Crônica para o Rei Pelé

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Publicado Quarta, 03 de Janeiro de 2024 às 09:52, por: CdB

Pelé não ganhou em seus tempos áureos, na ativa, o que um craque de hoje ganha em um único dia na Europa, e muitos desses craques não jogarão na vida o que Pelé jogou em um único dia. Dia comum ou dia de clássico. Fase de grupo ou eliminatória.


Por Mariano Barros – de Brasília


Convenhamos, 29 de dezembro não foi um dia comum. Nem na terra, nem no cosmos. Nem no mundo dos vivos, nem dos mortos. Até o diabo entristeceu e cedeu sem contestar aos céus a alma que subia para o devido lugar que lhe fora reservado, pois só no céu tem grama verde, habitat natural da majestade que em 29 dedezembro se encantou.




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Pelé fez os gols mais bonitos já vistos e, de quebra, deixou por fazer o gol mais bonito (e genial) não feito na história

Pelé não ganhou em seus tempos áureos, na ativa, o que um craque de hoje ganha em um único dia na Europa, e muitos desses craques não jogarão na vida o que Pelé jogou em um único dia. Dia comum ou dia de clássico. Fase de grupo ou eliminatória. Amistoso ou copa do mundo.


Fez os gols mais bonitos já vistos e, de quebra, deixou por fazer o gol mais bonito (e genial) não feito na história do futebol, que é este que ilustra a prosa.


Venceu três copas, fez mais de mil gols. Não é um atleta de uma geração apenas como os bons nomes de hoje, eu estou falando do atleta do século XX, desses homens que Deus, por engano ou por capricho, se excedeu nas pitadas de talento.



Herdeiros de Zumbi


Só vi meu pai brilhar os olhos para falar do meu avô e de Pelé. Era um orgulho de raça. Dos descendentes Zulus, dos herdeiros de Zumbi. Coisa de gente preta, que ama ver a ascendência de gente preta.


Meu pai incutiu Pelé em minha memória, muito mais do que o YouTube pôde me mostrar. E eu teclo estes caracteres lembrando dele e ouvindo Balada N° 7 interpretada por Moacyr Franco. Escuta aí também:


“Ergue os seus braços e corre outra vez no gramado / Vai tabelando o seu sonho e lembrando o passado / No campeonato da recordação / faz distintivo do seu coração / Que as jornadas da vida são bolas de sonho / Que o craque do tempo chutou”


Dia 29 de dezembro não foi um dia comum. Clamem os padres, pastores, rufem tambores nos terreiros… chamem urgentemente os engenheiros: Vila Belmiro, Maracanã, Aflitos, Arruda e outros estádios mundo afora, misteriosamente, racharam as arquibancadas cimentadas, pontualmente às 15h27 do dia 29/12/22: estavam vazias, mas todo mundo se feriu.


Descanse em paz, Pelé!


 

Mariano Barros, é vereador de Salgueiro (PE), advogado e cronista.


As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil




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