Chamado de mentiroso, o escorregadio Araújo coloca culpa de genocídio em Pazuello

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Publicado Terça, 18 de Maio de 2021 às 15:01, por: CdB

Durante seu depoimento, o ex-chanceler Ernesto Araújo contradisse suas diversas mensagens nas redes sociais e artigos publicados, na qual chamava o coronavírus de “comunavírus” e fazia ataques ao embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. Segundo ele, sua gestão no Itamaraty nunca foi ofensiva contra o país asiático.

Por Redação, com RBA - de Brasília

Ex-ministro das Relações Exteriores, o diplomata Ernesto Araújo foi acusado por parlamentares de “faltar com a verdade” durante seu depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira. Ele negou as críticas que fez e os ataques perpetrados contra o governo chinês, principal parceiro comercial do Brasil e também fornecedora de insumos para a fabricação de vacinas no combate à covid-19.

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Ernesto Araújo desdisse tudo o que falou ao longo do período em que esteve à frente do Itamaraty

Durante seu depoimento, Ernesto Araújo contradisse suas diversas postagens e artigos publicados, na qual chamava o coronavírus de “comunavírus” e fazia ataques ao embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. Segundo ele, sua gestão no Itamaraty nunca foi ofensiva contra o país asiático.

A senadora Kátia Abreu (PP-TO) foi a primeira a questionar sobre as contradições de Ernesto Araújo. Para ela, existem ‘dois Ernestos’: o que depôs à CPI mostrando um mundo cor de rosa e o que esbraveja nas redes sociais.

— O senhor não lembra de nada que importa, mas se lembra de questões mínimas e supérfluas. Parece que existe um Ernesto que está aqui e outro, que fica falando coisas diferentes em artigos e nas redes sociais. Qual personalidade devemos considerar? — questionou.

‘Bússola do caos’

A senadora afirmou que o comportamento do então chanceler com a China foi nocivo para o país, em particular na aquisição de vacinas. Ela classificou o ex-chanceler como “negacionista compulsivo” e disse que Araújo colocou o Brasil na condição de pária e de irrelevância internacionalmente.

Kátia Abreu lembra que a China, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, foram os mais atacados durante a passagem de Ernesto Araújo pela pasta de representação internacional do governo. Porém, hoje, para os brasileiros terem acesso às vacinas, “estão nas mãos das pessoas que Ernesto ajudou a atacar”.

No fim de sua participação na CPI da Covid, ela chamou o ex-ministro Ernesto Araújo de “omisso” e completou: “O senhor foi uma bússola que nos direcionou para o caos, para um iceberg, para o naufrágio da política externa brasileira”.

Spray em Israel

Ernesto Araújo também foi perguntado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão, sobre a viagem de uma delegação brasileira a Israel, em março. De acordo com o ex-chanceler, a viagem a Israel foi feita a convite do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. O intuito seria “antecipar a cooperação para ter acesso a medicamentos para o tratamento da covid-19”. 

Em especial, os brasileiros seriam apresentados a um spray nasal que estava ainda em fase inicial de testes. Um mês depois, o Itamaraty reconheceu que não houve acordo com os israelenses para a aquisição do alegado medicamento.

Além de Araújo, que foi repreendido por uma autoridade israelense para que usasse máscara num dos eventos diplomáticos, também participaram da missão o assessor internacional da presidência, Filipe Martins, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O ex-chanceler admitiu que ambos influenciavam na condução da política externa.

Martins, junto com outro filho do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), teria participado de uma reunião com representantes da Pfizer para a negociação de vacinas.

Aliado de Trump

O senador Humberto Costa (PT-PE), por sua vez, afirmou que está “tudo de cabeça pra baixo” no governo de Jair Bolsonaro, durante o combate à pandemia de covid-19.

— O chefe de comunicação (Fabio Wajngarten) foi autorizado pelo presidente para negociar um contrato milionário de vacina com a Pfizer. O governo está de cabeça para baixo, pois quem negocia os assuntos de saúde é um secretário de Comunicação — criticou o petista.

Humberto Costa recordou à CPI da Covid a fala de Ernesto Araújo sobre o Brasil ser um ‘pária internacional’ e acrescentou que os problemas de relações do Brasil estão fortemente ligados às ideias do astrólogo Olavo de Carvalho.

— A subordinação do governo brasileiro ao presidente Donald Trump levou ao problema atual. A política externa brasileira durante sua gestão foi o braço internacional da tese da imunidade de rebanho. O desinteresse em comprar vacinas e insumos faz parte dessa política, onde sabotaram a relação do Brasil com a China — acrescentou.

‘Boa diplomacia’

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) reiterou as falas de Humberto Costa sobre a forte relação ideológica do governo brasileiro com Steve Bannon, ex-assessor de Trump. O tucano também recordou que, após as falas de Bolsonaro sugerindo que covid-19 faria parte de uma guerra química, houve atraso no envio dos insumos para o Instituto Butantan, em São Paulo.

Tasso Jereissati perguntou se essas falas de Bolsonaro e Araújo contra a China fazem parte de uma boa diplomacia, mas o ex-chanceler disse que as declarações não correspondem à realidade daqueles momentos e que não se tratou de hostilidade.

— Então não sei mais o que é realidade — finalizou o senador.

Pazuello

O testemunho de Ernesto Araújo é o sétimo depoimento à CPI da Covid, que até agora ouviu os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich; o atual ministro da pasta, Marcelo Queiroga; o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres; o ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, Fabio Wajngarten; e o dirigente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.

Nesta quarta-feira, será a vez do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello comparecer à CPI. Na quinta-feira, será a vez da secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”.

— Todo mundo vem aqui culpar o Pazuello e ele estará aqui amanhã. Vai ser difícil vê-lo sentado ali e não enxergar o Bolsonaro, porque ele disse que obedecia quem mandava. Se houve problema com as vacinas? É culpa do Bolsonaro. Teve problemas com a China? É culpa do o Bolsonaro — resumiu Humberto Costa sobre o depoimento de Pazuello, marcado para esta quarta-feira.

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