Alta no preço do leite e derivados puxa para cima os valores da cesta básica

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Publicado Terça, 12 de Julho de 2022 às 10:51, por: CdB

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconomômicos (Dieese), o leite registrou aumento em todas as capitais do país. A escalada mais expressiva ocorreu em Belo Horizonte e chegou a 23,09% na comparação com maio e 48,89% em relação ao ano passado. O impacto, no entanto, é sentido com intensidade em todos os Estados.

Por Redação, com RBA - de São Paulo
A alta no preço do leite nos supermercados brasileiros puxou para cima os valores da cesta básica no mês de junho e deve continuar pressionando o bolso das famílias. A explicação para esse cenário passa por um conjunto de fatores diversos, que se encontram em um denominador comum: a falta de políticas governamentais para garantir o abastecimento.
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Normalmente sujeito a variações em função da sazonalidade, o preço do leite sobe em todos os Estados do país
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconomômicos (Dieese), o leite registrou aumento em todas as capitais do país. A escalada mais expressiva ocorreu em Belo Horizonte e chegou a 23,09% na comparação com maio e 48,89% em relação ao ano passado. O impacto, no entanto, é sentido com intensidade em todos os Estados. Os valores do litro do leite nas gôndolas podem passar de R$ 8. — Há varias questões que implicam muito fortemente, não só no preço do leite, mas também de outros produtos, em particular os alimentos no Brasil — afirmou Gilmar Mauro, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).

Soja e café

Mauro explica que alimentos, no geral, sofrem os impactos de um "processo quase de naturalização de uma dolarização da economia brasileira". Produtos como soja e café - que fazem parte da lista de commodities e são comercializados internacionalmente seguindo as regras e valores do comércio global - "exercem pressão brutal sobre o uso da terra brasileira e impactam em outros produtos, como o leite, o feijão e assim por diante." Exportações são isentas de impostos e a venda em dólar é mais vantajosa para produtores do que o abastecimento do mercado interno. Sem incentivos para vender a preços justos para a população, a tendência é que a produção brasileira foque em commodities, e não em alimentos. — Quem produz para exportação obtém, primeiro, grandes financiamentos públicos, coisa que a agricultura familiar não tem. Segundo, isenção completa de pagamento de impostos. Obviamente, toda a cadeia do agronegócio, dominada por grandes empresas, vai buscar o mercado internacional — acrescentou.

Cadeira leiteira

É nessa conjuntura que quem produz leite no Brasil encontra dificuldades crescentes para manter negócios destinados ao abastecimento interno. A dolarização da economia e a elevação da taxa de câmbio aumentam os preços dos insumos necessários para manter a criação. A produção já costuma ter altas sazonais por causa do período anual de estiagem, que acontece no inverno em boa parte do país. Para piorar o cenário, não há assistência governamental suficiente para enfrentamento das consequências de secas históricas que atingiram especialmente a região sul recentemente. De acordo com a Embrapa, em dois anos houve alta de 62% nos custos para produtores e de 43% consumidores. — Nesses últimos três anos, o preço do leite não reagiu. Em contrapartida, tudo aquilo que é custo para a produção de leite aumentou. Se falarmos na soja e no milho, que fazem a ração, tudo aumentou. Se falarmos em em adubo, três anos atrás estava R$ 80 a R$ 100, hoje está R$ 300 — resumiu o produtor Sebastião Vila Nova, presidente da Cooperoeste, cooperativa que atua na maior bacia leiteira do Estado de Santa Catarina, um dos grandes produtores do Brasil. 
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