A defesa do uso de medicamentos banidos pelas instituições médicas a exemplo da hidroxicloroquina, no tratamento da covid-19, subsidia com provas as acusações que podem levar ao afastamento do presidente.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Apesar da pressão imposta por mais de 300 mil mortos, na atual pandemia, em pleno momento mais grave da crise sanitária com perto de 4 mil óbitos por dia, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), volta a bater na questão do que chama de “tratamento precoce”. Ele já responde por isso a processos no Supremo Tribunal Federal (STF) e, pela mesma razão, passa de 60 o número de pedidos de impedimento, na Câmara dos Deputado.
A defesa do uso de medicamentos banidos pelas instituições médicas a exemplo da hidroxicloroquina, no tratamento da covid-19, subsidia com provas as acusações que podem levar ao afastamento do presidente. Bolsonaro confirmou, nesta terça-feira, a visita a Chapecó, uma das poucas cidades brasileiras onde é incentivado o uso de drogas ineficazes contra o coronavírus, no tratamento de pacientes internados.
A cidade, segundo boletim da própria administração municipal, tem 100% de seus leitos de UTI ocupados por pacientes da covid-19. Em rede social, Bolsonaro disse a governadores e prefeitos para “não ter medo” e “ouvir o prefeito, um exemplo a ser seguido, por isso estou indo lá”.
Negacionista, o prefeito também liberou, no início da gestão, eventos com aglomeração na cidade, ampliando o horário de funcionamento de bares. Os casos de covid explodiram em fevereiro, obrigando Rodrigues a decretar um confinamento de 14 dias em março, ampliando o número de leitos de UTI. A queda de 61% ocorreu justamente ao final desse período.
Condenado
Para Bolsonaro, o prefeito fez um “trabalho excepcional” em resposta à covid-19. As UTIs continuam com lotação acima de 95%. A cidade tem 537 mortos pela pandemia, dos quais 410 foram registrados neste ano, durante a gestão do atual prefeito.
João Rodrigues foi condenado em duas instâncias e preso em 2018 após dispensa irregular de licitação quando era prefeito de Pinhalzinho (SC), município vizinho a Chapecó. Ele somente pode se candidatar, em 2020, após decisão liminar de Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Já o presidente faz propaganda do uso de remédios como cloroquina, azitromicina e ivermectina que; além de ineficazes, podem causar danos à saúde de pacientes. O elogio de Bolsonaro ao prefeito de Chapecó ocorre no mesmo dia em que o diário mais influente no Reino Unido, o The Guardian, afirma, em editorial, que o dirigente brasileiro de “extrema direita é um perigo para o Brasil e o para o mundo”.
Autoritarismo
O texto cita mensagem distribuída recentemente pelo ex-presidente colombiano Ernesto Samper: “Bolsonaro conseguiu transformar o Brasil em um gigantesco buraco do inferno”. Samper se referiu, no Twitter, à disseminação da variante P1 pelo Brasil, mais contagiosa, e que está colocando em perigo outros países.
O editorial do The Guardian lembra o histórico de Bolsonaro de homofobia e hostilidade a mulheres e minorias, de elogios ao autoritarismo e à tortura. Assinala, adiante, que “o pesadelo se revelou ainda pior na realidade”.
O texto destaca que Bolsonaro “permitiu que o coronavírus se alastrasse sem controle, atacando as restrições de movimento, máscaras e vacinas”. O Brasil já chega à média diária acima de 2,5 mil mortes, há semanas.
Morte suspeita
“Sua gestão desastrosa com a covid-19 parece estar causando dúvidas entre a elite econômica que anteriormente o abraçava. Algumas partes dos militares aparentemente compartilham desse mal-estar”, observa o The Guardian sobre a situação política de Bolsonaro. O jornal menciona o crescimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas e a movimentação das forças de centro e de direita.
“A possibilidade do retorno de Lula é suficiente para concentrar mentes da direita em encontrar um candidato alternativo, menos extremista do que Bolsonaro.”
A publicação cita, também, o mau uso de medicamento sem eficácia comprovada que levou a família do aposentado Lourenço Pereira, de 69 anos, a acionar a Justiça por não ter sido consultada sobre o uso de nebulização com hidroxicloroquina para o tratamento de covid-19, no paciente. Lourenço morreu no último dia 22 de março, dois dias depois de receber o medicamento no Hospital de Caridade de Alecrim, no Rio Grande do Sul.