Copa do Qatar será a mais sustentável da história

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Publicado Segunda, 31 de Outubro de 2022 às 11:09, por: CdB

A gestão de resíduos, o uso de dessalinizadores de água do mar, a energia solar, a eficiência dos próprios estádios e o legado são pautas que regem a construção das sedes do torneio, com o Estádio 974 sendo o maior expoente.

Por Redação, com EFE - de Doha

Em um país cercado de deserto e comprometido com a gestão eficiente de recursos, a sustentabilidade se tornou uma necessidade. Um desafio que, na Copa do Mundo de 2022, no Qatar, foi marcado na construção dos estádios que receberão jogos e que fazem o torneio ser o mais “verde” da história.

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Em um país cercado de deserto e comprometido com a gestão eficiente de recursos, a sustentabilidade se tornou uma necessidade

A gestão de resíduos, o uso de dessalinizadores de água do mar, a energia solar, a eficiência dos próprios estádios e o legado são pautas que regem a construção das sedes do torneio, com o Estádio 974 sendo o maior expoente.

Erguido para receber 40 mil espectadores, o palco é a grande aposta da Copa e criou um “antes e depois” no que se refere a inovação, design e sustentabilidade. É o primeiro estádio coberto desmontável e reutilizável por completo, por ter sido integralmente construído com contêineres de transporte e aço modular.

O prodígio arquitetônico foi projeto pelo escritório Fenwick Iribarren e está localizado na região portuária de Doha, muito perto do mercado Souq Waqif e do centro da capital, sendo uma homenagem à tradição comercial e de navegação qatariana.

O nome do estádio, 974, não é apenas o código internacional telefônico do país, mas também o número exato de contêineres marítimos utilizados na construção. É como se fosse um jogo de blocos de montar para crianças.

– Decidimos fazer um estádio que desapareça depois do Mundial, que possa ser transportado, que possa ser desmontado e montado na Copa seguinte. Obviamente, a peça de transporte mundial é o contêiner marítimo, que é como um Lego – afirma Mark Fenwick, cofundador do estúdio Iribarren Architects (FIA).

O escritório, que projetou três dos oito estádios da Copa do Qatar – os outros são o Education City e o Al Thumama – disse à agência espanhola de notícias EFE que o “desafio claro” para o 974 era ser o mais sustentável já feito”, graças ao uso de computadores e simuladores, sobretudo, para o controle da temperatura.

Legado dos estádios da Copa para o Qatar

Para o arquiteto, a ideia de poder dar uma segunda vida aos estádios que serão utilizados no torneio é uma das partes essenciais do projeto.

– Obviamente, a grande vantagem é a possibilidade de reutilizá-lo. Eu posso desmontá-lo e posso montá-lo novamente e fazer outro estádio, ou posso fazer dez ou vinte edifícios menores diferentes – afirmou Fenwick.

Depois do torneio, a ideia é transformar os contêineres e a superestrutura para criar uma urbanização de frente para o mar e um centro de negócios.

O design e os materiais, contudo, não são os únicos pontos sustentáveis, mas sim a própria localização do estádio.

– Essa área era uma antiga zona industrial. Portanto, também fizemos um grande trabalho de recuperação e limpeza local – declarou Orjan Lundberg, um dos diretores de sustentabilidade da organização local da Copa do Mundo do Qatar.

– No 974, estamos construindo um estádio de nível mundial, que cumpre todos os requisitos da Fifa, a partir de um design puramente modular. Agora, temos estádios que contam com grandes e belos parques com instalações esportivas, áreas de brincadeira para crianças, pequenos restaurantes, cafés, muito concorridos à noite. São instalações que não existiam. Pensamos faz dez anos nestas áreas em particular. Esse legado já existe e seguirá existindo durante muito tempo – completou.

A reutilização dos estádios nas áreas propostas envolveu a participação ativa das comunidades locais, que expressaram as necessidades de seus bairros para a organização do Comitê Supremo da Copa do Mundo.

