Agência estatal lembra Dia da Mentira, mas sem citar Bolsonaro

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Publicado Sexta, 01 de Abril de 2022 às 13:25, por: CdB

Apesar da permissão lúdica no dia 1º de Abril, segundo a Agência Brasil (ABr) “a mentira pode se tornar hábito e degradar relações sociais. Em tempos de ampla difusão de conteúdos na internet, uma mentira pode ser considerada até mesmo fake news.

Por Redação - de Brasília
A agência oficial de notícias do governo de Jair Bolsonaro distribuiu nesta sexta-feira, 1º de Abril, o infame Dia da Mentira, um resumo sobre a origem da efeméride sem citar, no entanto, uma só vez que o mandatário faltou com a verdade. ”Histórias, ‘causos’, balelas, invencionices ou, simplesmente, mentiras”, diz o texto, ao mesmo tempo em que ressalva que em excesso, podem indicar transtornos psicológicos graves, além de trazer sérias consequências para quem conta.
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O ministro Alexandre de Moraes determinou que Bolsonaro preste depoimento à Polícia Federal sobre mentiras ditas em público
Apesar da permissão lúdica no dia 1º de Abril, segundo a Agência Brasil (ABr) “a mentira pode se tornar hábito e degradar relações sociais. Em tempos de ampla difusão de conteúdos na internet, uma mentira pode ser considerada até mesmo fake news - notícias falsas ou com dados manipulados deliberadamente para enganar ou enviesar as conclusões do leitor - e ser punida legalmente”. E ouve o psiquiatra Ilton Castro, o qual estipula diferentes níveis de mentira: há aquelas que suavizam realidades e as que são usadas para usufruir benefícios em detrimento de outras pessoas. Há também a condição psicológica conhecida como mitomania, definida pelo uso compulsivo de mentiras. Mais uma vez, Bolsonaro não foi citado como principal exemplo, no país, de quem dissemina notícias falsas.

Redes sociais

Diferentemente da ABr, nas redes sociais a hashtag #ForaBolsonaro esteve entre as mais aplicadas nesta sexta-feira, para relembrar as falsidades ditas pelo presidente, durante a sua gestão. A ação nas redes sociais está sendo promovida pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro. Até agora, em 1.185 dias como presidente, Bolsonaro já deu 5.145 declarações falsas ou distorcidas, segundo o site de checagem Aos Fatos. Entre elas, a de que “não há mais corrupção no Brasil”.  Uma das frases mais repetidas é que em seu governo não há corrupção. “Três anos e três meses em paz nessas questões (corrupção)”, disse o presidente 191 vezes. Frequentemente, funcionários da gestão são alvos de denúncias e investigações sobre casos de corrupção e outros crimes relacionados à administração pública. No caso mais recente, o agora ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, é investigado por um suposto esquema corrupção dentro da pasta envolvendo a distribuição de verbas para prefeituras intermediada por pastores.

Família

Mas, antes mesmo de chegar à Presidência, o nome do capitão reformado esteve envolto em denúncias de corrupção. Enquanto deputado federal, Bolsonaro, seus filhos e aliados foram acusados de praticar a famosa “rachadinha”, empregando funcionários fantasmas que devolviam parte de seus salários para a família. O caso que ganhou maior repercussão envolve Fabrício Queiroz, que fez movimentações bancárias na ordem de R$ 1,2 milhão, incluindo o envio de cheques para a primeira-dama, Michele Bolsonaro. No ano passado, os casos que tomaram os veículos de comunicação envolveram o suposto esquema de corrupção na aquisição de vacinas contra a covid-19, que transformou o Ministério da Saúde em um balcão de negócios. Nomes como do ex-ministro Eduardo Pazuello, do ex-secretário-geral da pasta Élcio Franco e do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), ganharam espaço na mídia. Todos são próximos do presidente Jair Bolsonaro.

Pandemia

Durante toda a pandemia, o presidente também deu declarações falsas e enganosas sobre a pandemia. Bolsonaro relacionou, inclusive, a doença a uma “gripezinha”, e fez uma campanha contumaz contra o isolamento social, além de propagandear medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19 pela ciência. Bolsonaro chegou até mesmo a solicitar a eficácia da proxalutamida contra a covid-19. O medicamento, indicado para tratamento de câncer de próstata e de mama, não é aprovado para uso contra o coronavírus em nenhum lugar do mundo. Sem citar fontes, o presidente defendeu que a droga "têm apresentado melhora" em "alguns países". Em abril de 2020, no início da pandemia no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) enviou ao Ministério da Saúde e ao Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 uma nota informativa desaconselhando o uso de hidroxicloroquina no tratamento para coronavírus.

Urnas eletrônicas

Em diversos momentos, Bolsonaro e seus aliados também disseram que as urnas eletrônicas não são seguras e que, por isso, seria necessário implementar o voto impresso no Brasil. Recentemente, ele afirmou a seus aliados em evento que, nas eleições deste ano, haverá contagem de votos em decorrência da suposta fragilidade do sistema eleitoral brasileiro. Em março de 2020, Bolsonaro disse que as eleições presidenciais brasileiras de 2018 tinham sido fraudadas, com adulteração do resultado do primeiro turno, tirando-lhe a vitória antecipada que teria obtido nos votos. Desde então, ele repete que irá apresentar "muito brevemente" as provas do crime eleitoral que denuncia. Mais de um ano depois, ele admitiu que não tem provas sobre suposta fraude, mas não deixou de acusar o sistema de fraudulento. Na ocasião, em junho de 2021, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rebateu as acusações e explicou que a própria urna eletrônica realiza apurações automáticas, em processo público e auditável.

Golpe de 64

Bolsonaro também faz a defesa irrestrita do Golpe Militar de 1964, que completa 58 anos entre estas quinta e sexta-feiras. O presidente aproveitou o dia para celebrar a data pelo quarto ano seguido em seu governo. — Hoje são 31 de março, o que aconteceu nesse dia? Nada. A história não regista nem um presidente da República tendo perdido seu mandato neste dia — afirmou Bolsonaro. O golpe, no entanto, destituiu o então presidente João Goulart, que se exilou no Uruguai. No dia 2 de abril, a Presidência foi declarada “vaga” e ocupada, posteriormente, de forma interina, pelo presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Na prática, o poder ficou nas mãos dos militares.
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