste um regime ditatorial, o domínio do pensamento se faz de maneira sutil.
Ou seja, o Brasil não vive um cenário de ficção, mas, em lugar da opressão, existe a indução ao erro. Esta é a função principal dos autores dos fake news, a maioria pequenos jornalistas especializados em deturpar as informações originais. São as falsas notícias espalhadas pelas redes sociais apoiadas nas inovadoras técnicas de informação, que permitem manipular centenas de milhares, milhões de pessoas.
Parece o 1984 orwelliano, mas, em lugar da opressão tirânica, existe a indução ao erro.
Dessa manipulação decorreu a desconfiança pela vacina contra o covid-19; a aprovação do desmatamento; a rejeição das máscaras e o chamado tratamento precoce ineficaz, mas que enriqueceu laboratórios fabricantes de cloroquina e outros falsos inibidores do vírus, fatores responsáveis pela morte de milhares de pessoas.
Nada disso teria acontecido sem os disseminadores de falsas informações, mesmo porque no resto do mundo ninguém acreditava em tratamento precoce contra o coronavírus.
Segundo o  Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, "o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, devendo pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação", de forma a "valorizar, honrar e dignificar a profissão".
Nesta nova realidade social em que a inverdade, a má informação e notícias falsas circulam impunemente, competindo com o jornalismo objetivo no afã de enganar a parcela da população desprovida de crítica, mais do que nunca é necessário que os órgãos profissionais da classe, como os sindicatos de cada Estado e a Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas, provoquem um grande debate nacional para desmistificar os criadores de notícias falsas, transmitidas por canais de televisão, rádios, jornais, redes sociais, etc.
Hoje até generais se vacinam, ainda que seja na moita
Pois não se trata, como argumentam os que incidem nessas práticas, de garantir a diversidade de opinião, mas sim de assegurar que a verdade prevaleça sobre narrativas que a distorcem criminosamente, como as negacionistas.
Quanto às ferramentas para tanto, elas já existem: são as comissões de ética dos sindicatos e a Comissão Nacional de Ética da Fenaj, definida como "um órgão judicante, independente, com poderes para apreciar, apurar e julgar [em última instância] as denúncias de transgressões ao Código Nacional de Ética cometidas por jornalistas".
Está na hora de atuarem para valer. (Publicado no Observatório da Imprensa e blog Náufrago da Utopia. Existe uma versão visual  Youtube, https://www.youtube.com/watch?v=uBbj53V_BJI)
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.
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