– Há muito legado ao redor do estádio, tanto dentro dos estádios quanto na área do entorno – explica Lundberg.

Economia circular e sustentabilidade no Qatar durante a Copa

Os estádios são projetados para serem sustentáveis em todas as áreas: energia, legado, gestão de resíduos e economia circular.

– O que nós fizemos é, obviamente, um design espetacular, de acordo com o país. Mas, também há um certo projeto no custo. O 974 também pode ser dos estádios mais baratos da Copa. Mas, acho que a funcionalidade do país está focada mais na sustentabilidade e também no cuidado. Uma das evoluções que há nesta Copa foi que eles querem torná-la mais humana, muito mais acessível para as pessoas – afirma Fenwick.

No Mundial do Qatar, os 64 jogos acontecerão em oito estádios que são separados por apenas 55 quilômetros, o que permitirá com que torcedores se hospedem em um mesmo local e possam ir às partidas que desejarem utilizando transporte público, apenas.

– O fato de que se possa ir de um estádio a outro usando metrô e ver todos os jogos de um dia é algo único. Acho que isso é uma comodidade para as pessoas que visitam, será algo único. Nunca antes houve essa proximidade – disse Fenwick.

Para erguer os estádios, foi pensado cada detalhe, conforte destacou Lundberg.

– Introduzimos algumas novidades no Qatar 2022, por exemplo, fomos a primeira Copa do Mundo a obter a certificação de sustentabilidade ISO 20121. Também fomos capazes de conseguir que seja totalmente neutra quanto a emissões de carbono, o que também é uma premissa – detalhou o dirigente.

O responsável pela área de sustentabilidade da organização local destaca que o processo começou “com o design dos estádios. Primeiro, uma solução ótima para situá-los e orientá-los de maneira que possam ter fluxos de vento e sombra adequados. Depois, nos atentamos à estrutura, para garantir que tivessem um bom isolamento. É como tentar manter o ar quente fora, e o frio dentro. É preciso ter um bom isolamento”.

Além disso, em um país onde a água é um bem precioso, foi possível otimizar o processo de filtragem da água salgada.

– A água doce é proveniente da dessalinização. Há um pouco de água doce, um pouco de dessalinização, mas a água que é utilizada para irrigação, no geral, é reutilizada. A água dos chuveiros vem a dessalinização. As águas residuais vão para as estações municipais de tratamento de água e a água volta a ser utilizada para irrigação – detalhou Lundberg.

Ar-condicionado e energia verde

O estádio Al Janoub, na cidade de Al Wakrah, que tem capacidade para 40 mil pessoas e foi projetado por Zaha Hadid, é outra das referências da Copa do Mundo.

– Todos os elementos levados em conta no design foram feitos de forma que não seja um “elefante branco”. Outro elemento, sem dúvida, indiscutível é o sistema de refrigeração, necessário, já que queremos jogar também no verão,  a Copa será no inverno do Qatar – segundo afirmou à EFE William Morales, gerente de operações do Al Janoub.

Graças à tecnologia de refrigeração inteligente e da ajuda do teto retrátil, o estádio é capaz de manter temperaturas estáveis para torcedores e jogadores, impedindo que o calor aumente.

– Não se refrigera todo o volume, apenas os torcedores, a mais de dois metros, é necessário resfriar. O ar circula e chega um momento dessa circulação que não é necessário resfriamento extra. Existe uma fazenda de painéis solares que fornece a energia e em momentos de pico de consumo de energia ou quando esta energia não está sendo utilizada é distribuída para a rede da cidade. O ar frio é para baixo, o ar quente sobe – detalha Morales.

Projetos cuidadosos, pensados nos torcedores, reutilização do legado para a comunidade e uma minuciosa análise da pegada energética fazem da Copa do Mundo no Qatar a mais sustentável e responsável da história.

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