Bolsonaro tenta acordo para evitar cadeia, avalia cientista político

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Publicado Sábado, 11 de Setembro de 2021 às 09:29, por: CdB

O inesperado recuo de Jair Bolsonaro, na quinta-feira, na “Declaração à Nação” articulada e redigida pelo ex-presidente de facto Michel Temer, aproxima-se de uma capitulação. Emparedado pelas instituições, precisou ceder para não ser retirado do cargo, debaixo de vara.

Por Redação, com RBA - de São Paulo
Desmoralizado junto ao eleitorado mais radical, que aposta na volta da ditadura e em pautas conservadoras, nos costumes, depois de reconhecer a derrota na tentativa golpista levada a cabo no último 7 de Setembro, Bolsonaro negocia, agora, para se manter longe da cadeia e evitar a prisão de seus filhos. Para o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), neste sábado, “a saída que ele encontra é de fato esse acordo” com os representantes dos demais Poderes da República.
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Bolsonaro saiu do 7 de Setembro como um baderneiro, derrotado no intuito de promover um golpe de Estado
O inesperado recuo de Jair Bolsonaro, na quinta-feira, na “Declaração à Nação” articulada e redigida pelo ex-presidente de facto Michel Temer, aproxima-se de uma capitulação. Emparedado pelas instituições, precisou ceder para não ser retirado do cargo, debaixo de vara. Os duros recados dos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, não deram margem a dúvidas de que Bolsonaro estava isolado e que os tribunais não recuariam ante tamanhas ameaças. Ainda que “cauteloso”, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deixou claro em seu posicionamento que não haveria mais o que discutir sobre voto impresso, tema no qual Bolsonaro voltou a insistir na quinta-feira à noite, depois do meia-volta volver perante o Supremo. Em Brasília sabe-se que não cumprir acordo fechado com Lira pode custar caro.

Costura

O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, presidente do PSD e um dos poderosos líderes do chamado ‘Centrão’, acendeu um holofote na possibilidade do impedimento presidencial. Mas, depois do recuo de Bolsonaro, o próprio Kassab ajudou a dissuadir o movimento ao afirmar a jornalistas que “não há risco de impeachment por conta desse episódio do 7 de setembro”. Para o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, a aposta de Bolsonaro de que poderia frear o STF, planejada para ser executada na Semana da Pátria, “foi por água abaixo”. — A saída que ele encontra é de fato esse acordo. E me parece que é um acordo que o tira de 2022. Ele sacrifica sua base mais fiel para fazer uma costura por cima. Essa costura significa produzir politicamente uma candidatura que seja capaz de derrotar o Lula. Se essa costura de fato vem, me parece que inclui viabilizar uma segunda via, que não é Bolsonaro — afirmou à RBA. Na opinião do professor, se não há ainda um nome capaz de galvanizar o eleitorado para essa missão, é porque esse nome “só vai surgir se eles tirarem Bolsonaro do caminho”. Esta seria uma das opções para o mandatário neofascista deixar o caminho livre e evitar a prisão, tanto dele quanto de seus filhos, uma vez que esta é considerada uma hipótese concreta, principalmente quanto ao vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o ’02’.

Radicais

Acusado de gerenciar o ‘Gabinete do ódio’ e disseminar mentiras contra os adversários, o ’02’, como é conhecido, responde ao inquérito das fake news, no STF, com o ministro Alexandre de Moraes na relatoria, chamado de “canalha” por Bolsonaro em seu discurso na Avenida Paulista. Aparentemente, a ficha de Bolsonaro caiu após a decepção no 7 de setembro. A frustração de sua base extremista é o preço a pagar. O presidente vai continuar com seu estilo, mas de certa maneira neutralizado. O que, daqui para a frente, pode “até ser útil” dentro do atual quadro, na opinião do cientista político. Os que parecem ter se dado mal com a costura são os militantes mais radicais e raivosos, que correm o risco de continuar sendo enviados à prisão. — Com o abandono dessa base mais radical, se continuar tendo figuras como Zé Trovão… Esses caras vão rodar. O acordo não passa por proteger esses caras, mas exatamente para limar esses caras. Quem sai protegido dessa são os filhos — presume Marchetti.

Fora de 2022

Segundo o cientista político, “a temperatura subiu para ele”. — Se tornou provável que o tema do impeachment voltasse à mesa, ainda que sendo um cenário difícil de acontecer. É só olhar para o Kassab. Ele se movimentando nessa direção foi significativo, e indica um outro ambiente no ‘Centrão’, mesmo que o PP seja uma base ainda mais fiel. Mas mostra que a temperatura começou a subir. E, segundo Marchetti, “há a possibilidade da prisão dos filhos”. — Isso está dado. O STF não tinha antecipado nenhum sinal de recuo em relação a isso e a capacidade de Bolsonaro de mobilizar alguma coisa que de fato pudesse frear o STF. Acho que isso foi por água abaixo. A saída que ele encontra é de fato esse acordo, e me parece que é um acordo que o tira de 2022 — concluiu.
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