Contrariado, chanceler ouve dos judeus que nazismo é ideologia de direita

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Publicado Terça, 02 de Abril de 2019 às 11:19, por: CdB

Bolsonaro visitou a exposição Flashes of Memory – Fotografia durante o Holocausto e depositou flores em homenagem às vítimas do nazismo.

 
Por Redação, com agências internacionais - de Jerusalém
  A visita do presidente Jair Bolsonaro ao centro de memória do Holocausto Yad Vashem, museu público israelense que lembra as vítimas os combatentes no genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas, significou mais um constrangimento ao chanceler Ernesto Araújo, que o acompanhava.
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Bolsonaro, acompanhado por Ernesto Araújo, recebeu uma aula de História e aprendeu que nazismo é obra da direita
Bolsonaro visitou a exposição Flashes of Memory – Fotografia durante o Holocausto e depositou flores em homenagem às vítimas do nazismo, antes de assinar o livro de honra do memorial. O complexo Yad Vashem abriga; além do museu, um centro de referência em pesquisas sobre o nazismo. Desnecessário pesquisar a fundo para conhecer o que a instituição traz em um resumo, logo no início da página que mantém na internet, sobre a ascensão do partido nazista na Alemanha entre as duas guerras mundiais.

Nazismo

Após o Tratado de Versailles, que selou a paz entre as principais potências europeias com o fim da Primeira Guerra, segundo explica o museu, havia um clima de frustração na Alemanha, "junto a intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do Comunismo”. O fato, ainda segundo o histórico, “criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista”. Araújo, em um artigo na internet, afirmou que "a esquerda fica apavorada cada vez que ressurge o debate sobre a possibilidade de classificar o nazismo como movimento de esquerda", explicando que, em um sua opinião, o nazismo foi um movimento de esquerda. "Livres dessa inibição, podemos facilmente notar que o nazismo tinha traços fundamentais que recomendam classificá-lo na esquerda do espectro político", escreveu o chanceler, que já havia expresso opiniões semelhantes em outras ocasiões.

Fascismo

Mas historiadores ouvidos pela agência britânica de notícias BBC dizem exatamente o oposto. Há, segundo os especialistas, uma "confusão de conceitos" que alimenta o debate. Eles explicam que o movimento se apresentava como uma "terceira via”. — Tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano surgem após a Primeira Guerra Mundial, contra o socialismo marxista, que tinha sido vitorioso na Rússia na revolução de outubro de 1917, mas também contra o capitalismo liberal que existia na época. É por isso que existe essa confusão — disse Denise Rollemberg, professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF). E ela acrescenta: — Não era que o nazismo fosse à esquerda, mas tinha um ponto de vista crítico em relação ao capitalismo que era comum à crítica que o socialismo marxista fazia também. O que o nazismo falava é que eles queriam fazer um tipo de socialismo, mas que fosse nacionalista, para a Alemanha. Sem a perspectiva de unir revoluções no mundo inteiro, que o marxismo tinha.

Arianismo

A ideia de uma "revolução social para a Alemanha" deu origem ao Partido Nacional-Socialista alemão, em 1919. O "socialista" no nome é um dos principais argumentos usados nos debates de internet que falam no nazismo como um movimento de esquerda, mas historiadores discordam. — Me parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas aconteceram. O que é fundamental aí é o termo “nacional”, não o termo “socialista’. Essa é a linha de força fundamental do nazismo, a defesa daquilo que é nacional e “próprio dos alemães”. Aí entra a chamada teoria do arianismo — afirmou à BBC o professor Izidoro Blikstein, titular de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário. Anteriormente, o embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, já havia afirmado ser "uma besteira completa" a afirmativa que o nazismo foi um movimento político de esquerda. O diplomata afirmou que há amplo consenso entre historiadores alemães e mundiais de que Hitler liderava uma corrente política de direita.
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