Anúncio de Doria esfacela o que restava do PSDB, avalia analista

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Publicado Quinta, 31 de Março de 2022 às 14:25, por: CdB

Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), a desistência de João Doria de sua candidatura à Presidência, mesmo que negada posteriormente, deixou óbvia a fragilidade da chamada ‘Terceira Via; na corrida eleitoral.

Por Redação - de São Paulo
Depois de anunciar que desistiria da candidatura ao Palácio do Planalto, o governador do Estado de São Paulo, João Doria, voltou atrás e resolveu renunciar ao cargo para concorrer à Presidência da República, apesar da falta de apoio nas pesquisas de opinião e mesmo internamente, diante da divisão do PSDB. O anúncio ocorreu durante discurso em uma reunião tucana.
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Doria falou por mais de meia hora antes de declarar que renuncia ao cargo, na esperança de ser candidato à Presidência da República
Nesta manhã, o tucano avisou aos seus aliados que também iria anunciar a desfiliação do PSDB, o que também não foi confirmado na entrevista coletiva concedida, nesta tarde. A decisão iria, praticamente, inviabilizar a pré-candidatura de seu vice, Rodrigo Garcia, à sua sucessão. Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), a desistência de João Doria de sua candidatura à Presidência, mesmo que negada posteriormente, deixou óbvia a fragilidade da chamada ‘Terceira Via; na corrida eleitoral. — O fato é que a ‘Terceira Via’ não decolou, seja com Doria, Ciro ou Moro, e os partidos estão cientes que terão de decidir entre apoiar Lula ou Bolsonaro. As pesquisas mostram que a disputa será entre dois, enquanto um terceiro nome dificilmente passará de 15%. A entrada do Alckmin na chapa com Lula mina qualquer chance de uma ‘Terceira Via’ — afirmou, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).

Ocaso tucano

O especialista afirmou, ainda, que a decisão de Doria de não concorrer seria “acertada”, uma vez que ele não decolou nas pesquisas. — Um candidato que tem esse desempenho tende a apenas desperdiçar recursos eleitorais. Na última semana, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, renunciou e deve ser o candidato, mostrando o racha dentro do PSDB. A própria prévia foi uma grande confusão, Doria colocou sua carroça à frente dos bois e o PSDB começou perdendo sua campanha eleitoral. Agora, é muito difícil acreditar que o Eduardo Leite dispute com um nome forte — acrescentou. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou, na última segunda-feira, que renunciará ao cargo e que permanecerá no partido. Ele deixa o governo próximo no dia 2 de abril, data limite dada pela Justiça Eleitoral para ter a possibilidade de concorrer à presidência da República.

A queda

A trajetória política de João Doria é um caso de rápida ascensão, mas também de uma queda vertiginosa. O tucano traiu Geraldo Alckmin, seu então padrinho político. Depois, abraçou Jair Bolsonaro (PL), em 2018, e arrumou diversa brigas com figuras do próprio partido. Agora, vive um embate interno com Eduardo Leite e pode ter problema com Rodrigo Garcia, que recebeu a promessa de ser governador e sucessor no cargo. — Essas figuras políticas que surgem no meio de comunicação, cresceram como outsiders, agora perderam força. Houve o esgotamento do discurso daqueles que se alçaram como “não políticos”, mas acabaram desgastados. Doria é o maior exemplo disso. Ele, com a tal visão de administrador, esqueceu que a política é pública, não é concentração de poder — afirmou Niccoli. Com ou sem a presença de Doria, segundo o cientista político, quem sai novamente perdendo é o PSDB, que vem de um fraco desempenho nas eleições nacionais de 2018 e sofre com nova instabilidade neste ano. Segundo o professor, essa queda tucana é fruto das ações antidemocráticas do próprio partido. — A decadência do PSDB ocorre quando Aécio não aceita o resultado das eleições de 2014. A partir disso, começou as mais diversas conturbações democráticas, como o impeachment e a prisão de Lula. O momento número um para uma democracia começar a ruir é a não aceitação de um resultado eleitoral — concluiu.
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