Rio de Janeiro, 20 de Setembro de 2024

Bolsonaro e seus limites

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Sexta, 03 de Julho de 2020 às 07:06, por: CdB

No pressuposto de que pode tudo por ter sido eleito surfando na onda da negação da política, Bolsonaro tenta disfarçar sua incontornável incapacidade de governar promovendo escaramuças intermitentes contra inimigos, reais ou imaginários.

Por Luciano Siqueira - de Brasília

No pressuposto de que pode tudo por ter sido eleito surfando na onda da negação da política, Bolsonaro tenta disfarçar sua incontornável incapacidade de governar promovendo escaramuças intermitentes contra inimigos, reais ou imaginários.
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Bolsonaro tenta disfarçar sua incontornável incapacidade de governar
Uma necessidade visceral da estratégia do caos, meio caminho andado para uma aventura totalitária com lampejos fascistas. Diz-se que a vigência da Constituição se interpõe aos seus intentos, via um STF atento e predisposto a enfrentá-lo, tanto mais quanto agredido e ameaçado pelas hordas fascistóides nas quais o presidente se apoia. Mas o buraco é mais embaixo, está na correlação de forças real. Aqui e alhures, em qualquer época, a maldita correlação de forças determina o que pode ou o que não pode ser feito mesmo pelo mais poderoso dos exércitos. O bolsonarismo, essa coisa a um só tempo real e fantasiosa, não pode tudo, como bem deseja seu líder.

O Congresso Nacional

No meio do seu caminho também tem o Congresso Nacional, cuja composição reflete a complexidade da sociedade brasileira, o nível de consciência política da maioria (mesmo conjunturalmente) e um determinado jogo de forças historicamente influenciado pelos mecanismos pelos quais se elegem os senhores deputados e senadores e as senhoras deputadas e senadoras. Suas bases pedem soluções de curto prazo para problemas locais, viabilizadas através de emendas ao Orçamento Geral da União. Todo presidente precisa estar bem com o Congresso. E preservar boas relações com o Judiciário. A liberação de emendas parlamentares faz parte do jogo. Bolsonaro esticou a corda e agora se vê enredado numa teia de problemas de grande magnitude, que enfrenta basicamente pela retórica e não pela ação concreta. As crises sanitária, econômica, social e institucional batem à sua porta com a estridência que os processos judiciais que o envolvem e ao clã provoca. Há umas duas semanas o presidente botou o pé na embreagem e se omitiu de suas costumeiras provocações. Em certa medida pelos interesses reais agasalhados no seu governo, sobretudo do rentismo e de segmentos do grande empresariado agro-industrial -, essa trégua momentânea é saudada com exagerado entusiasmo e lhe dá tempo para respirar.

Até quando?

Em sentido contrário, na sexta-feira passada ocorreu o grande ato político “Direitos Já”, cuja dimensão e amplitude podem contribuir na evolução da correlação de forças em sentido contrário às pretensões do Jair Messias, como comentei em meu canal no Youtube . Nesse xadrez dramático da vida nacional, vejamos quem, como e quando moverá as peças. Se a construção da frente ampla progredir, parece que sim, o jogo poderá ser desempatado e uma nova correlação de forças possibilitará a desejada mudança de rumos.  

Luciano Siqueira, é Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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