Rio de Janeiro, 21 de Setembro de 2024

Bolsonaro promete, mas não entrega plano de retomada do crescimento

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Quinta, 05 de Maio de 2022 às 11:53, por: CdB

Tamanho otimismo começou a ser colocado em dúvida já em 2019 com os resultados pífios da atividade, e foram abandonados em março de 2020 com o choque da pandemia de covid-19 que jogou o país em profunda recessão.

Por Redação, com CartaCapital - de Brasília

O início do governo Bolsonaro se deu sob grandes expectativas de recuperação da economia. Após uma longa depressão, os índices de confiança de consumidores e empresários retomavam os níveis de seis anos antes. As taxas de juro caíam, e os preços das ações subiam. O ministro da economia, festejado pelo mercado, se permitia anunciar reiteradamente suas previsões de múltiplas reformas e de rápida retomada. O Brasil voltaria a “crescer 3,5% no curto prazo”.

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O Brasil voltaria a “crescer 3,5% no curto prazo”

Tamanho otimismo começou a ser colocado em dúvida já em 2019 com os resultados pífios da atividade, e foram abandonados em março de 2020 com o choque da pandemia de covid-19 que jogou o país em profunda recessão. Entretanto, mais de dois anos após esse choque, e transcorridos quase quatro quintos do mandato, o otimismo no discurso do governo (“o crescimento do país vai surpreender novamente”) e a avaliação positiva da economia continuam (o “Brasil tem um dos melhores desempenhos pós-pandemia”).

Buscando avaliar se esse otimismo possui base real, economistas propõe uma análise comparativa dos dados da última edição do ‘World Economic Outlook’, publicação semestral do Fundo Monetário Internacional, o FMI, que apresenta a visão do órgão sobre a evolução da economia global, incluindo as previsões sobre os agregados macroeconômicos por ele elaboradas para cada país.

PIB mais fraco

A análise foca nas previsões feitas para quatro agregados principais mensurados na forma de taxas: de crescimento do PIB, de investimento, de desemprego e de inflação. Para cada uma delas, analisa-se a posição relativa prevista para o Brasil em 2022 bem como para o período 2019-2022, que corresponde ao governo Bolsonaro.

Mesmo tendo revisto a taxa para cima em relação à edição anterior, o Fundo prevê que o PIB brasileiro crescerá apenas 0,8% em 2022, apesar da base deprimida pela longa estagnação e pelo crescimento nulo da economia em 2020 e 2021 no contexto da pandemia. Isso coloca o país com uma das taxas mais baixas do mundo no ano, a 180° entre 193 países. A taxa é inferior a um terço da taxa média esperada para a América Latina e Caribe (2,5%) e é a menor entre as grandes economias do mundo (excetuando a Rússia, hoje em guerra).

Embora a comparação resulte menos desfavorável para o país quando analisamos o período completo de quatro anos do governo Bolsonaro, o crescimento acumulado do PIB previsto pelo Fundo ainda é comparativamente baixo, o 129° entre 193 países e, em 2,6%, muito menor que a média mundial de 9,6%. A taxa anual média de apenas 0,65% sinaliza a continuidade da estagnação da economia a despeito de o Brasil ter se beneficiado na maior parte desse período de termos de troca e condições de financiamento externo favoráveis.

Taxa de investimento

A estagnação da economia brasileira não surpreende dada a taxa de investimento prevista de apenas 17,1% do PIB, entre as menores do mundo (147º entre 170 países), muito abaixo da média mundial (27,3%) e da América Latina e Caribe (20,5%). O baixo investimento pode ser explicado principalmente por quatro fatores.

Em primeiro lugar, pelas restrições ao crédito comumente enfrentadas pelos tomadores de crédito, em especial as micro e pequenas empresas, e pelas taxas de juro em geral extremamente elevadas, mesmo no período em que a taxa básica permaneceu em níveis historicamente reduzidos.

Em segundo, pela massa salarial estagnada há anos em razão do alto desemprego e da ausência de políticas públicas efetivas para reduzi-lo, restringindo o aumento do consumo e desalentando o investimento produtivo.

A política ultraliberal e a posição de confronto adotadas pelo governo Bolsonaro levaram a situação da economia brasileira a figurar hoje entre as piores do mundo. Para sair dessa situação, o primeiro passo é reconhecê-la. “Por isso, é muito preocupante o descolamento da realidade retratado na avaliação positiva ainda hoje propalada pela cúpula do governo”, resume o autor do texto, jornalista Emilio Chernavsky, na revista CartaCapital.

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