Chile vai às urnas dividido entre esquerda e radicais facistas

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Publicado Sábado, 18 de Dezembro de 2021 às 17:30, por: CdB

Segundo as pesquisas realizadas pelas empresas Cadem, Activa e Criteria, o candidato do campo progressista teria preferência entre 40% e 54% das intenções de votos contra 28% a 46% de Kast. Já o levantamento da empresa AtlasIntel aponta um empate técnico, Boric com 51,5% e Kast com 48,5% da preferência eleitoral.

Por Redação, com agências internacionais - de Santiago
Cerca de 15 milhões de chilenos foram convocados a escolher, neste domingo, quem será o próximo presidente de um país dividido entre extremos políticos. Na disputa, Gabriel Boric (Aprovo Dignidade), candidato de unidade do campo progressista, possui certa vantagem frente ao extremista José Antonio Kast (Partido Republicano) nas pesquisas de opinião publicadas nesta última semana. Tudo indica, no entanto, que a decisão será acirrada.
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Boric, candidato da esquerda chilena, chega às urnas com uma pequena vantagem frente ao candidato neofascista
Segundo as pesquisas realizadas pelas empresas Cadem, Activa e Criteria, o candidato do campo progressista teria preferência entre 40% e 54% das intenções de votos contra 28% a 46% de Kast. Já o levantamento da empresa AtlasIntel aponta um empate técnico, Boric com 51,5% e Kast com 48,5% da preferência eleitoral. As três últimas semanas de campanha entre o primeiro turno, realizado no dia 21 de novembro, e o segundo turno deste domingo foram marcadas pela disseminação de notícias falsas e ataques da direita contra Boric. Até o último debate presidencial, realizado no sábado, Kast voltou a propor um "teste anti-drogas" para os candidatos, sugerindo que seu oponente estaria consumindo substâncias ilícitas.

Neoliberal

Na última quinta-feira, ambos postulantes realizaram seu encerramento de campanha. O neoliberal extremado José Kast permaneceu na região metropolitana da capital, com um show no Parque Araucano. Enquanto Boric realizou sua atividade de encerramento em Valparaíso. Durante o ato, candidato de extrema direita voltou a animar o anticomunismo entre os seus apoiadores e comparar a ideologia de esquerda ao terrorismo. — Conheci a violência de esquerda. Os verdadeiros mentirosos, os verdadeiros construtores da falsidade são de esquerda — disse.

Narcotráfico

O postulante pelo Partido Republicano, considerado o "Bolsonaro chileno", recebeu o apoio da chapa governista e no seu "plano de governo concreto" propõe diminuir os impostos às empresas, aumentar os tratados de livre comércio e oferecer um "Estado menor, mais austero e a serviço das pessoas". No aspecto de segurança propõe restabelecer a "ordem e autoridade" para combater o narcotráfico. Em relação à educação, afirma que a tarefa do Estado será garantir que as famílias se ocupem de educar as crianças. — O recurso privilegiado nessa campanha foi o medo: medo ao comunismo, medo ao fascismo, uma inédita dupla campanha de terror — analisa o economista chileno, Rafael Agacino.

Apoios

Apesar dos ataques, o atual deputado pelo partido Convergência Social conseguiu aumentar seu leque de apoios para reverter a tendência do primeiro turno, que finalizou com a vitória de Kast com 27,9% dos votos. Além de incorporar as propostas de Yasna Provoste (Partido Democrata Cristão) e Marco Enríquez-Ominami (Partido Progressista do Chile - PRO), Gabriel Boric também se reuniu com a ex-presidenta chilena e atual Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet. — Há muitas coisas que valorizar no governo de Bachelet. Foi uma pioneira em instalar a paridade no seu primeiro gabinete, apesar de toda a resistência das elites do mundo político. Creio que aí ela abriu um precedente do qual nós não vamos retroceder — afirmou Boric. Durante o último debate presidencial, Boric já havia declarado que iria inspirar-se em Salvador Allende e Bachelet no seu governo.

Sistema de saúde

Em relação às críticas sobre as mudanças no seu programa político, Gabriel Boric afirmou que deseja cumprir suas promessas ao mesmo tempo que deve "se ater à realidade". Assegura, no entanto, que quer avançar para um "Estado que cuide das pessoas". Suas principais propostas são a reforma tributária, aumentando impostos sobre a mineração, assim como a criação de uma pensão básica universal no valor de US$ 297 (cerca de R$1600) e um sistema público de saúde. No Chile desde que o voto se tornou facultativo, há 10 anos, a média de participação eleitoral não ultrapassa 50%. O recorde foi o plebiscito popular, que contou com a opinião de 78,2% do eleitorado e abriu caminho para a convocatória da Convenção Constitucional, em outubro de 2020.

Constituinte

Boric foi uma das principais figuras que fecharam um acordo com o governo de Sebastián Piñera, da realização do plebiscito como saída para o fim das manifestações massivas iniciadas em outubro de 2019. "Saibam que vamos defender o processo constituinte. No nosso governo não admitiremos que se retirem direitos e que tratem os povos originários como inimigos", declarou em discurso. Desde 1990, com o fim da ditadura de Augusto Pinochet, este será a primeira decisão eleitoral sem a presença dos partidos tradicionais da direita e da esquerda chilena. Para o economista Rafael Agacino, apesar das novas caras, a disputa do Chile requer ainda mais organização popular para mudar o caráter tecnocrático do Estado. — Ainda que possamos eleger autoridades executivas ou legislativas, a evidência mostra que a institucionalidade política formal tende a ser neutralizada ou capturada por uma esfera fora do Estado, pelas corporações empresariais e seus think tanks — concluiu.
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