Bolsonaro inicia o novo ano mais isolado, até entre militares

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Publicado Sexta, 31 de Dezembro de 2021 às 11:23, por: CdB

Nesta sexta-feira, o mandatário confirmou que encerrou o diálogo com o general Antonio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o inquilino do Palácio do Planalto, tornou-se "impossível" falar com o executivo da instituição.

Por Redação - de Brasília 
O ano chega ao fim para o presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio a uma saraivada de críticas e em queda livre nas pesquisas de opinião, prestes a perder até mesmo o lugar em um segundo turno, uma vez que seu adversário direto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem chance de vencer as eleições, em outubro, ainda no primeiro turno. Bolsonaro coleciona uma série de embates para o novo ano, na Justiça e junto à sociedade, agravado agora com o rompimento de uma amizade acalentada desde os tempos da caserna, na qual outros militares também repudiam o comandante em chefe.
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Bolsonaro em suas “lives” ultrajantes, pela linguagem e pelo conteúdo, e no seu “cercadinho” desacredita os Poderes do Estado
Nesta sexta-feira, o mandatário confirmou que encerrou o diálogo com o general Antonio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o inquilino do Palácio do Planalto, tornou-se "impossível" falar com o executivo da instituição, após questionar novamente decisão do órgão regulador de autorizar a vacinação de crianças contra a covid-19. Em sua última transmissão ao vivo deste ano pela internet, na noite passada, Bolsonaro disse que decidiu não vacinar a sua filha e levantou suspeitas sobre os riscos da imunização pediátrica contra o coronavírus. — Não quero falar mais da Anvisa aqui, porque ela fechou o diálogo, é impossível falar com o presidente da Anvisa agora. Vamos debater isso, está mexendo com a vida das pessoas. Minha esposa se vacinou. Nossa filha, e nós entendemos que ela não tem nada a ganhar com a vacina — afirmou ele.

Audiência

Procurada pela mídia conservadora, a Anvisa informou, por meio da assessoria de imprensa, que o diretor-presidente não deixaria de atender chamado ou contato do presidente da República. Bolsonaro afirmou que a vacinação das crianças deveria ser facultativa, mas ressalvou que o Ministério da Saúde tem autonomia para decidir e defendeu que as pessoas acompanhem a audiência pública que ocorrerá na pasta em 4 de janeiro que vai debater o assunto. No dia seguinte, o ministério deverá anunciar sua decisão. A cúpula da Anvisa tornou-se alvo de ameaças mais intensas depois que Bolsonaro passou a questionar publicamente a decisão do órgão de autorizar a vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos. A instituição tinha sido alvo inicialmente de ataques desde outubro de pessoas contrárias a esse tipo de vacinação. O caso está sob investigação da Polícia Federal e sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas Barra Torres não é o único militar que, uma vez próximo de Bolsonaro, agora se afasta. O coronel da reserva do Exército Marcelo Pimentel Jorge de Souza publicou, recentemente, em sua página no Facebook, um texto contundente contra o presidente brasileiro. O militar afirma sentir nojo de Jair Bolsonaro e vergonha por ter se formado na mesma Academia Militar que ele.

Desprezo

O coronel diz, ainda, que Bolsonaro e seus ministros militares desmoralizam as Forças Armadas.  “Sinto melancolia em ver boa parte dos oficiais de minha geração e ex-comandantes participando de um governo chefiado por uma pessoa política e intelectualmente despreparada”. “Como oficial da reserva do Exército e de acordo com o direito que me é assegurado pela Lei 7.524/86, declaro ter/sentir: nojo da pessoa que preside meu país; desprezo por quem participa de seu governo; repúdio por quem ainda hoje o apoia; asco em escutar sua voz ou a pronúncia de seu nome; vergonha de que tenha um dia passado pela mesma Academia Militar que me formou oficial do Exército Brasileiro; O coronel, no texto, ressalta sua “contrariedade com quem, minimamente informado, votou nessa pessoa pra ser presidente do Brasil; melancolia em ver boa parte dos oficiais de minha geração e ex-comandantes participando de um governo chefiado por uma pessoa política e intelectualmente despreparada, inepta e incompetente, além de desumana e extremamente grosseira e mal-educada. E encerra: “desesperança em perceber que grande parte dos oficiais e praças das novas gerações está seguindo o mau exemplo de alguns chefes e ex-chefes insensatos, ambiciosos, tolos ou idênticos ao capitão manobrado por generais; medo que o Exército, por intermédio da maioria de seus integrantes, seja transformado numa instituição à imagem e semelhança de seu atual ‘comandante supremo’, que continua sendo tratado como ‘mito’ nos quartéis em que comparece, sempre acompanhado por generais-ministros políticos que comandavam, chefiavam e guiavam as forças armadas brasileiras… até outro dia; e desconfiança de que alguns generais que se apresentam hoje como ‘dissidentes do governo’ e críticos (exclusivos) ao presidente, mesmo sendo, antes das eleições, as pessoas que mais o conheciam na face da Terra exceto a própria família (dele), sejam apenas aproveitadores de nova ocasião para manutenção do ‘Partido Militar’ no centro do poder e do cenário político nacional, agravando o processo de politização das Forças Armadas e seu reverso – militarização da poli1tica e da sociedade -, ambos nocivos para as Forças Armadas (Defesa) e o Brasil (Estado Democrático de Direito)…hoje, amanhã e sempre”.
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