Atrito com Igreja Católica deixa Bolsonaro refém dos evangélicos

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Publicado Quarta, 13 de Outubro de 2021 às 11:45, por: CdB

A reprimenda pública do arcebispo pegou Bolsonaro de surpresa, uma vez que estava com a agenda fechada na visita ao Santuário Nacional Aparecida e não pode voltar atrás. No momento em que chegou, foi recebido por um coro de vaias e gritos de ‘Fora, Bolsonaro!’, seguido de manifestações de apoio.

Por Redação - de Brasília e São Paulo
Quanto mais próximas ficam as eleições presidenciais, agora a menos de um ano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vê reduzidas as alianças que o conduziram ao Palácio do Planalto. Refém da parcela mais à direita entre os evangélicos, amplamente minoritária entre as outras denominações protestantes, Bolsonaro vê sua rejeição entre os católicos disparar, após o discurso do arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, que serviu como uma forma de o Vaticano se afastar, o quanto antes, dos destinos de um mandatário orientado por traços neofascistas.
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Renato Bolsonaro (D), irmão do presidente, funciona como uma espécie de lobista no interior do Estado de São Paulo
Na manhã desta quarta-feira, um dia depois da pregação de dom Orlando contra seu discurso armamentista, o presidente voltou a defender a venda indiscriminada de armas à população; além das pautas negacionistas quanto à pandemia da covid-19, durante discurso no município paulista de Miracatu (138 km de São Paulo), em seu programa de promoção eleitoral em pleno expediente. Na véspera, durante a principal missa do Dia da Padroeira, em Aparecida, dom Orlando Brandes pregou: — Vamos abraçar os nossos pobres e também nossas autoridades para que juntos construamos um Brasil pátria amada. E para ser pátria amada não pode ser pátria armada. O arcebispo alertou contra o armamento da população, o discurso de ódio e as notícias falsas, depois de defender a ciência e a vacinação contra o novo coronavírus. A reprimenda pública pegou Bolsonaro de surpresa, uma vez que estava com a agenda fechada na visita ao Santuário Nacional Aparecida e não pode voltar atrás. No momento em que chegou, foi recebido por um coro de vaias e gritos de ‘Fora, Bolsonaro!’, seguido de manifestações de apoio. No momento em que assistia à missa, ouviu um sermão sobre a situação econômica catastrófica porque passa o Brasil, incluindo a fome, o desemprego e a pandemia. Governadores Numa tentativa de reduzir o desgaste, Bolsonaro levou um dia inteiro para responder à manifestação do religioso e nesta manhã, a seguidores, preferiu repisar os velhos argumentos. — Respeito os bispos, respeito a todos que tenham uma posição diferente da minha. Não é porque quando eu não quero uma coisa, eu acho que ninguém pode ter o direito de querê-lo. Nós devemos nos preocupar com a nossa liberdade, o bem maior de uma nação. Sem liberdade, não há vida. Mais importante que a própria vida, é a liberdade — argumentou. De volta ao tema da pandemia, alvo das críticas por parte de religiosos nas pregações em Aparecida durante todo o feriado, Bolsonaro também não inovou e preferiu retomar os ataques aos governadores e prefeitos que, em linha com as recomendações científicas, adotaram as medidas restritivas. — Talvez eu tenha sido o único chefe de Estado, do mundo todo, que teve a coragem de se insurgir contra essa política do ‘fique em casa’, contra os fechamentos, contra o lockdown (confinamento, em português), contra medidas restritivas, e atualmente também contra a vacinação obrigatória — argumentou, como se fosse algo positivo. Lobista Ainda nesta quarta-feira, Bolsonaro participou de cerimônia de entrega de alguns títulos definitivos e provisórios de propriedade rural para famílias assentadas no Estado. Ele chegou sem máscara e não manteve o distanciamento recomendado pelas autoridades da saúde ao cumprimentar a platéia. Na sequência do feriado, Bolsonaro aproveitou para visitar a cidade na qual o irmão dele, o comerciante Renato Bolsonaro, foi nomeado como chefe de Gabinete do prefeito local, Vinícius Brandão de Queiroz, conhecido como Vinícius do Iraque (PL). O familiar mora na localidade e tem lojas de móveis na região do Vale do Ribeira, a mais pobre do interior paulista, onde atua como uma espécie de lobista para os políticos nativos, na promoção de verbas federais. No Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Miracatu tem cerca de 20 mil habitantes e Bolsonaro foi o primeiro presidente da República, até hoje, a visitar a cidade e participar de alguma manifestação política. Por ser parente direto do mandatário, Renato Bolsonaro está impedido pela Legislação Eleitoral de ser candidato a qualquer cargo eletivo.
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